E ao quinto dia, assumi o papel do turista comum. Juntei-me ao caudal, subi ao castelo, símbolo maior das atracções da cidade e fotografei como um louco. Não escondi o meu estatuto. De mochila às costas, pele bronzeada e máquina à tiracolo andei para ali, de boca aberta, a explorar os detalhes, usufruindo de um dia solarengo como não se costumam ver por estas partes já chegado o Outono. O castelo em si é feio. Está mal tratado e parece um quartel, reconstruido pelo regime comunista depois da II Guerra Mundial. Mas mesmo assim tem a sua aura, especialmente nos espaços exteriores, repletos de frondosas árvores que por esta altura começam a desnudar-se, num bailado de partículas douradas que chegam ao chão, onde formam tapetes quase homogéneos. Entro no pátio do castelo mas não há lá nada. Está tudo fechado. É um recinto tristonho e mal amanhado, e hesito quanto a uma visita ao museu da cidade. Leio que está fechado à 2ª feira, o que resolve o impasse. Continuo pois o passeio, apreciando as vistas sobre Bratislava e sobre o Danúbio. Regresso à baixa, que fica incrivelmente perto. Basta descer uma breve calçada, umas escadinhas e pronto. Assim faço, e percorro uma vez mais as ruas centrais, sempre cosmopolitas, cheias de vida, de visitantes, de côr.

A tarde foi de caminhada errante, pelos bairros limitrofes do centro. O problema de Bratislava é que os pontos de interesse turístico se esgotam rapidamente. Apesar das campanhas promocionais, este ponto é incontornável. É por isso que muita gente chega aqui mas não se detêm, seguindo para as grandes pérolas do turismo do centro da Europa. Alguns viajam de autocarro ou comboio para Viena, mesmo aqui ao lado. Outros, embarcam em cruzeiros fluviais, e atravessam Budapeste pelo Danúbio. Assim, quem fica mais do que uns poucos dias na cidade, acaba por ser empurrado para explorações em áreas urbanas pefeitamente comuns, como me sucedeu hoje. Já a parte final da tarde tomou outro rumo.

Estava mesmo ali, tão perto do sopé das montanhas onde se ergue a majestosa torre da televisão, que não resisti a subir. Perfeita loucura, sem o menor conhecimento da via correcta para o fazer. Comecei por escolher uma estrada que parecia bem orientada, mas pouco a pouco as coisas foram ficando mal paradas, até que tudo se resumiu a um caminho de terra batida apenas para peões. Encontrei alguém que se deslocava em sentido contrário e perguntei se estava bem orientado para subir até lá acima. Sim, estava. Mas mais à frente fui-me deparando com sucessivas encruzilhadas, e em todas elas segui o instinto, até que me aproximei irreversivelmente do ponto final. No topo estava muita gente, mas certamente não usaram a mesma via que eu. Na realidade, deparei-me com uma belissima estrada, que seria a opção acertada, mas que nunca saberei ao certo de onde partia. Estava sedento e pedi uma cerveja, numa tascazinha onde acorriam outros visitantes daquele ponto alto. Retemparadas as forças dispus-me a descer, desta vez seguindo o asfalto óbvio. Só que mais uma vez não consegui resitir a “inventar” um pouco, e após umas quantas curvas perdi a paciência a atalhei fortemente. Já era escuro, quase noite, mas os bosques aqui são abertos e é fácil caminhar por ali. Vim portanto numa linha recta, que terminou após umas centenas de metros, com toda a naturalidade, numa rua de Bratislava.

Quando cheguei a casa o Saki não estava. Acomodei-me, comecei a fazer qualquer coisa no computador. Pouco depois, chegou. Fomos jantar, num bar ou restaurante de uma zona relativamente nobre, onde experimentei finalmente uma das especialidades da cozinha eslovaca: uns “dumplings” de batata com queijo e bacon frito, tudo regado com uma cerveja. Neste país a comida é barata, mas a bebida nem tanto. É comum uma cerveja constituir-se como metade da conta final. Como era a noite de despedida, fomos para uma coisa diferente: num dos bares favoritos do Saki fomo-nos enfrascando com uma sucessão mirabolante de bebidas estranhas, com o ponto alto a ser obtido com uma mistela alegadamente criada pelo próprio Saki e por um amigo, barman daquele bar que se encontrava de folga, mas mesmo assim não resistia ao chamamento e se encontrrava por ali, não se percebendo bem se a trabalhar ou a divertir-se. De repente o bar encheu-se. Um grupo de franceses que nos confundiram com adereços como um blusão que dizia “Espanha” e uma blusa do Benfica. Mas eram mesmo franceses. Um deles, já bem aviado, perguntava-me se eu era eslovaco, porque se fosse podia pedir-lhe uma bebida e não seria tão cara. Já informado da minha nacionalidade, queria saber se eu estava no programa Erasmus… sim sim… aos 40 e tal, no Erasmus.

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