Pela janela desfilam as últimas imagens da Coreia do Norte. Se tudo correr dentro do planeado, dentro de cerca de duas horas chegarei à fronteira.

O comboio é longo, sento-me na cama debaixo, sobre a qual existe uma segunda e ainda uma terceira plataforma. Apesar da composição efectuar um percurso exclusivamente diurno.

Os lençois instalados estão incrivelmente sujos, pejados de manchas e há um omnipresente aroma a tabaco ao qual me habituei passadas umas horas.

A partida deu-se às 10:20. O grupo saiu do hotel às 9:00. Quase toda a gente prossegue a viagem pelo país mas eu optei pela versão mais curta, de três dias que foram transformados em dois. Não contando com os dias de chegada e de partida, inteiramente de trânsito.

Não haverá portanto muito a relatar nesta página da crónica. Em Dandong será necessário cumprir as formalidades de fronteira, de um lado e de outro, e lá terei à minha espera uma das guias da YPT com o meu bilhete para Bejing.

Entre a chegada e a partida existem duas horas, que no horário parecem ser apenas uma, pois na China o fuso horário é diferente. Tempo adequado para me abastecer de bebidas e qualquer coisa para comer numa loja de conveniência, de resto já conhecida, da viagem de entrada.

Depois será o longo percurso até Pequim. 1300 km, que entrarão pela minha noite dentro.

O segmento coreano da viagem fez-se com atraso. Nem tinha dado por isso mas de repente o tempo começou a ficar curto. As formalidades de saída da Coreia do Norte duram algum tempo, apesar de serem relativamente simples: primeiro passam os guardas de fronteira, levantam os passaportes de toda a gente, depois distribuem uma folha para declaração de bens, um passo simbólico a que ninguém liga muita importância. E por fim, segmento do comboio por segmento, os passageiros passam pela inspecção de bagagem, a parte mais simples de todo o processo que se completa em segundos.

Segue-se a travessia da ponte que passa sobre o rio que aqui serve de fronteira e o pior mesmo é a fila para controle de passaportes do lado chinês. Poucas cabines para tantos passageiros e uma espera de 45 minutos em fila.

A Michelle, guia da YPT, está no exterior com os nossos bilhetes para Pequim. Leva-nos até onde pode sem ser barrada pela segurança e logo estamos a bordo do comboio chinês.

Boas instalações. Até ver, uns dez países depois nestas andanças de noites passadas em comboios, a China oferece a melhor experiência. Os comboios são confortáveis, silenciosos e oscilam pouco. Os passageiros são civilizados (nunca pensei um dia escrever isto sobre os chineses), as casas de banho são mantidas em condições aceitáveis, há venda de snacks e bebidas, recolha de lixos, tomadas de energia, roupas de cama limpas. Um rol imenso de mordomias, e pelos 1300 km o bilhete custava 244 CNY, uns 30 Euros.

Até à hora da deita fui falando com os companheiros de viagem, um par de irmãos holandeses, e com um chinês com um inglês perfeito que veio meter conversa. Também os vizinhos da frente falavam esta língua sem problemas. Tivemos sorte com as companhias, porque no troço coreano vinham dois tipos bem vestidos que sabiam um pouco de inglês e que foram bastante úteis no entendimento das situações.

Bem, 23 horas. Meti-me na cama depois do xixi e dos dentes lavados, ataquei um capítulo do livro sobre o Líbano que ando a ler e adormeci. Dormi bem. Acordei à 1:30, processei fotos durante meia hora e dormi de novo. Até quase à chegada.

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