Chegava o dia de deixar Granada, um local de emoções fortes e experiências intensas. Para mim, claro. E o destino era Léon, o que me deixava uma preocupação: ir a Manágua. As capitais centro-americanas têm alguns riscos adicionais e bem reais. Evitei-as ao longo de toda esta viagem, pelo que li e ouvi, por informação que recolhi, não do diz que disse, mas de viajantes. E do pouco que vi, fiquei satisfeito em tê-lo feito.

A apreensão com Manágua ficou diluída quando me disseram que para seguir para Léon não tinha que sair do sítio onde o autocarro de Granada me deixaria. Menos mal. Despedi-me então do hostel Floresta Negra que ficará para sempre no meu coração e onde espero poder voltar um dia, e fui à descoberta do transporte para a capital nicaraguense. Encontrado sem problemas, apesar do terminal ser diferente, não o que usei na véspera para ir até Catarina.

O dia está bonito, sigo sentado no banco de trás, junto à janela. Passo junto ao acesso de um local que gostaria de ter visitado mas que considerei ser demasiado arriscado, uma prisão abandonada, usada pela Guarda Nacional do presidente Somoza. Mais à frente entra uma enorme vespa pela janela do mini-autocarro, gerando algum pânico, antes de se alojar no vidro mesmo ao pé de mim. Rico serviço. Logo os vizinhos me passam um jornal enrolado, como quem diz… “trata tu dela que a gente fica a ver”. E lá lhe dei um cacetadão eficiente.

A viagem até Manágua é rápida. Afinal Masaya e Granada pouco mais são do que arredores. Certamente muita gente irá dali trabalhar todos os dias à capital.

Ainda no autocarro, já a chegar, um homem local deve ter tido pena de mim, pobre cordeiro atirado aos lobos de Manágua, e perguntou-me para onde ia. Para Léon, pois. Afinal não era exactamente no mesmo local, bem poderia esperar sentado. Mas era logo à frente, sei lá, 100 ou 200 metros acima na agitada avenida. Indicou-me com toda a precisão, assegurando-se que não havia margem para erro ou dúvidas.

No posto de camionagem assinalado havia uma pequena multidão, uma bilheteira, um quiosque e algumas carrinhas tipo Hiace, mas com bom aspecto, que chegavam e partiam. Lá me orientei, comprei bilhete, esperei pela próxima, que não demorou muito a aparecer. As ligações são constantes, quase parecia o metropolitano. Mas a “fauna” que vi por ali era medonha.

Calhou-me nas sortes o lugar da frente, ao lado do condutor e com outro passageiro ao meu lado. Não era mau de todo, mas preferiria a janela, claro, não só pelas vistas, mas também porque ali ia espetado como uma espada, a cabeça a tocar no tecto, e para ver qualquer coisa, mesmo para a frente, tinha que me baixar.

Cheguei a Léon. Ainda é algum tempo na estrada, um bocado seca. A viagem não é especialmente bonita, os condutores são um bocado tresloucados. Não posso dizer que tenha sido um pedaço agradável desta viagem.

Depois de Granada, Léon foi um choque. Tem pouco daquele ambiente provincial, relaxado, calmo. É mais cidade. Há caos, trânsito, barulho, poluição. Com o tempo aprendi a gostar também de Léon e considero-a essencial numa visita à Nicarágua, mas o primeiro contacto foi negativo.

A estação de autocarros fica algo afastada do centro, sei lá, algo como 2 ou 3 km. Vim caminhando, sem problemas para além do calor intenso. Suando. Atravessei a zona histórica para chegar ao meu hostel (ver fotos abaixo), bem localizado mas ligeiramente do outro lado. Gostei do hostel Casa Ivana. Não tanto como da Floresta Negra em Granada, isso seria quase impossível. Mas está-se bem. Está bem lotado com outros viajantes, mas boa onda.

 

 

Agora que estava instalado, havia que comer. Fui encontrar um restaurante tipo buffet, mesmo ao virar da esquina. Por quase nada enchi a barriga e a comida era deliciosa, bem regada por um sumo de tamarindo. Tomei nota mental para regressar, mas não consegui. Ou estava fechado ou tinha fome noutras partes da cidade… os astros não se alinharam, mas bem tentei.

Alojamento garantido e barriga cheia. Estava em condições de sair à descoberta de Léon. Andei pelo centro reparando nas coisas. Há as bonitas igrejas, sendo que a minha preferida é a Igreja da Recolecção, essa amarelona que aparece na imagem de topo desta página do diário. Mas também a Catedral, mais central, onde se pode aceder ao telhado, como veremos no dia seguinte. Mas há mais, como a Igreja do Calvário ou a Igreja La Merced. Todas elas merecem uma visita, mesmo de quem não costuma ligar a estas coisas.

Tentei visitar o Museo de Leyendas y Tradiciones, instalado numa antiga prisão da Guarda Nacional de Somoza, mas já estava fechado. E assim sendo mantive-me a vaguear. Encontrei uma igreja em ruínas, arrasada na batalha por Léon, durante a Guerra Civil. Na realidade esta foi a primeira cidade de dimensões consideráveis a cair nas mãos dos rebeldes Sandinistas. Chamava-se Igreja de São Sebastião, tinha sido construída no século XVII, mas não resistiu aos confrontos de 1979.

Andei mais pelas ruas, encontrei alguns cantos tranquilos, mais na linha do que me tinha habituado em Granada. Passei em frente a um quartel de bombeiros, dotado com velhas viaturas (ver foto mais acima) enquanto regressava ao centro histórico. Já começava a gostar mais de Léon.

 
 

 

Mesmo no centro há um local onde todas as tardes se serve comida, uma feira de grelhados, com mesas ao ar livre. Nunca cheguei a comer por ali, mas todos os dias que estive em Léon fui espreitar. Nas redondezas há um mercado. Também cheio de vida. De resto, depois do trabalho, a cidade enche-se ainda mais. As pessoas saem para as ruas em vez de regressarem a casa. Há um ambiente de festa eterna.

Quando a noite chegou continuei a apreciar a cidade o seu ambiente. A luz tornou-se mágica. Tirei algumas fotos interessantes. Tinha sido um dia bem preenchido e ali estava eu, num daqueles que tinha sido antevisto como um ponto alto da cidade. Acho que nunca chegou a sê-lo, mas quando deixei Léon para trás as memórias eram mesmo assim doces.

 

 

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