31 de Outubro

Banja Luka é uma cidade sem piadinha nenhuma. Recomendo que se evite. Vagueio, como é meu costume, mas não há mesmo nada para ver. Limito-me a sentir o pulso da vida local, vejo as pessoas, nas suas rotinas diárias. No centro há uma bela igreja ortodoxa (aquela onde me deveria ter encontrado com o Ilija na véspera mas que não dei com ela). Construída em 1939, foi arrasada pelos alemães em 1941. Durante décadas ficou no local um monumento alusivo à destruição do templo. Até que recentemente a igreja foi reconstruída, e a escultura movida para o outro lado da estrada, onde ainda hoje se encontra.


O castelo não é lá muito emocionante. Erigido à beira do Vrbas, limita-se a uma muralha com um páteo interior, sendo que metade da área está vedada. Não sei onde tinha a cabeça quando inclui Banja Luka no meu percurso. e emito um sorriso amarelo quando penso que ali vou ficar três dias. Mas não é tempo perdido. Tenho o consolo humano daquela gente calorosa que me acolheu tão bem.

E o que se faz quando chove ou quando uma cidade não tem nenhuns atractivos? Simples, vai-se aos museus, o que no caso da capital da Republika Sprska passa a singular. Dou com o museu da entidade, entro. Uma senhora simpática recebe-me. O bilhete custa 0,50 Eur e com esse dinheiro ganha-se acesso a uma exposição com alguma qualidade, quase toda legendada em inglês. Ela passa pelas salas todas, ligando as luzes. Um visitante é caso quase único por ali. Tenho o espaço todo por minha conta, e, ciente do tédio que me aguarda lá fora, observo cuidadosamente todas as peças da colecção. Como nos outros museus que experimentei na ex-Joguslávia, ninguém objecta contra se tirar fotografias, o que é óptimo. A meio da visita o Ilija dá-me um toque para o telemóvel. Ficamos de nos encontrar depois.


Ele mostra-me um local mágico, onde segundo a lenda (que de tão recente que é, é bem capaz de ser realidade) uma rapariga apaixonada que perdeu o namorado na guerra se atirou para a frente do canhão que se aprestava para dar a salva que marcava o meio-dia. Ali foi enterrada e é costume casal de namorados depositarem flores no local ou acenderem uma vela em sua memória. Depois caminhamos junto ao rio, até voltarmos para trás e entrarmos num castiço café para uma bebida.

Vamos ao supermercado, que vou preparar mais uma feijoada. O serão é passado de volta do jantar. Primeiro, a preparação; depois, a degustação. É um sucesso. O dono da casa come até não poder mais. E depois vem cerveja, e bolos e não sei que mais. Após a refeição o Ilija e o Ednan iniciam os preparativos para a festa de Halloween onde vão. Pedem-me, quase que imploram, que eu os acompanhe, mas estou cansado, gastei dinheiro suficiente para um dia, e de resto, tenho uma certa aversão ao tema em comemoração. Mas ajudo. O Ednan torna-se um robot, tirado de um episódio de South Park, e o Ilija é o capitão Jack Sparrow, com o meu lenço na cabeça. Vão animados, dizem que querem trazer para casa o prémio de melhor disfarce. E eu retiro-me para o meu pequeno palácio.


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