30 de Abril

Acordar de manhã, assim como se fosse para o emprego que não tenho nem quero. Tomar um pequeno-almoço apressado, lavar os dentes a correr e pegar na mala. Rotinas quotidianas de tanta gente, mas para mim algo reservado para os dias extraordinários, aqueles em que sei que acordarei num local e ferrarei no sono a uns quantos milhares de quilómetros de distância.

O primeiro trecho da viagem foi um sossegado vôo para Stansted, na região de Londres. Sem criancinhas nem hooligans, sem adolescentes excitados nem jogadores de golfe ébrios, sem gordos na cadeira do lado nem pessoal de bordo histérico. Uma maravilha, que deu para ler, dormir e descansar. Em menos de nada estava anunciada a aproximação à pista daquele que começou por ser um aeródromo construido para a Força Aérea dos Estados Unidos, e que seguiu a sua vida como base militar da NATO durante a Guerra Fria até ser adoptada pela Ryanair como a sua sede operacional.

Depois foram três ou quatro horas à espera da ligação final a Vilnius. Passaram-se num instante, e em menos de nada estávamos a embarcar no próximo Ryanair, já não tão sossegado e isento de criaturas perturbadoras. Um lituano com muitissimos quilos a mais senta-se ao meu lado e toma desde logo metade do espaço que me pertence por direito. Mais tarde, à chegada, terei que fazer um esforço para endireitar a coluna, deformada por duas horas e meia de um “S” forçado, para o lado esquerdo. Para apimentar as coisas, do outro lado do corredor, uma fileira à frente, segue uma criança que parece já ter nascido mal-humorada e que não dará tréguas. Acabo por me enterrar num filma que vejo no netbook (Four Lions) e que ajuda bastante a passar o tempo. Mesmo com tanta adversidade, terminada a fita, já estamos a chegar.

Vilnius está duas horas à frente do nosso GMT, e quando saimos, apesar de já passarem das 21:00 ainda o dia está a despedir-se. Calor. Ironia das ironias. Nesta terra, onde ainda há pouco mais de três meses as pessoas batiam o dente com vinte e muitos graus negativos, está agora uma brasa que nos parece tropical, vindos do nosso Portugal, onde se vive uma Primavera que nos oferece 7 graus pelo pico da noite.

O aeroporto da capital lituana é uma ternura. A sério. Quando se vê o terminal do avião, e depois, quando se segue o percurso habitual até às portas de saída, está à altura de qualquer outro aeroporto internacional. Mas assim que se franqueiam os portões para a área pública, entra-se num outro mundo, e o moderno aeroporto parece agora uma doce estação de comboios provincial.

Sair do edíficio implica descer uma pequena escadaria, e, olhando por cima do ombro, fica confirmada a primeira impressão. Poderia jurar que estava a abandonar uma estação de comboios tradicional. Mas há pouco tempo para estas contemplações. A Elena aparece logo, sorridente, com aquele seu estilo vibrante, dando aquele abraço e indicando o carro onde Ginte nos espera. Tinhamos conhecido estas duas raparigas, violinistas da orquestra nacional lituana, durante uma viagem pela Catalunha, onde fomos hospedados pelo mesmo “maluco”. E agora era altura de cumprir a promessa antiga deuma visita a Vilnius.

Logo nos levaram à casa de câmbios que opera sem cessar junto à estação de autocarros, antes de nos permitirem largar as mochilas no apartamento que seria o nosso lar nas três noites seguintes. E estava já na hora de experimentar o “pub” tradicional lituano, com acesso a uma respeitável colecção de cervejas produzidas em pequenas fábricas pelo país fora. O proprietário, de aspecto alucinado, não é amigo de sorrisos, mas o seu produto , esse, faz-me sorrir. Não é todos os dias que tenho acesso a canecões de meio litro por cerca de 1 Euro, e os petiscos também não são de desdenhar. O grão com bacon e carne picada frita, as favas , muito mais claras que as nossas, muito condimentadas, com um sabor extraordinário.  E ali ficámos, um bom período de tempo, saboreando aqueles pitéus com as nossas amigas, agora reforçadas pelo Mantas, marido da Elena, que também tinhamos conhecido em terras da Catalunha.

Propuseram-nos um passeio a pé pela antiga Vilnius, e assim foi. A noite começa a arrefecer, e apesar de vésperas de feriado não se encontra muita gente pela baixa. Alguns locais, uns quantos grupos de turistas, especialmentes de países vizinhos. Ouvimos histórias e tradições, são-nos mostrados edíficios de valor e sítios curiosos.

Antes de terminar a noite, tempo para mais uma cerveja num outro bar, mais convencional, seguida de uma segunda “tour” pela Vilnius antiga.

As instalações são de rei. Temos um apartamento privado, que a irmã da Ginte detém junto ao centro da cidade. Ela está a viver em Inglaterra e por ora a propriedade fica ao dispôr das visitas. Durmo muito bem.

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