Ora aqui está um troféu reservado a um número restricto de viajantes. E contudo, a Coreia do Norte não é das nações mais difíceis de visitar. Terá é que haver aceitação para as bizarras condições impostas pelas autoridades e, claro, dinheiro.

Quase todos os dias somos sujeitos a uma chuva de propaganda dirigida contra a Coreia do Norte. A informação de qualidade é basicamente inexistente e as nossas ideias sobre o que se passa naquele país vai sendo moldada pelas “notícias” passadas, que, na realidade, são quase sempre boatos. A Coreia do Norte encontra-se encerrada. Isto é a única coisa factual. O resto são suposições e rumores. Mas… se se encontra encerradas, como é que se pode visitar? Bem, se é um jornalista, não pode, pelo menos se não o esconder cuidadosamente. Se não for, pode, e até é fácil.

A primeira coisa que deve saber é que todos os turistas terão que entrar no país numa tour enquadrada pelas autoridades. E que nunca poderão deambular livremente. Sempre com os guias do grupo. Muito estranho? Talvez. Mas não é caso único. Passa-se o mesmo no Butão. Seja como for, a Coreia do Norte está longe de ser o país mais difícil de visitar. A Arábia Saudita, por exemplo, não emite vistos de turista. Muitos outros fazem-no, mas com tantas condições e exigências que se torna um pesadelo. Já no caso da Coreia do Norte, o “visto” é apenas uma rotina, tratada pela agência que organiza o tour onde o turista se incluirá.

Já agora, o visto não é realmente um visto, mas um cartão de turista, ao exemplo do que sucede em Cuba. Ao entrar ou ao sair o seu passaporte permanecerá intocado. Não receberá um carimbo nem um selo que marque a sua visita. Se quer uma recordação desse tipo, o melhor é tirar uma foto do cartão de turista enquanto estiver por lá.

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As fotografias, uma componente tão importante para a maioria dos viajantes, são totalmente permitidas na Coreia do Norte. Em muitos outros países existem dificuldades neste aspecto. No Turcomenistão, apesar de não estarem formalmente proibidas, são muito mal-vistas pelas autoridades e o visitante sente-se inibido de fotografar o que quer que seja. E depois há aquelas nações onde nunca se sabe o que se pode fotografar ou não. Bem, isso é uma das vantagens das viagens espartilhadas pela Coreia do Norte. Os guias nunca deixariam o seu grupo aproximar-se de algo interdito.

Os telemóveis foram proibidos no país até 2013. Os visitantes teriam que os deixar ao cuidado dos serviços fronteiriços durante a duração da viagem, recebendo-os de volta à saída. Actualmente a questão já não se coloca e pode-se usar telemóveis por lá, apesar de ser necessário usar um SIM local (preços muito razoáveis) e, surpresa das surpresas, poder-se mesmo usufruir de Internet móvel (preço nada razoável).

E há algumas coisas que não possa levar? Teoricamente, lentes com zoom superior a 150 mm, mas parece que essa regra não é implementada desde há muito tempo. Provavelmente unidades dedicadas de GPS, apesar de não ter encontrado informação especifica. Tudo o resto, é sem problemas. Computadores, livros, tudo.

O ponto de encontro para o início da grande aventura é em Pequim. Note que sendo português ou brasileiro (no total são 45 nacionalidades) pode permanecer nesta cidade chinesa durante três dias (72 horas) sem visto, o que é excelente para o contexto… não só pode dar uma vista de olhos como pode chegar à Coreia do Norte sem esta despesa (e chatice) adicional que seria o visto para a China. Se não encontrar uma forma económica de voar para Pequim, pode sempre ir para outros países asiáticos, como a Tailândia, e voar depois localmente, com a Air Asia.

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Imagem: “North Korea (5015839378)” by Roman HarakNorth Korea. Licensed under CC BY-SA 2.0 via Wikimedia Commons.

A partir daqui pode descontrair. Está (quase) tudo incluído no preço da agência que organiza a viagem e não tem que se preocupar com nada. Os voos a partir de Pequim, o alojamento e toda a alimentação estão incluídos nos preços das tours. Apenas pequenas despesas pessoais, o visto e as gratificações aos guias (cerca de 25 Eur) serão geralmente adicionadas ao orçamento.

