O dia em Gondar foi deveras bem preenchido. Logo pela manhã à hora de abertura, estávamos à porta do complexo de palácios de Gondar e fomos os primeiros a comprar bilhete e a entrar no recinto. Este conjunto é o que resta de uma série de palácios construídos sucessivamente pelos governantes do reino de que Gondar era capital, datando essencialmente dos séculos XVI e XVII.

A atmosfera estava ideal… um céu azul lindo de morrer, uma luz magnífica, temperatura ideal e, de início, mais ninguém por ali. Os palácios e outras estruturas foram visitados com calma, de forma a atentar em todos os detalhes. Na realidade o primeiro que se encontra é mesmo o mais interessantes, com áreas interiores bem preservadas, uma surpresa reservada a cada esquina. Uma pessoa ali sente-se parte da história, do passado deste país. Com facilidade a imaginação nos leva para a Gondar de então, uma cidade rural e com um comércio fervilhante, onde as pessoas vinham prestar vassalagem ao soberano e eram aqui recebidas, nestes mesmos salões em que agora podemos entrar.

Nos relvados vê-se uma família etíope que vem visitar. Uma senhora que faz a limpeza do espaço. Um menino que ajuda o pai, jardineiro, arrastando com ar digno uma enorme mangueira. Um outro pai, este com cinco meninos, que traz para ver o esplendor de Gondar. Depois começam a chegar os primeiros estrangeiros. Já estamos no fim. A saída é do lado oposto à entrada, mais próximo do centro da cidade, e logo estamos de volta ao bulício, em frente a uma estrada movimentada, onde há tuk-tuk azuis que passam sem parar assim como táxis da mesma cor e alguns carros privados.

 

Há uns três ou quatro edifícios principais e uma série de outros, de menor importância, para além de um conjunto de jaulas para leões que até há relativamente pouco tempo eram utilizadas. Uma boa parte da manhã foi aqui passada. Uma rica manhã, com um tempo agradável. Escusado será dizer que tirei dezenas de fotos, nesta fase da minha vida de colector de imagens um bocado estranha, em que divido a minha atenção entre a velha Nikon, ao bom estilo antigo, e um telefone dos melhores que ainda para fotografar.  O futuro dirá como é que isto vai evoluir.

Depois do complexo palaciano, fomos até um outros palácio, cuja visita está incluída no preço do bilhete já pago. Foi uma bela caminhada, dando para observar a vida local e sentir melhor o pulso à cidade. Felizmente era sempre a descer, porque ainda foram uns 3 km e estava algum calor.

O tal palácio era interessante, mas seria uma experiência muito melhor se o lago que o rodeia, fazendo dele uma espécie de ilha, estivesse cheio. Assim, fica um pouco estranho, como se algo estivesse mal. Felizmente a sombra era abundante e deu para restaurar forças. De qualquer maneira o regresso fez-se de tuk-tuk.

A seguir foi tempo de sentar numa esplanada discreta e encomendar pizza. A pizza na Etiópia é geralmente muito má mas é uma adição bem-vinda à dieta, trazendo uma relativa normalidade ao paladar e ao estômago. Esteve-se ali bem, numa excelente posição para observar pessoas sem ser visto.

O local era bem no centro e dali seguimos a pé para casa. Queria contudo fazer uma paragem num local antes. Um sítio com “fantasmas”, que durante o período do Derg tinha sido usado como centro de tortura e detenção. Tinha lido que se encontrava encerrado há muito tempo mas de qualquer modo, até porque era mais ou menos de caminho, fiz questão de passar por lá. E qual não foi a surpresa quando descobri que tinha sido transformado em museu e estava aberto!

 

Pagámos logo o pequeno valor da visita, que ainda por cima incluía guia. Bem, o guia eu dispensava, mas o velhote lá foi dando umas dicas, acendendo e apagando as luzes e mostrando o caminho. A antiga prisão, que antes era palácio, foi uma visita impecável. Vimos os aposentos do imperador, que ali pernoitava quando viajava para Gondar, a varanda de onde se dirigia à população, e uma série de salas mobiladas, observando os painéis explicativos, muito bem conseguidos.

A visita acabou no terraço superior, onde o senhor fez a conversa para receber algum dinheiro. Mas não. Não é culpa minha que a visita seja guiada. Por mim preferia que não fosse. E não.

O dia estava a ser bem preenchido, mas antes de mais uma sumptuosa refeição no Three Sisters fui visitar uma igreja, um pouco afastada do centro, mas que resultou num belo passeio. A tarda chegava ao fim e a luz era mágica. O padre de serviço lá me deu uma explicação, em amárico, claro. Mas o melhor era mesmo aquela luz e a sua projecção sobre a igreja. Andei por ali um pouco a usufruir do momento e com isto, por assim dizer, tinha chegado ao fim a visita a Gondar.

 

 

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