Depois da tempestade, a bonança. O primeiro dia verdadeiramente solarengo, apenas com algumas nuvens, isoladas, a pairar no céu azul. E em boa altura chegou, pois que para este Domingo tínhamos grandes planos. Não será despropositado informar o leitor, que eventualmente estará a preparar a sua viagem a Copenhaga, que no primeiro Domingo de cada mês, é altura de borla geral no sistema de comboios suburbanos da capital dinamarquesa. É isso mesmo. Livre trânsito! Fartar vilanagem!

Em dia santo fomos honrados com a companhia da Aase, pelo menos na parte da manhã. Saímos juntos, tendo como primeiro destino a feira de rua de Holte. Numa das praças da cidadezinha as pessoas expuseram as suas mercadorias, essencialmente velharias, coisas que andavam lá para casa à espera de uma oportunidade de mudarem de mãos, de serem úteis uma vez mais. No fundo, não vimos algo de muito diferente. O mesmo estilo, o mesmo ambiente, as mesmas bancadas. No Algarve as feiras de velharias que ocorrem a cada Domingo são mesmo assim. Mas é sempre divertido, e passámos ali um bom momento.

Depois, apanhámos um autocarro, rumo ao Museu ao Ar Livre. Foi o primeiro museu deste tipo que visitei, e fiquei fascinado. A seguir a Christiania, viveu-se aqui o segundo momento alto da viagem. Já sabia mais ou menos ao que ia. Tinha lido comentários de anteriores visitantes e visto fotografias. Antes de penetrarmos no recinto do Museu, houve tempo para encontrar uma cache no seu exterior. Enquanto tratava dos trâmites habituais, as senhoras esgueiraram-se para uma loja de porcelanas e de outras artes do género que estava ali à beira. Juntei-me a elas a tempo de conhecer a castiça proprietária do estabelecimento, que falava pelos cotovelos e que ficou entusiasmada com a presença de visitas de Portugal. Que já cá tinha estado, há muit0s anos, ainda antes do 25 de Abril. Tinha vindo a uma exposição de arte. E tanto gostou de nós e do interesse genuíno que demonstrámos pelas suas artes, pelos seus produtos e pela sua simpática loja, que nos ofereceu um poster promocional da tal exposição, muito antigo, que por lá tinha. Estendeu-nos um, pequeno… depois hesitou, olhou para nós… não… que íamos levar um poster sim senhora, que era ela que oferecia… mas dos grandes. E assim foi. Poster esse que até agora aguarda por uma moldura digna, que o abarque, no esplendor dos seus 100×60 cm.

 

 

A seguir, iniciámos a visita a esse espaço mágico que é o Museu ao Ar Livre. Na realidade, um museu etnográfico, que se estende por um amplo parque natural, onde os visitantes encontram casas tradicionais de todas as regiões da Dinamarca e do mundo de influência dinamarquesa, como as distantes Ilhas Feroe. É um mundo de cor, com novas surpresas a cada esquina. As casas encontram-se colocadas de forma natural, muito espaçadas entre si, o que resulta numa réplica exacta do seu ambiente natural, sem misturas bizarras.

De resto, as atracções do Museu não se esgotam nas casas em exposição. A beleza natural do espaço é por si uma razão para a visita. Um ribeiro corre por ali abaixo, aproveitado pelos mentores do espaço para a montagem de um moinho de água, funcional, guarnecido por uma equipa de alegres moleiros que vão fazendo o seu trabalho para deleite dos visitantes. Alguns dos edifícios do Museu são assim, têm vida própria. Um dos pontos mais interessantes é a loja, onde se vendem produtos do antigamente, num espaço organizado e decorado com artes do passado. Uma autêntica viagem ao passado, onde não falta, à porta, uma bomba de gasolina, também ela trazida de outros tempos. Mesmo ao lado, num salão de baile, uma associação de amizade sueco-dinamarquesa promove uma pequena festa. Do seu interior escapam-se os sons produzido por um pequeno grupo de músicos bonacheirões, enquanto na pista de dança uma meia dúzia de pares já bem entradotes regressam, também eles, ao seu passado, evoluindo ao som de badaladas cheias de história.

 







 

A recriação da vida da aldeia é completa, e os animais de criação não falta. De forma tão realista que um ganso, insatisfeito com algum movimento que considerou mais atrevido, perseguiu a bom perseguir a pobre Aase, que ainda suou um bom bocado até se ver ao abrigo do agressor penado. Mas nem toda a bicharada era assim, agressiva. De forma que foi um mimo alimentar galináceos e patos numa pequena lagoa de águas calmas, que se desvinculava do rebuliço da ribeira que descia a encosta a grande velocidade.

Se observar o exterior daquelas tão díspares casas era um mimo, poder entrar e ver um fragmento da vida dos que ali nasceram e morreram foi o clímax. Tantas histórias que por ali existem, por contar, apenas acessíveis aos que as conseguem sentir nos detalhes mudos.

 

 

Terminada a visita, apanhámos o autocarro até  Lingby, onde nos despedimos da Aase, que queria ir à sua vida, e seguimos de comboio para Hilerod, umas quantas estações a norte de Holte. A ideia era visitar o palácio de Frederiksborg, já que não queríamos pagar a fortuna em comboio (este não era considerado suburbano, logo, era a pagantes) para Helsingor. E que boa foi a ideia alternativa! O passeiozito desde a estação até aos terrenos do palácio foi excelente, levando-nos através de uma pequena cidade cuja comunidade celebrava a chegada dos agradáveis Domingos de Primavera: as pessoas estavam na rua, havia alegria no ar…. as esplanadas, junto às margens do lago que banha Hilerod, estavam cheias, e nos relvados os mais jovens estendiam-se, embalados pelos tépidos raios de sol.

 

 

O palácio de Frederiksborg foi inicialmente construído sob o mando do rei Frederico II, que está na origem do nome do edifício. Contudo, a maior parte do actual palácio foi desenvolvido já no início do século XVII, quando o rei Cristiano IV, que contratou os melhores arquitectos flamengos para lhe darem o toque “holandês” de que este rei tanto gostava, e que de resto pode ser encontrado com abundância em Copenhaga. Com a morte de Cristiano IV o castelo deixou de ser usado como residência real, e foi preciso chegar a meados do século XIX e pelo reinado de Frederico VII para que Frederiksborg recuperasse esse importante estatuto. Contudo, numa noite, em 1859, o interior do palácio foi consumido pelas chamas, para pavor do monarca, que se encontrava a residir por lá. A reconstrução do espaço foi financiada por subscrição pública.

 


 

Explorámos os pátios interiores, apreciando o contraste entre o céu azulão e os avermelhados materiais de construção empregues em Frederiksbork. As fontes jorravam águas e toda a gente parecia feliz. Os cuidados jardins adjacentes e o parque, mais natural, encontravam-se repletos de dinamarqueses que, como nós, gozavam da influência positiva do sol, ultimamente tão tímido.

 


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