Os grupos costumam ser limitados a vinte pessoas, enquadradas por um ou dois guias locais e um guia ocidental (não sei se todas as agências seguem este modelo, mas algumas fazem-no e será melhor verificar isto).

Quanto aos programas, são bastante bons. Há-os para todos os gostos, genéricos ou temáticos, de poucos dias ou estendidos. E até construidas de forma personalizada, para quem queira e possa gastar mais dinheiro. Existe grande foco nas mega-cerimónias que de facto são uma imagem de marca da Coreia do Norte. As comemorações do aniversário do “Grande Lider”, por exemplo, são o núcleo de uma tour de sete dias. Existem programas focados na arquitectura de Pyongyang e programas dedicados às caminhadas e ao campismo. Os mais económicos, a rondar os 950 Eur, são de 4 ou 5 noites, e os mais extensos, a 2000 Eur, chegam às 9 noites e incluem tudo o que é possível incluir, passando por todos os cantos do país. O melhor mesmo é visitar a página de uma das companhias (ver abaixo) e vasculhar todas as opções.

Como saber mais e como encontrar estas tours? No artigo Wikitravel dedicado à Coreia do Norte encontrará uma lista exaustiva das agências autorizadas.

20 COMENTÁRIOS

  1. Parabéns! Está excelente, óptimas dicas acerca do que se pode ou não fazer, levar, como chegar, etc. Mas… e aquilo que nos deixam ver, vale a pena? Ainda tenho muito para visitar antes da Coreia do Norte, mas está sem dúvida na lista.

    • É uma excelente questão e que ainda agora me mantém ocupado. Por um lado deve ser espectacular ver coisas tão diferentes, tão reservadas. Por outro lado sabemos que se trata quase de um espectáculo preparado para nós. Para mim acho que vale a pena – leia-se, os 800 Eur. Mas pelo sim pelo não, em vez de os ver sair directamente do meu bolso, estou a juntá-los num mealheiro.

  2. Caro Ricardo Ribeiro, sou leitor atento das suas “cronicas” de viagens, pois eu tb sou um viciado nelas mas nao atinjo, por agora, a sua coleccao. Continue. Abr.

  3. Não é bem mais económico ir diretamente à embaixada da Coreia do Norte em Pequim e aí conseguir uma excursão?

    • Oi António, não sei se existe essa possibilidade, se existir essa informação por favor manda, para eu melhorar o artigo 🙂 Se for apenas uma tentativa, não sei, é algo demasiado “grande” para se ir à tentativa, eu preferiria ir com as coisas garantidas, tão garantidas como o podem ser quando se fala da Coreia do Norte.

  4. Portal das Comunidades Portuguesas

    “Rede de Telecomunicações: As comunicações telefónicas internacionais são possíveis mas estarão sempre sob escuta ou fiscalizadas. É mais barato ligar da recepção do hotel do que a partir do quarto.
    Não é permitida a utilização de telemóveis. Os visitantes deverão entregá-lo na alfândega, aquando da entrada no território, o qual será devolvido à saída. Durante a estadia, também não terão acesso à Internet ou E-mail.
    A rede de telemóveis local não permite chamadas para o exterior.”

    Informação de 2015.

    https://www.portaldascomunidades.mne.pt/pt/conselhos-aos-viajantes/c/162-kp

  5. Não pensava que fosse tão “fácil”! Assim fico com um novo ânimo para visitar esse país, sem dúvida. Mas para já, o meu mealheiro está a ver se me leva ao Butão (ainda não está a metade…). Excelente artigo 😉

    • Ahahah pois é, o próximo mealheiro é mesmo para o Butão, isto é, se não mudar de ideias a meio e for já este. Devem ser os países do mundo mais caros de visitar, e custam mais ou menos o mesmo.

  6. Boa tarde sabe me dizer se para entrar na Coreia do Norte tem que ser obrigatório ir com agência ou se há maneira de ir sem ser em excursão.. muito obrigado

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