O primeiro e único dia completo em Podor foi aquilo que tinha idealizado: um tempo de repouso de descontracção, com a calma desta simpática localidade a pautar o ritmo e a Mauritânia, do outro lado do rio, a espreitar.

O pequeno-almoço foi tomado nas calmas, no pátio do edifício. Comemos com os franceses mas de alguma forma o ambiente estava diferente, mais frio. E de uma forma literal também! Toda a gente nos tinha avisado sobre o calor de Podor, mas nesta altura do ano foi na realidade o local mais fresco do Senegal por onde passei. Também é verdade que em duas semanas senti claramente a evolução do clima. Aliás, em apenas uma semana. Quando passei por Dakar o calor era muito, mas à despedida, antes de voar para a Europa, já estava uma temperatura bem moderada.

Passei algum tempo a explorar a biblioteca do albergue. Os franceses entretanto foram para um passeio e não os voltei a ver. Do meu terraço observei as andanças de fronteira. É que o posto era, literalmente, do outro lado da rua. Um posto novo, cheio de estilo. Não percebi ao certo a dinâmica da fronteira. Quem é que a passava? Com que objectivo? Acho que algumas das mulheres que vendiam pequenas coisas em Podor eram mauritanas. Que pena ser necessário visto para entrar naquele país…

Uma canoa faz a travessia ao longo do dia. Os passageiros passam pelo posto de fronteira. Aguardam-nos, aos que necessitam, algumas carroças de burros, especialmente úteis para os que transportam cargas.

Vamos passear ao longo do antigo cais. É um local bucólico. Os velhos armazéns e casas de comerciantes abastados estão quase todos em ruínas. Apenas o nosso albergue e um outro, que é um hotel com algum luxo e onde nestes dias nunca vi ninguém, são os únicos recuperados. No fim, a uma esquina, o famoso bar da luz encarnada. E digo famoso porque o português que tinha encontrado no supermercado em Saint Louis tinha desaconselhado: “Está cheio de bêbados muita chatos”.

Mais umas passeatas por Podor sem nada de especial a assinalar. Compra-se pão e mantimentos numa mercearia instalada no único prédio relativamente moderno de Podor. Que bom preguiçar assim, o dia inteiro. E que satisfeito estou por ter feito questão de vir até Podor e, mais do que isso, passar duas noites por aqui. Gosto mesmo deste local, aconselho, é um descanso em todos os sentidos, e interessante, muito interessante.

As horas vão passando e ao fim da tarde vamos dar outro passeio, tentar recolher mais informações sobre o transporte para Dakar, porque até ao momento toda a gente tem algo de diferente a dizer sobre o assunto.

É então que conhecemos o Barri. Um senhor. Cantor, comunicador. Falamos um pouco, dizemos que vamos à “garage” perguntar sobre transportes para Dakar e ele oferece-se para vir também. Dizemos que não vale a pena, já antecipando uma abordagem final pedindo qualquer coisa pela ajuda. Mas ele diz que de qualquer modo não tem nada para fazer e vamos caminhando, conversando.

O Barri transformou um fim de dia comum num serão muito interessante. Fomos a casa do chefe da “garage” e reservámos um carro para o dia seguinte. Para nada, porque na manhã não apareceu carro algum nem ninguém que soubesse do assunto. Depois fomos andando pelas ruas. Entrámos numa loja e noutra. Fomos apresentados a pessoas. Passámos um bom bocado no estúdio de fotografia de um simpático jovem Mauritano.

O Barri cantou para nós, e o vídeo encontra-se aqui neste artigo, mais abaixo. Foi muito agradável. Mas a hora de despedida tinha aquele episódio recorrente. Se podíamos orientar 1.500 CFA. Não é nada, mas sempre me incomoda. Choques culturais, valores diferentes. Venho de uma civilização onde a amizade não se comercializa, onde o que é oferecido é mesmo oferecido. Nada de mais.

Acabámos por não dar. Fiquei com pena. Não sei, é um assunto que me deixa sempre dividido.

E agora, o grande Barri, ao vivo, desde Podor, Senegal:

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