Pronto, reconheço. Nove dias é demais para visitar uma cidade, mesmo que seja enorme em área e riqueza turística. Ou então tem a haver com a intensidade que se aplica no início. A verdade é que estamos arrasados, saturados. Quero a minha casinha!! Tudo isto para dizer que hoje tudo se resumiu a dois momentos: de manhã, uma visita não agendada ao Museu Nacional; pela noitinha, uma longa caminhada até ao Bastião dos Pescadores.

 Vamos por partes. O dia estava cinzento, e apesar de não apetecer nada grandes actividades, também seria injusto considerar a plena clausura como uma hipótese. Lembrei-me que tinha planeado visitar museus no caso das coisas darem para o torto e desatar a chover. Ora não era propriamente chuva, mas num dia tão xouxo e cinzento, pareceu-me que seria legítimo activar esse plano. Pega-se num guiazinho, daqueles gratuitos que as organizações de turismo costumam editar, e lá está ele, o Museu Nacional, mesmo ao pé de nós, numa praça a que poderiamos aceder com um mínimo de esforço pedestre.

Aposta ganha. A experiência é positiva. O Museu Nacional está hospedado num edíficio majestoso, imponente, com todo o ar de um verdadeiro Museu, daqueles que se vêem nos filmes de Hollywood. O professor Indiano Jones poderia ter-se cruzado comigo no átrio de entrada, que não estranharia. E ainda por cima, é de borla! Não há contudo bela sem senão: se a visita simples é gratuita, a taxa para permissão de obtenção de fotografias é a doer. Alguns milhares de florins. Não importa. Já tinha recusado a visita à Casa do Terror pela proibição de recolher imagens, mas os humores mudam, e hoje a coisa não me pareceu tão cruel, até por se tratar de um museu clássico, onde é sempre complicado operar a máquina fotográfica, devido às sombras e reflexos do flash.

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A primeira sala levanta a fasquia. Parece-me muito bem, e está tudo legendadinho em inglês, como se espera de qualquer museu que se preze. As salas seguintes já não respeitam esta regra a rigor, apesar de ainda se encontrarem uns resumos na língua do viajante. Não se compreende. Trabalhei num museu. Uma das minhas funções era precisamente gerir as legendas da exposição. Coisa simples, cuja manutenção se fazia em alguns minutos, quando era caso disso. Diria que para cobrir este belo museu com os devidos dizeres de forma a que todos os visitantes pudessem disfrutar por inteiro dos conteúdos, tomaria três ou quatro dias a uma equipa de duas pessoas, a trabalhar a sério. Seja como for, paciência. Valeu pelo aparato do edíficio, pela elevada qualidade da exposição, já se vê, descontando o aspecto das legendas, e pela viagem no tempo que proporciona. Percorrendo todas aquelas salas, o visitante fica efectivamente com uma ideia geral da História da Hungria, e aprende-a da melhor forma, observado modelos, artefactos, mapas, gravuras… muito bom!

A tarde, essa foi entregue à preguiça. Daquela bem profunda, que nos leva até ao reino dos sonhos pelo tempo indeterminado que é geralmente interrompido sem se saber bem como e porquê.

O dia estava para acabar, e a mordomia de uma pachorrenta tarde já sabia a excesso. Olha, vamos ao Bastião dos Pescadores ver as vistas da noite sobre Peste! Boa! O Bastião dos Pescadores é um recanto no bairro do Castelo, que falhámos por mero descuido na nossa excursão inicial. E ainda bem, porque com o pretexto desta saida acabou por se aproveitar ao máximo o último serão na cidade. A passeata até lá soube que nem ginjas. Nem por encomenda poderiamos ter uma temperatura mais adequada, e conhecemos uma faceda de Buda que de dia não se tinha revelado: por um momento pensei que estava em Lisboa, mas uma Lisboa menos suja, menos degradada e infinitamente mais segura. As ruas, pela noitinha, pareceram-se semelhantes às que me acompanharam na longa marcha desde a meninice. Aqui e ali, pequenos bares, agradáveis locais, tristemente desertos, uma vez mais, tal como seria de esperar em Lisboa. Chegámos lá acima num instante, nem demos pelo esforço dispendido, e foi um momento mágico. Apesar da cidade ser mais bonita observada da outra margem, esta perspectiva também não era nada de se deitar fora. É de assinalar que, constinuindo-se como um paradoxo relativamente à excelente iluminação do Castelo, o Parlamento, com todo o seu potencial, perde-se com uma distribuição tosca de luz, prejudicado ainda mais escuridão que emana da ala que se encontra rodeada de andaimes empregues no trabalho de restauro. Já a ponte das correntes surge como o elemento mais chamativo à vista, destancando-se do monótono oceano de luzinhas em que Peste se transforma pela noite. Andamos por ali uns bons minutos. As “muralhas” do bastião estão cheios de gente: alguns são casais de namorados que procuram o tom romântico que ali se torna tão fácil de encontrar; mas a maioria parece pertencer a uma excursão, talvez de suecos, que se espalha sem alarido por todo aquele espaço. Notável, como uma pequena multidão pode integrar-se no ambiente sem máculo, quase em absoluto silêncio.

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 O caminho de volta é feito quase pelos mesmos trilhos, com uma ou outra variante. A fome aperta, mas os florins são os últimos e já dão para muito pouco. Mas estava escrito que tudo haveria de correr bem nesta despedida. Lembrámo-nos do agradável bar mesmo ao lado do apartamento, onde tinhamos planeado tomar uma refeição durante a estadia. Ainda não se tinha proporcionado. Pois haveria de ser na derradeira noite. Ainda para mais, caso houvesse azar na contabilidade dos últimos cêntimos, havia uma caixa multibanco uns metros à frente. Mas não foi preciso. Comeu-se bem (uma sopa gostosa e densa, um goulash e uma salada por algo como quatro euros), pagou-se. Fim de História. A experiência de Budapeste chegou ao seu término.

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1 COMENTÁRIO

  1. 9 dias em Budapest??!! Adorava…pois só tive a oportunidade de ficar 3…e tive de caminhar de “sol a sol” para conseguir ver o maior numero de coisas!!!

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