Foi uma noite muito bem dormida, esta primeira em Andorra. Não só estava arrasado, depois de uma quase directa e de uma longa viagem ao volante, como o ambiente era adequado, uma quietude admirável, uma cama e um colchão bem confortáveis. Foi um fartar de repousar e um acordar agradável, já a pensar no pequeno-almoço.

E a realidade não ficou a dever anda à antevisão: a refeição da manhã no hotel Mila era espectacular, farta em quantidade e e variedade.  Lá fora o dia estava um pouco cinzento mas nada de especialmente preocupante. De resto, o clima nestes dias de Andorra foi generoso. Nunca choveu e chegou a haver momentos de esplendoroso céu azul.

O carro tinha ficado a dormir na garagem do hotel. Estava vazia, ainda bem, porque na época alta deve ser complicado manobrar e há mesmo quem diga que não encontrou lugar para estacionar, o que num país onde os parquímetros, não sendo caros, estão por todo o lado, pode ser complicado.

Esqueci de dizer, fiquei alojado na periferia de uma localidade chamada Encamp, que muito recomendo: é dos pontos mais centrais de Andorra, permitindo expedições simplificadas em todas as direcções e além disso é agradável, com muitos pontos de interesse e um ambiente desenvolvido mas relativamente pacato.

Depois do fausto pequeno-almoço fomos então buscar o carro e conduzi para Canillo, que vinha assinalada como uma das povoações mais bonitas do principado mas que sinceramente não me encantou nada. Estava a gostar do dia e de Andorra, refrescante, depois da Argélia, literalmente e figurativamente. As temperaturas estavam frescas mas agradáveis e era uma delícia conduzir em estradas boas e com tudo bem organizado.

Deu para parar várias vezes, para ver uma queda de água, a igreja românica de Sant Joan de Caselles (as igrejas românicas são a grande atracção de Andorra, é o elemento mais frequente para visitar) e uma outra pequena capela do mesmo estilo. Depois meti-me por uma estradinha que entrava pela montanha dentro e tive outra sensação, de isolamento, que foi inédito até então numa Andorra muito mais populosa do que imaginava. Mais umas quedas de água.

Tinha sido uma boa manhã. Agora fui ao supermercado, indicado pelo homem da recepção do Mila. Era lá perto, de facto, e gostei bastante. Afinal do quê que não gostei em Andorra…..   portanto, preços muito porreiros a contradizer o medo que levava de as coisas serem caras. Nada disso. Compras feitas com jeito e se alguma coisa acabei por gastar menos dinheiro do que em Portugal e os produtos eram variados e bons. Gostei mesmo! Deu para voltar ao hotel com um saco cheio de iguarias e preparar um picnic no quarto, com aquela vista fabulosa para o vale de Encamp e para as montanhas do outro lado.

Foi então tempo de um pouco de ronha, um reforço ao bom descanso da noite. Investigar um pouco pela internet, tomar notas de locais a ver, enfim, aquela recolha de informação para que não tinha havido muito tempo perante a mais exótica Argélia que exigiu outra atenção.

Terminado o repouso, fomos então até Encamp, cujo centro ficava a uma distância que pedia a utilização do carro. A ideia era visitar a Casa-Museu Cristo, que foi encontrada depois de algumas dificuldades. À porta um tipo com aspecto de viking conversava com o senhor que varria ruas. O Viking era o conservador e guia da casa. Uma simpatia máxima, a receber-nos muito bem e a mostrar-nos os cantos à casa, tornando a visita algo ainda mais interessante do que de qualquer forma seria. Grande enquadramento histórico, detalhes escondidos que foram revelados, boa conversa, numa mistura de castelhano e português. Em suma, excelente momento e uma recomendação muito forte para visitar esta casa. Ainda por cima é a única do género onde fotografias são autorizadas, e não me fiz rogado. Note-se que se tratava de uma habitação de pessoas com algumas posses mas sem o fausto dos grandes proprietários.

De seguida visitámos o Posto de Turismo de Encamp, mesmo ali à esquina, e mais uma vez pude ver a organização e eficiência com que as coisas são feitas em Andorra: o material de apoio é imenso, com mapas e livros, explicando rotas, mostrando percursos históricos na localidade. Fica-se com a ideia que só na freguesia de Encamp se poderia passar uma semana sempre a ver coisas.

Mas para já demos apenas uma volta a pé pelo centro histórico, vendo alguns dos edifícios antigos mencionados no livrinho que trouxemos do turismo. E depois foi regressar ao carro, que tinha ficado num parque pago, mas como disse, em Andorra tudo é pago mas com preços razoáveis, que acabam por não doer nem fazer diferença.

A seguir conduzi até outra aldeia que tinha referenciado como interessante e desta vez não fiquei desapontado. Ordino é encantadora, chegando-se até lá depois de passar um túnel, o que é relativamente recente, e outra povoação, bastante movimentada, que é La Massana.

Mais uma vez, carro parqueado sem problemas, moedinha na máquina, bilhete no tablier. Ordino tem um centro histórico encantador, com uma velha quinta que entretanto foi absorvida pela cidade evolvente e muita construção característica da região, feita em pedra.

Ao andar pelas ruelas descobrimos um espaço cultural onde havia uma exposição fotográfica sobre a Índia e onde iria ter lugar a projecção de um filme, estando já algumas pessoas sentadas a aguardar. Uma boa surpresa!

A rua principal de Ordino tem esplanadas e ali existe outra casa-museu, a d’Arany-Plandolit, que visitaríamos no dia seguinte (aquela hora já estava fechada). O ambiente era encantador, descontraído, com pessoas tranquilamente bebendo cerveja nas mesas colocadas no exterior, apreciando a companhia de amigos e a excelente vista. Deu para perceber que gostei mesmo de Ordino? 🙂

Passa pelo meio da povoação um riacho de águas cristalinas, cercado de frondosas árvores e, de espaços a espaços, por áreas relvadas e ajardinadas. É tudo muito calmo e agradável. O céu limpou com o decorrer do dia e a temperatura é agradável, não para andar de t-shirt e isso, mas para passear.

A tarde já vai avançada, começa a ser hora de pensar em regressar ao hotel. Vamos buscar o carro mas em vez de seguir directamente para Encamp há ainda tempo de conduzir até ao topo de um morro que fica a caminho e onde tinha avistado, de cá de baixo, uma capela prometedora.

Há uma pequena localidade ali junto, Sant Cristòfol d’Anyós, mas a capela está mesmo no cimo e o lugar é mágico, especialmente aquela hora. O sol vai descendo, as vistas são imensas, até ao infinito, com a cadeia de montanhas nevadas bem lá ao fundo. Uma excelente forma de encerrar o dia.

 

 

 

 

 

 

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