Postas as coisas assim sem mais, este foi um dos melhores dias de toda esta viagem pela Ásia em 2017. Ter vindo a Tebatu foi uma excelente ideia e apesar de nem tudo ter sido brilhante por aqui, o saldo foi positivo, especialmente por causa do passeio que demos neste dia.

A coisa tinha sido combinada de véspera. Era um passeio com guia, com um dos homens da casa a mostrar-nos o caminho. Pagámos, creio, 15 Euro cada um.

Saímos depois do pequeno-almoço, ele à frente, como quem vai só ali ao lado comprar o jornal, sem uma mochila para o dia, passo certo, de chinelos. E nós a seguir, estrada abaixo, primeiro pelo asfalto e depois desviando, por um estreito trilho.

Subimos por uma área densamente arborizada, encontrámos um canal de água, que seguimos durante um bocado. Chegamos a uma área de arrozais. Ele vai-nos explicando as diversas fases da produção, que felizmente se encontram presentes ao longo do nosso trilho. Há camponeses que cuidam dos seus talhões. Boa parte destes arrozais são pequenos, servem para a subsistência de uma família.

Nunca tinha visto arrozais assim. Só mesmo os de Alcácer do Sal, e estou fascinado como sabia que iria ficar. É uma paisagem agrícola lindíssima. Caminhamos em equilíbrio sobre as divisórias dos arrozais e aproximamo-nos de uma pequena aldeia. Faz-se uma pausa para uma bebida numa espécie de café para turistas que ali existe. Passado pouco tempo  chega um casal alemão com outro guia. Eu não bebo nada, só quero seguir caminho, mas espero pacientemente que o Baha e o nosso anfitrião tomem as suas bebidas enquanto conversamos.

Vamos passando por mais casas, pequenos lugares de agricultores que me impressionam pelo nível material das coisas. Quer dizer, a maioria de nós quando pensa em Ásia, na Indonésia, pensa em Terceiro Mundo, em pobreza. Mas estas casas e estas pessoas não estão nada abaixo dos níveis de vida da Europa agrícola, especialmente a do sul.

Encontramos dois gaiatos que andam a apanhar peixes nos canais de água. E mais aldeões a trabalhar nos campos. Depois da fase dos arrozais entramos agora na floresta. Vamos tentar avistar macacos.

Já há muito que desisti de usar os chinelos. Tinha perguntado ao guia se seria melhor levar botas de caminhada ou chinelos. Ele disse “chinelos” mas estava enganado. Não há nada pior do que isso neste terreno. Molham-se os pés e depois perde-se tudo, o pé escorrega, o chinelo escangalha-se. Perguntei-lhe se havia cobras perigosas nesta área, ele disse que não e preferir não pensar na falta de tino do anterior conselho e passei a andar com os chinelos na mão. O piso era fofo, quer o dos arrozais quer depois o da floresta.

O arvoredo não é muito tendo, mas o universo em nosso redor é extremamente verde. A luz não entra aqui com facilidade, o barulho da passarada é incrível. Andam por ali pessoas, recolhem lenha. Passa um senhor já com uma idade avançada, carregado como um atleta, um corpo que dá sinais do passar dos anos, mas uma musculatura de fazer inveja a muitos desportistas.

Mais à frente ouvem-se outras vozes humanas. Cada vez há mais gente por ali, e até passam de scooter. E contra toda a lógica, depois de esperarmos pacientemente nos locais mais prováveis, há também macacos por todo o lado, castanhos e pretos, no solo e nas árvores, em família e a solo. Sucesso!

Por assim dizer estavam concluídos dois terços da aventura deste dia. Arrozais, checked! Floresta dos Macacos, checked! Agora faltava a queda de água, que era bem próxima da nossa aldeia. Teríamos que fechar o círculo e em passo mais rápido, porque o dia avançava e lá em cima as nuvens tinham aparecido e eram agora ameaçadoras.

E então, de surpresa, o mais belo dos arrozais que tinha visto até então. Lá em baixo, num plano inferior. Mais uma peça para compor este dia perfeito.

Entretanto lá em cima a tempestade parecia inevitável. Andamos cada vez mais depressa, como se isso nos poupasse à molha anunciada. A cascata já não está longe. Delicio-me quando irrompe o som da chamada para a oração. Já tinha apreciado este eco em muitas cidades muçulmanas, mas nunca no meio do campo, o chamamento vindo de uma mesquita em parte incerta, rodeado de silêncio e da natureza.

 

O nosso guia diz-nos que para chegar à cascata temos que fazer os últimos 100 metros dentro de água. Assim como assim, que diferença fará, dentro de poucos minutos teremos muita água a cair-nos em cima. E é quando nos metemos no riacho que começa a chover.

É um ambiente fabuloso. Lembro-me de repente de uma travessia muito parecida que uma vez fiz em Portugal, perto de Abrantes, num cenário que parecia adequado para um filme de Guerra do Vietname. O guia vai à frente, o caminho é escorregadio, um pouco traiçoeiro, mas não muito difícil e certamente nada perigoso. Por fim, depois de vaus e de subir e descer rochas cobertas de musgo, chegamos ao local da pequena cascata onde um grupo de amigos locais toma banho.

Quando chegamos partem, calmamente, e ficamos ali um bocado, a tirar os retratos da ordem. Mas não durante muito tempo, porque à vaporização da quede de água junta-se a chuva e tudo aquilo faz frio.

Falta o último troço, já todo por estrada, até casa. Um belo duche, vestir o confortável sarong que trouxe de Myanmar e uma refeição em grande, com o meu amigo e com o guia.

No resto do dia já não se fez muito mais. Descansar e relaxar. Fomos jantar a casa do nosso guia, umas centenas de metros distante, no centro da aldeia.

 

 

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