Teoricamente este seria um dia dedicado a Colombo, mas na prática não se alinharam os astros: estava um calor imenso e de qualquer modo a capital do Sri Lanka não é um local assim tão interessante.

Ainda fomos dar um passeio, parando numa pastelaria para o pequeno-almoço, chegando até a um lago junto ao qual se preparava uma parada qualquer, suspeito que de natureza religiosa. Num enorme campo vedado havia dezenas de elefantes acompanhados de tratadores. E cá for a também, junto ao tal lago. Pude ver os animais bem de perto, mas a curiosidade que os paquidermes despertavam aplicava-se também aos locais, que se aproximavam com a estranheza de um ocidental.

Mas estava tanto calor! Ficámos num relvado sujo e mal tratado, numa ilha daquele lago, à sombra que disfarçava mal a temperatura envolvente. Mas não se estava mesmo nada bem. Seria melhor regressar ao hostel e esperar por lá o final do dia e a hora de ir até ao aeroporto.

Um pouco de conversa com os companheiros de dorm, um conjunto heterogéneo: um tipo que nasceu na África do Sul mas se fez australiano com o tempo; um casal, ela inglesa inglesissima, enfermeira, e ele um bem musculado jamaicano, uma espécie de Bolt anónimo, engenheiro aeronáutico, em viagem de longa duração pelo mundo; e um viajante solitário de Hong-Kong.

Chegou o meio-dia, hora de checkout. Chaves entregues, mochilas transportadas para um espaço comum e preguiçar durante horas a fio, até à aproximação da hora. Sentado rodeado de garrafas de água, que bebo uma após outra, combate natural à gripe que ameaça instalar-se mas que é repelida com sucesso com este tratamento de água.

Saímos, apanhamos um tuk-tuk para a estação de autocarros. Muito trânsito, mas levamos imenso tempo para gastar. Logo encontrámos o autocarro certo, no ponto onde à chegada nos tinha largado. Parece uma eternidade, o tempo que passou desde que pusemos os pés no Sri Lanka. Tanta coisa aconteceu desde então….

O trânsito continua e com ele começa a desenhar-se um problema que pensava ter antecipado e prevenido: toda aquela água que fui bebendo ao longo do dia… tem que sair para algum lado, certo? Ora tinha parado a ingestão com a antecedência que julgava necessária, fui verter o resto mesmo antes de sair, e teoricamente a situação estaria resolvida por uma hora e tal, o tempo preciso para chegar ao aeroporto. Mas aquele engarrafamento estava a estragar tudo.

Aguentei até quando pude mas chegou a um ponto em que se tornou óbvio que não ia dar. O autocarro continuava parado no trânsito. É que não era uma marcha lenta ou um pára-arranca. Era parado mesmo.

Levantei-me, cheguei ao ajudante do condutor que estava lá sentado à frente, toquei-lhe num ombro e disse que tinha um problema. Olhar interrogativo. “Preciso de mijar”. Olhar interrogativo. “Mijar. Casa de banho”. Desta vez a mensagem foi entendida, e o olhar passou outra mensagem muda: “e o que é que queres que te faça?”. Eu, apontando lá para for a: “A parede. Serve de casa de banho”. O gajo olha para o condutor, que dá um ligeiro aceno de aprovação. OK, abre-se a porta do autocarro, salto lá para fora, atravesso duas faixas de trânsito parado e esvazio a bexiga sob o olhar atento de todo um autocarro que aplaude e de mais não sei quantos ocupantes de carros. Que alívio!

E pronto, foi acabar em grande a estadia no Sri Lanka. Logo depois entrámos na auto-estrada, e aí foi sempre a abrir, até ao aeroporto. Seguiu-se o voo para Kuala Lumpur, uma noite muito mal-passada, sem dormir literalmente nada.

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