A viagem ao Cáucaso iniciou-se de forma espontânea e algo explosiva. Estava no calor do meu quarto em Praga, numa noite fria de final de Inverno, a ver qualquer coisa que a memória há muito perdeu, quando me passou pelos olhos uma promoção que a Air Baltic estava a fazer. Eram bastantes os destinos atraentes a cerca de 200 Eur com ida e volta a partir de Berlim. Ora quem está na capital da República Checa sabe que ir até até Berlim é algo tão simples e ainda mais barato do que fazer a viagem de Faro a Lisboa. E assim como assim, há já algum tempo que andava com o bichinho da Ásia Central atrás da orelha. Kazaquistão, Uzbequistão, Azerbeijão, Arménia e Geórgia eram alguns dos países cujas capitais estavam abrangidas pela tal promoção. Havia apenas um detalhe a considerar: a promoção acabava nesse dia.

 

 

Apesar de gostar de viajar sozinho, não me estava a ver, nessa altura, a embarcar numa aventura destas a solo. E então, toca de colocar no meu Facebook o apelo. Procura-se companhia, entre amigos, para passar duas ou três semanas no Cáucaso (depois de dar uma vista de olhos nas condições de obtenção de visa para os cinco países candidatos, escolhi a Geórgia e Arménia, decisão também empurrada pelos comentários muito lisonjeiros que apanhei aqui e acolá sobre os dois vizinhos caucasianos).

Antes do dia ter terminado quer eu quer o meu amigo sueco Clabbe, também ele a viver em Praga há uma mão cheia de anos, tínhamos comprado as passagens aéreas. Daí em diante foi a ansiedade crescente. A leitura sobre estes destinos. Oh que emoção foi quando me chegou o guia Bradt para a Geórgia. Andava sempre comigo, até que me separaram dele… um larápio que certamente terá tido um acesso de fúria, quando, no abrigo que utilizou para espreitar o fruto do seu trabalho, descobriu que dentro do estojo de netbook que tinha “gamado “estava apenas um guia turístico de um país distante.

 

 

 

 

E assim, em pézinhos de lã, chegou o dia. Não só se iniciava a maior viagem que até então este inexperiente viajante tinha empreendido, como terminava a minha última época em Praga, apesar de na altura ainda não o saber. Para Berlim fui sozinho, que o Clabbe tinha aproveitado para visitar uns amigos e já lá estava há uns dias. Segui no “amarelinho”, como chamo aos autocarros da companhia Students Agency, que têm um sólido serviço de ligações nacionais e internacionais a preços e qualidade imbatíveis. A coisa é de tal forma que há ligações quase de meia em meia hora entre as duas principais cidades checas, Praga e Brno, e apesar da distância não ser muito diferente da que separa Lisboa e Porto, os bilhetes custam 6 Eur, podem ser comprados on-line e oferecem todas as mordomias: desde consultar-se  o filme que vai ser exibido em cada viagem, como usar livremente wi-fi a bordo… comida e bebida estão disponíveis a preços simbólicos e as cadeiras são confortáveis. Portanto lá fui eu, por 20 Eur, até Berlim, onde o Clabbe me aguardava no terminal ferroviário, mais um par de “malucos”, uma alemã e um paquistanês a viver no Dubai, também ele de visita.

 


 

O sistema de transportes públicos berlinense é complexo a assusta. Entrámos e saímos em metros, sob a liderança determinada e conhecedora da amiga alemã, até que aterrámos no bar onde naquele dia se desenrolava um pequeno encontro de “couchsurfers”. E a isto se resumiu a minha primeira, e até agora, única, experiência em Berlim. Conheci o meu anfitrião, Caspar, um velho amigo do Clabbe, mas passei a maior parte do tempo em conversa com o paquistanês, especialmente sobre os efeitos que a política externa dos EUA estão a ter na sua popularidade a nível global.  Explicava-me ele como no seu país de origem a linha seguida pela dinastia Bush transformou completamente a imagem que a população tem dos EUA, tradicionalmente amigável e agora tão hostil. Abandonámos cedo a festa. O Caspar tinha um encontro virtual, via Skype, com a namorada, e eu teria que acordar de madrugada para apanhar o avião para Riga, antes do derradeiro troço até Tiblissi.

 

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