Este poderia ter sido apenas um dia de trânsito, de viagem de Kandy para Trincomalee. Trincomalee? Sim, geralmente conhecido por Trinco. Já para norte, em território Tamil, zona de combate durante os longos anos da guerra civil. Não estava no plano mas foi uma ideia formada à pressa, para substituir Jaffna, a cidade mais importante do Norte, mas tão lá em cima que desistimos de lá ir apenas com três dias para ficar.

A primeira boa notícia foi que havia autocarros directos para lá. Já estava disposto a uma ou mais escalas, mas não foi necessário. A segunda coisa boa foi que assim que chegámos à estação, detectámos logo um autocarro quase a partir. O dia estava a correr bem.

Seguiu-se uma longa viagem de cerca de seis horas, fatigante mas interessante. É sempre interessante. Entre as pessoas que vão entrando e saindo e as que estão lá fora, avistáveis pela janela, há sempre muito para ver. Uma pausa para descanso e voltamos à estrada. A música a bombar, o autocarro a rolar, o sol lá fora brilhando com grande sorriso. Trinco aproxima-se, vai chegando e… hum… oh… parece… digamos… um pouco a puxar para o feio. Chegam as dúvidas, terá sido uma boa decisão, escolher este local como última paragem no Sri Lanka, e logo por três dias…?

Por fim a estação, negociamos o serviço com os pessoal dos tuk-tuk, sem problemas, preço justo para o local onde vamos ficar. Ainda fica a uns quilómetros do centro, escolhido pelas excelentes pontuações dadas pelos utilizadores do Booking.com. No fim, não foi uma boa escolha. Era de facto muito afastado e será bom para o pessoal que vai para fazer praia, mas para mim não se revelou a melhor opção. Mas tudo bem, esteve-se optimamente.

Chegamos, excelente hospitalidade. Deu logo para perceber a cotação do alojamento. Um belo quarto, imaculadamente limpo, com uma temperatura perfeita, ideal para recuperar da canseira da viagem durante um bocado.

Depois saímos. Primeira paragem, o cemitério de guerra que tinha marcado no mapa e que por coincidência é mesmo ao pé da casa. A seguir era necessário visitar a estação de comboios para tentar apanhar um bilhete para uma cama na ligação nocturna para Colombo. Tentámos o autocarro local, mas ao fim de demasiado tempo passou um que não parou. Agora queria um tuk-tuk, mas se antes estavam por todo o lado, agora, que precisava, nada.

Tivemos que caminhar um bom bocado – com uma pausa numa banca de cocos para o retemperante sumo – mas conseguimos o nosso transporte. As notícias seguintes é que não eram muito boas: já não havia camas disponíveis no comboio. OK, obrigadinho. Sobre as outras opções vamos pensar. Mas provavelmente não.

Quando passámos para cima, para o alojamento, tinha visto aqui perto um cemitério semi-abandonado. Encontrei-o sem problemas, de facto muito mal tratadinho, um cemitério cristão, com lixo entre as campas e algumas vacas a pastar. Passeamos por ali um bocado e saímos pelo outro lado, que confina directamente com uma praia poluída, de pescadores.

Caminhamos pelo areal, estreito. É interessante mas não é agradável. Os cães são agressivos, ladram e muito. As pessoas também nos olham de forma estranha. É bem claro que os estrangeiros não são ali bem-vindos mas continuamos durante umas centenas de metros, até encontrar uma estradinha para fora da comunidade.

Consulto o GPS. O que tenho marcado a seguir é um templo Tamil. Vamos lá então ver isso. E é fabuloso. Enorme, colorido. Mais, passam-se coisas. Há qualquer coisa prestes a suceder… ou então já aconteceu. Há polícia, homens que limpam, farrapos de multidão, música. Sente-se a agitação no ar. Todo o ambiente é fascinante.

Um homem jovem, apenas com um pano enrolado envolvendo os genitais fala connosco, diz que estão a decorrer importantes comemorações, um festival hindu que sucede apenas a cada 57 anos, que para hoje as coisas estão mais ou menos terminadas, mas que deveremos regressar no dia seguinte de manhã. Fica prometido.

Agora saltei o muro de outro cemitério, bem no centro, logo a seguir ao templo. Este vinha referenciado no Rough Guide mas simplesmente não o tinha conseguido detectar no Google Earth. Contudo, uma vez no local, vi-o logo, era impossível ser de outra forma. OK, não é tão interessante assim. Ando um pouco entre as campas, volto a saltar o muro. Podemos prosseguir o passeio.

A paragem seguinte é na praia, onde o ambiente incrível se vive. Há imensas pessoas a celebrar aquele espaço público, famílias na areia, miúdos a lançar papagaios, grupos de gente a banhar-se, quase todos bem vestidos. E há as vacas, que andam pelo areal como se nada fosse, os nadadores a sério, vendedores de gelados e de petiscos. Que encantador tudo aquilo! E esta praia não tem nada a ver com a outra, dos pescadores. Aqui a areia está limpa, apesar de se verem alguns barcos de pesca puxados para terra firme. E as pessoas estão mais próximas da simpatia da terra que nos acompanhou ao longo da viagem pelo Sri Lanka.

 

 

Ainda entramos no forte, construído pelos portugueses, consolidado por holandeses e agora terreno militar, onde os civis podem ir desde que não se afastem da estrada que segue até à ponta, onde se encontra um templo hindu.

O portão é mágico, leva-nos a outros tempos, faz-nos sentir a História. Caminhamos um pouco mas está a fazer-se tarde. Será melhor voltar noutra altura. Vamos encontrar um tuk-tuk para casa.

Mesmo ao lado do nosso alojamento, um restaurante simples, que me trouxe à memória as refeições em Bangkok. Fomos experimentar, para jantar, e foi óptimo. A refeição estava óptima, os preços era bons e esteve-se bem ao serão.

Quando voltei a casa, o anfitrião estava sentado numa mesa no exterior, convidou-me para beber uma cerveja… bem precioso por ali… e contou-me a sua estória.

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