E de novo abrir os olhos e ver aquela magnífica paisagem, os vales e as montanhas de Andorra, mítico, de Inverno ou de Verão. O dia é belo e aguarda-nos para mais descobertas pelas terras do Principado.

Vamos já de manhã refazer os passos da tarde da véspera, conduzindo até Ordino, para visitar a Casa Museu d’Areny Plandolit. O caminho é agradável e usar as estradas de Andorra é sempre um prazer. O carro fica parqueado no local já conhecido, onde se mete moedinha, mas a preços razoáveis que não fazem doer nem revoltam.

A aldeia está tão agradável pelo fresco da manhã como a encontrei na tarde anterior. Vamos então até à Casa-Museu. Paga-se e espera-se um pouco para o início da visita. É guiada e privada. Esta casa é diferente da que visitámos em Encamp. Essa outra era de uma família relativamente modesta, enquanto esta agora pertenceu a uma das famílias mais abastadas da região. As histórias e detalhes apontados pela guia são interessantes, achei a experiência fascinante e recomendo, com a nota negativa da proibição de tirar fotografias, o que a mim me perturba sempre bastante.

O exterior da casa, que nos foi indicado após a visita, é igualmente agradável, destacando-se ali um pombal medieval, usado para recolher excrementos daquelas aves para fertilização dos campos de lavra.

Ainda reparei em mais umas coisas nesta bonita aldeia, como o relógio de sol existente na rua principal e a paisagem que dali se desfruta, com alguns picos nevados a surgir no horizonte.

O objectivo que se seguia era um lago de montanha, não muito longe do nosso alojamento mas que por aquele lado só era acessível em regime de caminhada, sendo necessário andar 2 km do ponto de estacionamento mais próximo.

A sugestão tinha sido deixado pelo simpático colaborador do hotel que serve os pequeno-almoços, mas tinha deixado de fora a informação sobre a caminhada. De forma que conduzi por ali acima, para depois fazer o sentido inverso. E porque não caminhar, ainda para mais 2 km não é nada? Porque simplesmente o tempo, em apenas três dias completos de Andorra, tinha que ser gerido.

Mas agora estava decidido a encontrar o tal lago. Vai daí, toca de ir à volta, indo basicamente até Andorra Velha para depois iniciar a ascensão a partir dali. Lá chegámos. Não sei se valeu a pena. O lago não era grande coisa, minha opinião, mas o caminho até lá, e depois o regresso, foi bem bonito.

Lá em cima havia amplo espaço de estacionamento. Deu para dar um passeio na orla da superfície de água, rodeando-a completamente. Sentadas na relva havia pessoas. Um grupo relativamente grande fazia um piquenique. Uma jovem lia junto à sua bicicleta. Vi um casal de namorados e um par de meia-idade que tinha ido fazer um passeio. Havia harmonia no ar e uma onda muito positiva. Tranquilidade.

Em redor, o clima continuava a ajudar. A temperatura, ligeiramente fria, encorajava à caminhada e o céu estava repleto de variantes, envolvendo azul e tonalidades de cinzento. Terminado o círculo, hora de regressar.

Aquele troço de estrada é muito interessante, oferecendo toques de ruralidade que não são frequentes em Andorra. Vejo campos de cultivo, casas isoladas, aldeias. E uma igreja lindissima, plantada junto à estrada, que me tomou longos minutos de fotografia.

Regressámos ao hotel, depois de uma passagem pelo supermercado, para comer qualquer coisa e relaxar um bocado, antes de um final de tarde na capital, Andorra Velha.

A ideia era visitar mais uma casa-museu, a Casa de La Vall, que como viria a descobrir tinha sido sede do Parlamento do Principado, Tribunal e Prisão. Mas antes disso, um micro-drama: carro deixado num parqueamento subterrâneo, a pagantes. Vimos para cima, chegamos à Casa, agendamos a visita guiada para dali a quinze minutos quando… descubro que não tenho comigo o bilhete do estacionamento. Certamente ficou no carro, mas por descargo de consciência vou até lá abaixo. Só que não estava. Perdi-o. Nisto vejo dois guardas do local, e pergunto-lhes o que se pode fazer, como e agora… “agora, bem, agora são 24 Euros”. Ouch. Isto ia sair-me caro.

Ou talvez não, porque a boa gente percebeu bem que estava inocente e que tinha mesmo perdido o bilhete, de forma que me permitiram sair e voltar a recolher outro bilhete. Muita amabilidade. Eternamente agradecido.

Com este problema resolvido pude correr para cima, onde o guia já se impacientava. Bem, como na casa anterior não se podia fotografar, mas o guia era mesmo muito bom, falava inglês perfeito e aprendi imenso não só sobre a casa mas também sobre o Principado. Por exemplo, que o presidente de França, ironicamente, considerando que a França é uma República, é um dos dois príncipes de Andorra (o outro é uma figura eclesiástica).

Terminada a visita ficámos um pouco pela cidade. Primeiro sentados numa praça pública onde muito se passava, muita gente que ali queimava algum tempo ao fim do dia, crianças que brincavam e tudo o mais. O sol estava agradavelmente quentinho e a luz era maravilhosa. Mais um bom bocadinho passado em Andorra.

Depois foi caminhar um pouco pelas ruas da cidade, que não me cativou especialmente mas que num contexto tão favorável me deixou uma boa memória. Parece parada no tempo, faz-me lembrar as cidades alpinas que tenho no fundo da minha memória de leitor de banda desenhada francesa nos anos 70.

Esta seria a última de três noites em Andorra e como todas as outras foi agradável e proporcionou um bom descanso, que se seguiu a um produtivo serão ao computador.

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