Este foi um dia um pouco morto. Talvez por causa de mais uma noite intensa, talvez pelo tempo desagradável, talvez pela necessidade de abrandar. Passámos muito tempo no nosso pouso Internet de eleição, o café Segafredo, finório, caro, mas com wi-fi sólida e logo do outro lado da avenida. Por esta altura já tínhamos os nossos jovens amigos e guias do primeiro dia na lista de contactos do Facebook, que nos imploravam, de novo, pelo envio das fotos tiradas em conjunto. Quando achámos que a ronha já era em demasia, fomos andando, pela milésima vez, rua abaixo, em direcção à parte mais antiga da cidade.

 


 

O objectivo para hoje era encontrar o cemitério central. Para lá chegar passámos por ruas decrépitas, zonas pobres, com comércio de rua. Vendedores com banca armada comerciavam todo o tipo de produtos agrícolas, lado a lado com o comércio tradicional, muito interessante e mesmo muito tradicional.

 

 

Não foi fácil chegar ao nosso objectivo. De quem perguntámos por direcções, recebemos um olhar atónito e uma indicação vaga, sem qualquer utilidade. Entrámos por uma propriedade, ao engano, e demos conosco numa semi-ruína… um grupo de estátuas de soldados soviéticos e a configuração do espaço fez-me pensar que teria sido em tempos um hospital militar. Saímos pelo outro lado, passámos por mais umas ruas e chegámos ao cemitério.

 

 

À entrada, uma pequena igreja e depois… o matagal. Isso mesmo, matagal. Os terrenos estão completamente ao abandono, as ervas crescem, altas, por todo o lado. Mal se consegue transitar. Existem uns trilhos mantidos informalmente, pela passagem a tempos de alguém, mas os visitantes não são em número suficiente para calcar a vegetação, que cresce sem parar. A “selva” é tão densa e alta que quase nos impede de manter a noção de onde estamos e para onde queremos ir. Atravessar o cemitério é uma odisseia, passada por entre falsos caminhos que levam a lado nenhum. O espaço é um enorme labirinto. Por outro lado, as campas, estão protegidas dentro de gaiolas de ferro. Fica a ideia que a profanação de tumbas é moeda corrente por aqui. Apesar das grades de ferro que as deviam proteger, muitas lápides estão vandalizadas.

 


 

Depois de explorarmos o cemitério prosseguimos para a catedral de Sameba, onde chegámos ao mesmo tempo que uma chuva densa, que nos convenceu a ficar por lá abrigados durante algum tempo. Hoje foi também o dia em que encontrei a única geocache na Geórgia. De resto, em todo o país não chega a haver meia dúzia, e por onde andei foi mesmo hipótese isolada. Uma geocache sem piada, nos terrenos do hotel Hilton… ou Sheraton… ou qualquer um desses. No caminho para lá, foi interessante ver os homens reunidos em redor de enormes mesas, a jogar xadrez, onde o Clabbe se foi infiltrar, sendo acolhido sem qualquer hostilidade nem desconfiança.

 

 

Com isto estávamos numa das extremidades da cidade, oposta ao nosso lar de ocasião. O caminho de regresso era longo. Estava na hora de experimentar o metro georgiano. Descer aqueles subterrâneos é como viajar no tempo. Lá em baixo, as plataformas escuras, onde o cimento nu é uma constante, esperam as composições rudes e duras. O cenário podia ser dos anos 70, e faltam apenas os ícones comunistas para que a ilusão esteja completa. O problema agora é saber onde estamos e para onde vamos. Que isto de alfabetos exóticos é muito engraçado mas a sensação de estar num local onde não existem letras mas apenas bonecos (do nosso ponto de vista) é algo de novo. Identificar o nome das estações está fora de questão, e só nos resta contar, com a ajuda do mapa que temos e onde as paragens estão nomeadas no alfabeto latino. Fotografias, não há, porque a recolha de imagens é estritamente proibida, por razões de segurança. O Clabbe tentou fazer de conta que não percebia e em menos de nada tinha um polícia a gritar para ele… “no photos, no photos!”.

 

 

Chegámos onde queríamos, um par de quilómetros ainda afastados de casa. Mas calha bem, que o Clabbe quer ir aos correios. Parece uma tarefa simples? Mas não é. Por alguma razão, em toda a cidade parece existir apenas uma estação de correios. E os georgianos têm-na bem escondida. Chegámos ao local onde o Clabbe a tinha referenciado. Não existe. Percebemos através de um sinal que tinha sido transferida. Ninguém sabe onde fica agora, ou, quem sabe, dá indicações vagas. Será inútil descrever em detalhe a aventura, mas encontrar a dia estação foi um desafio dos maiores que vivemos em terras do Cáucaso. De tal forma que acabei por desistir, disse ao Clabbe que me encontrasse no Segafredo e sai dali, enquanto o amigo sueco prosseguia até à conclusão da sua missão que, segundo me contou depois, foi espinhosa.

Este foi o dia em que comparecemos a um encontro de Couchsurfing, que não me deixou grande memória. A “comunidade” de Tibilissi é muito jovem, muito interessada no esquema “boy meet girl, girl meet boy” e sem espaço para velhos lobos como eu, habituado a outras posturas, de intercâmbio cultural e troca de ideias e informação. Assim, esgotada a paciência, deixei-os lá e fui dar um giro por Tibilissi á noite. Comprei uma cerveja numa pequena lojinha onde uma senhora ma vendeu com a reverência de quem serve o Papa, e cirandei por aquelas ruas, sentindo o palpitar da cidade. Foi um passeio refrescante, que me lavou a alma do mal-estar acumulado por longos minutos naquela mesa quase hostil. Regressei às imediações e sentei-me numa esplanada vazia, que, creio, era simplesmente da comunidade e não de um estabelecimento em particular. Pouco depois o Clabbe e o Dan apareceram, com os outros “miúdos”. Seguiu-se a dança habitual da decisão do local a visitar de seguida. Como sempre sucede, o grupo dividiu-se múltiplas vezes, e quando chegámos ao destino éramos apenas ma mão cheia. Foi divertido. No caminho…. bem… é ver o video que se segue….

 

 

 

[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=JKUg51iPVXw]

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui