De manhã ainda chovia. Espreitei a previsão meteorológica e não fiquei nada satisfeito. Devia ficar assim durante toda a minha estadia em Singapura. Trovoadas e chuva. Preparei-me para uma permanência tranquila, a descansar, ler e avançar trabalho. Mas passado um bocado a chuva parou e aproveitei para sair, à descoberta da cidade.

A Felicia providenciou-me as chaves da casa, uma mochilinha de cidade, um cartão dos transportes, um SIM com 1 Gb de Internet e um guarda-chuva. Todos estes artigos seriam auxiliares importantes durante os meus dias de Singapura.

Caminhei alegremente para a estação de metro, um passeio de cerca de 700 metros que fiz todos os dias, uma vez para cada lado, sempre com boa disposição e um sorriso.

Não sabia bem onde ia. Para o centro. Mas as possibilidades eram imensas. Acabei por me decidir por Bugis, que se tornou o meu ponto de eleição para iniciar as explorações na cidade. Ainda pensei em deixar esse projecto para uma altura em que a chuva apertasse.

Saí para a superficie em expectativa. Tinha quatro dias inteiros em Singapura. Será que a cidade me ia tanto quanto esperava, ou seriam quatro longos dias de espera?

Gostei logo de Singapura. À chegada estava um pouco tenso, cansado, era de noite. Agora era diferente, tinha passado uma noite repousante, sentia a energia dentro de mim e muita vontade de explorar.

A chuva não tinha recomeçado. O céu estava cinzento mas a temperatura era boa e apetecia mesmo caminhar. Encontrei uma igreja e na sua câmara de entrada, o escudo de Portugal. Li que a Igreja de Macau esteve relacionado com a manutenção desta aqui e a casa paroquial se manteve basicamente em mãos portuguesas. Foi o meu primeiro encontro com uma constante destes dias de Singapura: a abundância de informação histórica.

Com os olhos postos no GPS improvisei uma rota, que fui adaptando a cada nova descoberta. A paragem seguinte surgiu por acaso. Chijmes, um antigo mosteiro, danificado pelas bombas japoneses durante a Segunda Guerra Mundial, hoje totalmente restaurado, com o seu espaço a ser usado de múltiplas formas.

E foi assim que fui explorando o centro histórico da cidade, visitando sucessivamente o clássico Hotel Raffles, o Clube de Críquete, o antigo posto central de correios, as primeiras pontes, o edifício onde agora se encontra o Museu de Civilizações Asiáticas. Vi monumentos e memoriais dedicados a diferentes grupos e causas, deliciei-me com as estátuas de rua, andei um pouco junto ao rio.

Depois atravessei-o e internei-me na moderna Singapura, de imponentes edifícios modernos, centro nevrálgico de negócios, moderna, executiva, atarefada. As pessoas aqui são essencialmente chinesas. As jovens mulheres vestem sexy, uma tentação para o olhar, por todo o lado. Dei por mim já muito mais longe do que esperava… tinha ido “só ali”, ver a actividade da cidade dos negócios e já ia acolá… dando a volta a uma superfície de água, com o céu muito carregado, a ameaçar forte trovoada. Mas não conseguia resistir. O ambiente estava fantástico.

Passei junto a um enorme centro comercial e a um museu de ciência instalado num edifício espectacular. Completei um imenso círculo e comecei a ficar cansado. Entretanto tinha começado a chover. Não tanto quanto as nuvens cor de chumbo ameaçavam mas sim, era chuva, e molhava. Acabei por me abrigar numa espécie de anfiteatro coberto, já perto do centro histórico, onde muitas outras pessoas se tinham abancado a descansar e a aguardar o fim do aguaceiro.

A chuva parou mesmo e consegui encontrar alguma energia para preencher ainda mais o dia: já que ali estava visitaria o Asian Civilisations Museu. Sabia onde era, tinha estado à porta e de resto era algo que estava na lista das minhas coisas a fazer em Singapura. Entrada gratuita mas não me impressionou. Confesso, é difícil gostar de um museu. Nunca foi a minha onda, e acho que trabalhar uma mão cheia de anos num criou-me uma espécie de estado de overdose permanente.

Dali caminhei e continuei a caminhar. A hora do “after business” tinha chegado, as pessoas passavam algum tempo junto depois do trabalho, enchiam as ruas. Passei junto a alguns edifícios históricos de Singapura, muito bem restaurados, muito imaculados. O céu continuava escuro. Andei junto a um dos canais, ou seria o rio, não sei. Passei em túneis pedestres cujas paredes se encontravam cobertas por grafitties artísticos. E cheguei mesmo ao sopé da colina de Fort Canning, o quartel-general dos ingleses, o local onde foi assinada a rendição aos japoneses durante a Segunda Guerra Mundial. Vi as bonitas esculturas semi-cobertas por plantas trepadeiras mas já não tive energia de entrar, de começar a subir o monte.

Dali procurei a estação de metro mais próxima. Tinha sido um dia em cheio e sentia que precisava agora de descansar. Ainda passei junto a um histórico quartel de bombeiros, mesmo ali à frente. Vi um cinema antigo, que tinha referenciado… gosto sempre deste tipo de coisa. Comprei uma Coca-Cola por um preço irrisório numa espécie de “loja de chineses” [neste contexto fica um bocado estranho escrever isto], precisava da hidratação e da energia. E cheguei ao metro.

Saí na “minha” estação, que aquela hora parecia um carreiro de formigas. Tanta gente a circular! E tanta loja com comida! Fiz compras em duas, depois de muito hesitar, incapaz de escolher entre as propostas apresentadas. Trouxe um batido com leite de soja e alguns bolos. Comi parte da “ração” ali mesmo, que estava esfomeado e o resto veio comigo para casa.

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