Depois de um interregno, vital para o retemperamento de forças e abastecimento dos cofres, o Papa-léguas, faminto, regressa à acção. E desta feita não será coisa pouca: iniciando o circuito em Bratislava, seguir-se-á Viena, e, por fim, uma estadia de dois meses em Praga. Com base nesta cidade muitas léguas serão devoradas, prevendo-se incursões à Polónia e a outros países vizinhos.

Hoje foi o dia em que tudo começou. 19 de Setembro. Partida matinal, com destino a Frankfurt-Hahn, um aeroporto económico que a low-cost Ryanair usa como charneira entre os seus muitos vôos europeus. Que o nome não vos engane: a coisa chama-se Frankfurt por mera conveniência de imagem, porque dista tantos quilómetros dessa cidade alemã, que a companhia irlandesa já se viu processada pelo verdadeiro aeroporto de Frankfurt pela utilização abusiva da denominação.

 

 Durante a Guerra Fria, Hahn foi uma das principais bases aéreas da NATO. Sucessivas esquadras de aviões de combate estiveram estacionadas naquelas instalações, assim como unidades de misseis. Mudaram-se os tempos, e o fim da tensão militar na região ditou o encerramento da base, reconvertida para fins civis. Mas as estruturas ficaram, decadentes, fantasmagóricas, e, muitas delas, abertas a qualquer um que por ali se meta a explorar.

As dimensões da antiga base são enormes, apesar de ter sido das mais pequenas ao serviço da Força Aérea Americana na Alemanha. Ainda hoje se podem ver os postos de controle das diversas entradas na área militar, que foram para lá deixados, assim como uma infinidade de bunkers, torres de vigia e uma série de edíficios de utilidade desconhecida. Os prédios que albergavam os militares das diversas esquadras estacionadas em Hahn ainda se encontram como estavam à data da partida dos americanos, com os símbolos e os números das unidades pintados na fachada. É um mundo a explorar, e que me deleitou durante as horas que passei por ali, entre vôos.

 
 

Quem não terá apreciado a experiência foram os meus joelhos e costas: esta Alemanha, que passa uma imagem de organização modelar, não me deixou grande impressão. Entre outros pormenores, os cacifos de apoio ao aeroporto encontrava-se desactivados. Resultado, uma carga de 26 kilos a ser transportada durante os cerca de 8 km que durou a primeira parte da expedição pelo mundo perdido do poder aéreo americano. Ainda se arranjou uma segunda expedição, mais curtinha mas muito mais confortável, depois do check-in para o vôo final com destino a Bratislava.

O primeiro percurso foi feito com uma antecipação de uma hora, provocado pela incrível política da Ryanair e de outras companhias do ramo, que consiste no fornecimento de horas de chegada intencionalmente desfazadas da realidade, sempre para mais tarde do que o realmente previsto. Assim, se houver os frequentes atrasos, deixa de os haver porque já estavam previstos no horário. Se, como foi hoje o caso de hoje, tal não suceder, então o passageiro e quem o vai esperar que se trame. Já o derradeiro trajecto saiu com algum atraso, vindo a aterrar cerca de meia-hora mais tarde. O bom do Matus, o couchsurfer com que vou ficar, lá se aguentou estoicamente, à espera no terminal, num esforço tanto mais louvável tanto quanto ele próprio regressou hoje de uma estadia na Suiça e amanhã pela manhã já terá que se apresentar no posto de trabalho.

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