4 de Maio

 

Este é daqueles dias em que há muita fotografia mas pouca coisa a dizer. A maior parte do tempo foi passada no parque etnográfico (nome oficial: Lietuvos Liaudies Buities Muziejus), sem dúvida um dos grandes objectivos para esta viagem à Lituânia. A cerca de 20 km de Kaunas, este parque exibe uma colecção notável de casas tradicionais, trazidas dos quatro cantos do país. Por alguma razão, este tipo de museus é-me irresistivel. Vi o primeiro na Dinamarca, depois mais dois na Roménia e um na Bulgária. Parecem ser relativamente comum na Europa de Leste mas nem tanto para os nossos lados, o que é uma pena.


O Tomas levou-nos até lá depois do pequeno-almoço. Cada bilhete custou 3 Eur, que valeram o preço até ao último cêntimo. Como quase todos os que passei na Lituânia, o dia estava quente e cheio de sol. Condições ideais para este tipo de actividade.



Com os seus 195 ha este é um dos mais museus do seu género na Europa. No seu terreno podem ser observados cerca de 149 edíficios tradicionais. Muitos deles encontram-se abertos ao público, e o seu interior revela uma realidade rural que há muito desapareceu das nossas aldeias mas que continua viva nas regiões mais remotas da Lituânia.


O passeio completo leva 7 km, e não é de estranhar que muitos visitantes optem por alugar bicicletas na recepção. Mas nós, claro, caminhámos. Momento alto: o testemunho da velhota responsável pelo recanto dedicado à saga dos lituanos deportados pelos soviéticos após a II Guerra Mundial. Com o seu charme de avó simpática, muito bem vestida, de forma moderna e cosmopolita, ela contou-nos na primeira pessoa (devidamente traduzido pelo Tomas) a forma como foi levada até à Sibéria, alargando o discurso para o plural. As famílias foram separadas, homens para determinadas regiões, mulheres e crianças para outras. Todos forçados a construir as suas precárias habitações, em terras geladas, sem recursos nem ferramentas. As rações, reduzidas ao mínimo, levaram dezenas de milhares à morte. E os trabalhos não cessavam. Recolha de matérias-primas, sobretudo. E quem eram os pobres desgraçados condenados a este destino? Simplesmente todos os que na sua terra Natal pudessem ter alguma influência sobre as comunidades e colocar obstáculos ao domínio soviético: professores, escritores, agricultores abastados, políticos. No mesmo local encontra-se um vagão utilizado nas deportações, e no seu interior uma pequena mas interessante exposição sobre o processo.


Também muito agradável foi chegar à réplica de pequena cidade que se encontra no centro do parque e descobri um cafézinho onde me deliciei com um par de refresantes cervejas. O espaço é acolhedor, pintado em cores alegres, e a senhora que lá atende ajuda a quebrar o mito do mau serviço na Lituânia.


 Enfim, um programa em cheio que nos tomou a maior parte do dia. E tão cheio de surpresas e detalhes deliciosos, como a sauna tradicional, mantida em pleno funcionamento, ou o moinho de três andares, pronto para ser descoberto pelos mais curiosos. Os simpáticos cavalos, o carro de bombeiros ao serviço do parque (imagino que ter um espaço destas dimesões cheio de casas de madeira e telhados de colmo seja preocupante), a réplica da escola, a variedade de colmeias, de tantas formas e cores.


Terminada a visita, demos uma vsita de olhos à igreja da comunidade ali próxima, que tem uma particularidade notável: foi transportada de um local que hoje se encontra submerso pelo lago de Kaunas, tal como a nossa aldeia da Luz no Alqueva.

Tempo de regressar à cidade e de parar para explorar um dos fortes do complexo de defesa construido pela czarina Catarina da Rússia, como medida preventiva contra um eventual ataque prussiano. Apanhámos a jeito o forte VI, e não foi especialmente excitante. Quer dizer, não há nada para bisbilhotar, é tudo interior, subterrâneo e bem selado.


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