Um dia de trânsito e sem fazer nada de relevante. Mandalay não é propriamente um poço de actividades interessantes. Aquilo foi acordar de uma noite mal dormida, passada entre o frio do ar condicionado e o calor da sua ausência, tomar um pequeno-almoço na pastelaria do lado e caminhar até a estação para uma bela notícia: bilhetes para Rangoon em carruagem-cama disponíveis! Magnífico!

Ao chegar ao hotelzinho o manager já tinha na mão outros bilhetes: do autocarro das duas horas para Hsipaw. Vão ser uns dias loucos, mas as 48 horas de KO devido à gripe & etc assim o ditaram. Era isso ou ficar na parvónia em Mandalay, porque de facto a segunda cidade da Birmânia padece de atractivos.

Nestes dias por lá não fiz nada mas fui estudando a lição: tudo é pago, e não é por menos, com bilhetes conjugados, mais caros, que induzem o visitante a ir a mais locais, mas pagando-os mesmo que não queira. Há o Palácio Imperial, bem no meio de uma base militar que tem que se atravessar a pé… mais de um quilómetro sob calor, para chegar lá e ficar desencantado, a acreditar na impressão maioritária dos testemunhos. E o Monte de Mandalay, talvez apelativo, mas a pagantes e, lá está, como o nome indica, é um monte e as temperaturas são elevadas… teria lá ido se o timing fosse certo, mas perante todo o cenário o plano foi traçado de outra forma.

O hotel arranjou transporte para a estação de autocarros. Tudo bem organizado. Myanmar impressionou-me por isto. Deve ter sido uma série de acasos positivos, mas ao longo de toda a viagem só encontrei mecanismos bem afinados.

E portanto, às 14:00 o autocarro estava em marcha. Que seca! Detesto autocarros, mas perante a promessa de “apenas” seis horas de viagem embarquei resignado à sorte. Um preço reduzido a pagar pelo bom andamento do plano.

De início parecia que ia correr tudo bem. Curva e contra curva, deixando Mandalay para trás, serra acima. Mas depois veio o enorme e nunca explicado engarrafamento. Uma linha a perder de vista de trânsito, que eventualmente avançou um par de vezes, mas não mais. Foram literalmente horas parados ali. E o relógio a andar, e a impaciência… mas afinal quando é que íamos chegar a Hsipaw…?  Caiu a noite e o caos mudou de aparência. Os pormenores perderam-se mas surgiu no horizonte, a perder de vista, uma infinita serpente encarnada formada pelas luzes traseiras dos milhares de veículos ali presos.

E de repente, sem razão, tão depressa como surgiu, o engarrafamento desapareceu. Sem sinais nem vestígios. Nada de obras na estrada nem traços de um acidente grave. Tudo começou a andar, cada vez mais rápido e por fim chegámos a Hsipaw, com umas duas horas de atraso.

 

 

Na realidade o percalço não teve consequências, para além do desconforto de estar mais duas horas sentado num autocarro cheio. O nosso hotel ficava próximo da “estação” de autocarros, que na realidade nada mais é que um ponto na rua onde eles param. Foi engraçado: as ruas estavam desertas, fazia frio e havia uma certa névoa, e lá iam aqueles estrangeiros, nós e os outros, uns três ou quatro casais, andando mais ou menos na mesma direcção, em busca dos respectivos alojamentos.

O hotel era excelente, o The Northern Land Hotel. Barato, pessoal super simpático, um quarto acolhedor e bem mobilado, impecavelmente limpo. Foi retemperante, chegar ali, depois do desconforto da viagem. Fiquei a pensar que seria bom ter tempo para permanecer pelo menos mais uma noite, para  usufruir destas condições impecáveis e conhecer melhor Hsipaw. Já lá iremos, mas digo já que as memórias desta terra são das melhores que trouxe desta viagem, não só de Myanmar mas dos três meses pela Ásia.

Dormi que nem um anjinho, sem barulho, no conforto de uma cama limpa e… lá está, confortável.

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