Continuo a apreciar este hostel em Yogyakarta. O Yogyakarta BnB, propriedade de um casal indonésio de viajantes. Pequeno-almoço pequeno mas saboroso, e pelo preço que custa a dormida, perfeitamente justo. Uma sobremesa que faz vagamente lembrar arroz doce agradavelmente queimado, um copo de sumo natural e fruta, ironicamente da que comprei na véspera.

Quero agora escrever uma nota paralela: porquê que estou em Yoggyakarta? Ao pensar esta viagem, dediquei duas semanas à Indonésia, mas sem saber bem onde ir, perdido na extensão do país, das suas dezenas de grandes ilhas, nas dificuldades logísticas. Yoggyakarta surgiu porque duas amigas minhas tinham por aqui passado e porque nas suas imediações existem os complexos religiosos de Borobudur e Prambanan, ambos considerados Locais Património Mundial da Humanidade da UNESCO. Mas se vinha com dúvidas, na hora de decidir resolvi não visitar estes locais, o que estará para além da compreensão de muitos dos meus amigos, mas tive que respeitar a pessoa que eu sou. A que dá um valor ao dinheiro de quem já passou privações (segundo os nossos padrões europeus, claro), a que se sente mal com multidões de turistas e a que não tem especial interesse por testemunhos materiais de um passado distante. Não, não iria a estes locais porque os preços são a valores que considerado exorbitantes, porque estão sempre cheios de turistas e porque não me dizem muito. Aproveitei para relaxar e colocar a escrita em dia no agradável hostel. E, claro, para ver o pouco que a própria cidade tinha de interessante.

A primeira paragem seria no Kraton de Yoggyakarta, sendo que Kraton é a designação para o complexo palaciano que existe em algumas cidades indonésias. Agora atenção, ò caros viajantes, que em Yoggyakarta há dois Kratons, que pelo que sei resultam de uma dissidência na exploração do espaço, sendo que quem vem do centro encontrará primeiro o “falso” Kraton, que não é propriamente falso, apenas muito modesto nas suas dimensões e interesse, mas com um preço de bilhete equivalente. O verdadeiro Kraton está um pouco mais à frente, sendo que o acesso não é imediatamente evidente.

Há uma série de salões cobertos, mas sem paredes, que estão vedados ao público, e umas quantas salas com exposições que podem ser  visitadas. Não é o local mais fascinante que já vi, mas pelos 5 Euros que custa o bilhete vale bem a pena para passar um bocadinho. No “verdadeiro” Kraton há quase sempre espectáculos de música e danças tradicionais e por lá vagueei até esgotar o espaço e saí satisfeito por uma porta secundária que me deixou do outro lado.

Estava um dia muito quente, que me exigiu bastante esforço, porque caminhei uma quantidade razoável de quilómetros, e às tantas já estava fisicamente desconfortável. Toda esta viagem não foi para grandes caminhadas, porque as botas que trouxe me criaram problemas e fazer quilómetros às dezenas de chinelos não faz nada bem e deixa marcas.

O que se seguiu foi então um longo passeio a pé. Vi a cidade natural, longe dos trilhos turísticos. Pessoas que vão para o trabalho, velhotes ociosos, lojas e lojistas, trabalhadores na hora de almoço. Andei por ruas entre muralhas de uma fortificação que não vem documentada nos guias. Passei por um beco onde estavam carros que pareciam esperar o seu Carnaval, vi uma estação de gasolina que certamente não seria do agrado de uma ASAE (ver imagem abaixo), aproximei-me do meu destino, o chamado Palácio de Água, e vi crianças a saírem da escola, com os seus uniformes aprumados, como acontece em todo o país.

Ainda visitei um cemitério que me apareceu pela frente, um local curioso, com traços cristãos mas com algo bem diferente, que não consegui definir e que me deixou, enquanto “especialista” de cemitérios, bastante intrigado.

Por fim cheguei perto do Castelo de Água, junto ao qual se encontravam muitos vendedores. Vinha completamente desidratado e sedento e comprei uma série de bebidas. Tive que me controlar senão compraria uma quantidade infinita de coisas, todas a olhar para mim, com um ar muito fresquinho. Acabei por comprar o bilhete e entrar.

O Taman Sari, como também se chama a este local, foi construido pelo primeiro sultão, em 1765, como um palácio de lazer. Foi praticamente abandonado e só restam as paredes para visitar, para além dos lagos e canais que lhe deram o nome ocidental de “Palácio da Água”.  Visita-se em dois instantes, é pequeno. Bonito mas pequeno, e parece ser popular junto dos locais que, creio, não precisam de pagar bilhete para entrar.

Começou a chover. Nada de especial, na realidade uns chuviscos. O céu ameaçava, muito escuro, e já me imaginava a regressar ao hostel completamente encharcado mas as coisas aguentaram-se.

Cheguei depois de mais uma longa caminhada por ruas atarefadas com a chegada da hora de ponta. Muitas lojas, tascas e restaurantes, trânsito sem parar, basicamente só motas, que é o veículo de eleição na Indonésia.

Descansei um pouco, saí à procura de algo que descobri ao ler qualquer coisa na Internet, que existia um belo supermercado no centro comercial na Maliboro, aqui tão perto de mim. E encontrei! Que satisfação! Depois de quase dois meses a comida asiática, um supermercado com coisinhas “normais”. Leite, yogurtes, compotas, pão… que maravilha! Momento alto. Preços bons. Abasteci-me, satisfeito com o stock. No regresso descobri um balcão do McDonalds, uma versão simplificada de uma loja daquela rede, onde comprei um Sundae de morango que estava delicioso.

Já era noite quando saí para dar uma volta e para procurar uma refeição quente. Passei por uma viela, muito longa, ladeada de casas de habitação. Um simples trilho, onde só passava uma motorizada. Saí do outro lado numa rua com bastantes hotéis e caiu-me no gosto uma esplanada bem arranjada com um menu simples em inglês. Era mesmo aquilo que procurava agora. Descomplicação. Algo que se tornou um bem precioso num país complicado que para mim foi a Indonésia. Comi uma coxinha de frango com arroz e salada que me soube como um manjar dos deuses e marquei o local para regressar no dia seguinte. O preço foi bom, 2 Euros pelo prato.

 

 

 

 

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