Segundo dia em Samarkand. Um dia que nasceu um pouco mais agradável, sem chuva, uma melhoria que com o passar das horas foi sendo eliminada.

Na véspera tinha conseguido um bilhete de dois dias para o Registon, mas não tive oportunidade de o usar. Na parte da manhã senti-me cansado, deixei-me estar na cama, depois de descer para tomar o pequeno-almoço.

Antes da hora de almoço fui ver coisas. Depois de andar pelas ruas do bairro, cinzentas de cimento, cheguei próximo do mausoléu do primeiro fundador do Uzbequistão, Islam Karimov, que desenvolveu um culto pessoal que deixou o país algo perdido e na expectativa da sucessão quando este morreu.

Há uma pequena multidão que aflui, dando sentido ao tal sentido de culto que referi. As pessoas vêm como em peregrinação, passando junto ao mausoléu do líder morto e seguindo para outras paragens.

Ali próximo, a uns 300 metros, existem uma série de outros mausoléus, mais antigos e verdadeiramente espectaculares. Alinham-se ao longo de uma via pedonal, que se enche de gente, locais e estrangeiros. É um local de imensa beleza arquitectónica onde tirei bonitas fotografias, à estruturas e às pessoas.

Tinha visto no mapa que a seguir se encontrava um cemitério judeu. Tentei lá ir mas estava encerrado, e com ares de já se encontrar assim há algum tempo. Voltei para trás e entrei no outro cemitério, o islâmico, enorme. Explorei um pouco, até chegar ao muro que o separa do cemitério judeu. Do outro lado ouvi cães que rosnavam e emitiam sons pouco amigáveis. Se ainda alimentava a ideia de encontrar uma aberta para espreitar essa outra necrópole, desisti naquele momento.

Ali onde estava era tranquilo. Via ao longe as cúpulas azuis dos mausoléus e estava rodeado de flores. Boas perspectivas iluminadas por um raro pedaço de céu azul.

Já que estava ali dispus-me a resolver um problema: comprar o bilhete de comboio para seguir para Bhukara no dia seguinte. Apanhei o eléctrico no ponto onde na véspera tinha sido deixado. O número 2. E lá fui, certinho, até à gare. Comprar o bilhete foi um pouco mais complicado do que gostaria… muito tempo de espera, gente complicada à frente, mas lá me safei. Estava servido.

De regresso apanhei o autocarro, para variar. Segui outra rota, vendo uma Samarkand diferente, com laivos de modernidade, comércio actual, limpa. As vastas avenidas sempre presentes, resultado do planeamento soviético que no caso desta cidade se tornou de aplicação mais fácil depois da urbe ter sido arrasada por um sismo em meados dos anos 60.

Saltei fora do autocarro a umas centenas de metros do mausoléu de Timur, um herói nacional inesperado, idolatrado por milhões de uzbeques, esse mesmo Timur que um dia disse “se virem um uzbeque, é matá-lo”. Cada um saberá quem tem por herói.

Caminhei até ao monumento, numa área claramente universitária. Muitos estudantes vestidos a rigor, como se estivessem neste dia a acabar formalmente os seus cursos.

O mausoléu é um pouco mais à frente. Turistas por todo o lado. O bilhete custa 2,50 Euros.. Não é muito, mas comparado com o valor normal das atracções é demasiado. Não há ali muito para se ver e o melhor, a própria estrutura, pode-se observar do exterior em perfeitas condições. Foi dinheiro mal empregue, na minha opinião

A tarde aproxima-se do fim. Estou anormalmente cansado, penso serem os efeitos da vaga gripe que anda por aqui, pelo meu corpo. Não estou longe do Registon, para onde caminho, sentindo o pulsar da cidade. Um bloco residencial está em obras. Dezenas largas de trabalhadores andam por ali, nas suas tarefas. Já é escuro. Junto ao Registon, parece um formigueiro. Tantas pessoas! Muito diferente da véspera  e não sei porquê. Não é fim-de-semana ou feriado.

Já está fechado, apesar de ainda se verem pessoas a cirandar no recinto. Sendo assim, vou até ao supermercado da véspera, recolher mais abastecimentos. A rotina repete-se; relaxar no quarto, esperar pela meia-noite, trabalhar um pouco, ver futebol, desta vez sozinho.

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