Acordei pela última vez no Cáucaso. Sai do quarto e o dia ficou mais radioso quando vi a bonita “baby-sitter”dos Blackmer. Como combinado ela telefonou para a central de táxis assim que acabei de arrumar as minhas coisas e lhe anunciei a minha disponibilidade para partir. Cinco minutos depois, tinha o carro à porta. Desta vez, calhou-me em sorte um brincalhão. Depois do lunático com toques de piloto de rally e do desorientado que conduzi eu próprio até à morada, desta feita o condutor era um bonacheirão, bem disposto, com vontade de comunicar numa miscelânea de línguas a que ia pedir emprestadas as palavras que precisava, entre alemão, inglês e francês. Disse-lhe que queria ir para a “station”. Quando ele deu o seu trabalho por terminado, estávamos em frente a um estádio. E eu, tipo… cadê  a estação? Ahhhh “station… pensei que era “stadion”. Pois, mas não. Eu quero mesmo é apanhar a “matrushka” para Tibilissi, e não vir ver a bola. Sem problemas, que por acaso a estação era ali perto. Dei-lhe uma nota a mais,  bom dinheiro, como gorjeta. – afinal não precisaria mais daquela quantia.  Ele devolveu-ma, disse que lhe estava a dar a mais. Ainda há gente honesta.

 

 

Com a facilidade do costume encontrei o meu transporte, paguei a viagem e sentei-me à espera, no lancil do passeio. A viatura desta vez era um autêntico chasso, mas talvez por causa disso o condutor era menos exaltado ao volante. Ao contrário dos meus colegas de viagem, que estavam tremendamente revoltados com o que consideravam ser sobrelotação da carrinha. Trocaram de lugares vezes sem fim, procurando a melhor configuração possível. Pelo que percebi, havia dois grandes grupos ali, um de georgianos e outro de arménios. E em função disso procuravam ajustar-se ao espaço reduzido. O meu vizinho do lado mudou umas quantas vezes ao longo da viagem. E eu, assobiando para o ar, esperando que não me envolvessem na confusão.

 

 

Tal como na viagem inversa, exercitei a fotografia em movimento, apanhando aqui e acolá excelentes “bonecos” de pessoas e locais à beira da estrada. Logo à saída de Yerevan captei uma imagem do monumento que representa o alfabeto arménio, do qual já tinha ouvido falar mas que me tinha escapado na viagem inicial (foto  acima) . A passagem da fronteira foi ligeiramente mais rápida do que para cá, e mais à frente, exactamente no mesmo local, uma paragem para a refeição, que, da mesma forma, dispensei. Desta vez, metade da “tripulação” estava claramente enjoada, e procurava recuperar as cores junto ao regato que corria ali.

 

 

O resto do percurso decorreu sem novidade. Tornámos a passar junto à base aérea georgiana, já às portas de Tibilissi, que desta vez observei com mais atenção, alerta sobre a sua existência. E cheguei. Depois de me sacudir do enxame de motoristas de táxi inoportunos, iniciei a caminhada para a estação de metro mais próxima. A rotina repetia-se. Contar estações. Sai na correcta. Entretanto, notei que o Clabbe já me tinha enviado vários SMS’s para acertarmos local e hora de encontro. Respondi-lhe e caminhei para o Segafredo, que parecia ter sido deixado para trás no tempo. E enquanto escrevo estas linhas, recordo-me de um episódio que me passou em claro quando descrevi os dias de Tibilissi: certo dia, já aborrecido com a gadelha que trazia na cabeça, decidi perguntar ao empregado deste café onde haveria um barbeiro para que pudesse cortar o cabelo. Ele pede um momento, vai lá fora, volta e pede-me para o seguir até à rua; pensei que me ia apontar o caminho e lá fui. Mas não! O barbeiro era na porta ao lado e ele levou-me literalmente até lá. Nem paguei a conta do café nem trouxe o casaco. Que não me preocupasse, disse-me ele. Sentei-me na cadeira para receber o corte. Uma cabeleireira que falava um pouco de inglês ia traduzindo. O “tratamento” custaria 3,50 Eur. Ok, tudo bem. O que não me disseram foi que mordomias estavam incluídas neste preço. Por esse valor, tanto quando me recordo, tive quatro pessoas diferentes a exercer as suas áreas de especialidade em mim, incluindo um cortador de pêlos das orelhas! Sai de lá ainda atónito com o luxo daqueles barbeiros!

 

 

O Clabbe chegou e entretanto a noite caia. O avião era só por volta da meia-noite portanto tínhamos imenso tempo. Chegou a fome, e encontrámos um “fast-food” de kebab. Não estava para ai virado, mas o meu amigo sueco, um notório fanático deste tipo de comida, não podia deixar escapar a oportunidade. Olhámos e tivémos dúvidas… o local parecia prestes a fechar, provavelmente já não serviam mais nada. Mas serviam, e ataviaram um belo “kebab”. Enquanto nos afastávamos o Clabbe deu-me daquilo a provar. Yummi! Estava bom. Mudei de ideias e corri para pedir a minha própria porção. A senhora olhou para mim com um enorme sorriso, perguntando “Good huh”? E era. Sentámo-nos num muro um pouco mais à frente, observando os transeuntes. Atrás de nós, num estabelecimento de natureza indeterminada, uma festa parecia estar a acabar e cada pessoa ou grupo que saia vinha completamente embriagado.

 

 

Começámos a decidir como poderíamos chegar ao aeroporto. Autocarro não havia. Restava a hipótese de táxi, mas, como bons gestores, tínhamos partido o dinheiro todo, e não era certo que o que podíamos reunir entre os dois daria para pagar um táxi para lá. Contactámos o Koka, em busca de informação… não haveria mesmo autocarro? Quanto custaria um táxi? Ah mas isto é Couchsurfing, mesmo quando não há um couch envolvido! O bom Koka só disse: “onde é que estão? Já passo por ai a buscar-vos e levo-vos ao aeroporto!”. Maravilha. O bom do Koka ainda nos deu uma bela seca. Utilizámos o tempo para contar quantas vezes o mesmo carro de polícia subia e descia a avenida principal. Foram muitas. Para cima de uma dezena.

Enfim com o nosso amigo georgiano. O percurso ainda levou uma meia-hora, de conversa. Foi muita pena não podermos ter sido alojados por ele. E pronto… viagem concluída. De Tibilissi para Riga, transbordo para Berlim…. autocarro para Praga. Depois do almoço do dia seguinte estava a chegar ao meu apartamento de Letna.

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