Das “Fotografias com História” apresentadas neste blog, esta será das que terá menos. Não há peripécias envolvidas na obtenção da “chapa” nem grandes explicações sobre o disparo. A fotografia foi tirada junto à margem do lago Bled, na Eslovénia. Com a sua pictoresca ilha vigiada lá de cima pelo castelo, este bucólico lago tornou-se numa das grandes atracções turísticas do país. Todos os verões o local é invadido por viajantes, estrangeiros e nacionais, que enchem de animação a pequena povoação com o mesmo nome.

Mas como será viver ali, em permanência? Esta é uma questão antiga, que já me intrigava quando, adolescente, passava os longos meses das férias grandes em Vila Nova de Milfontes. O que aconteceria depois da partida, quando o último veraneante abandonasse a então pacata aldeia do litoral alentejano? Como poderiam os jovens ali nascidos preencher o enorme vazio deixado por aquela torrente de paixonetas de Verão? Ao ver aqueles três “putos”, sentados no banco à beira do lago, não pude evitar ser arrastado no tempo e regressar a essa antiga questão. Também ali, em Bled, naquela comunidade perdida onde nada sucederá entre uma vaga e outra, como poderão estas alminhas viver o tempo que os separa da próxima invasão sazonal?

Quando por ali passei era Abril. Aos fins-de-semana Bled já se enche, mas naquela Segunda-feira estava tudo vazio. Os parques de estacionamento pagos – ou seja, todos – encontravam-se às moscas. Ali a uns oitocentos metros, nas ruas da aldeia, pouco ou nada se passava. Mas estavam lá eles, junto à margem, dois rapazes e uma rapariga, de uns 16 ou 17 anos, partilhando o charro. Gostaria de poder ouvir – e compreender – a sua conversa. Seria sobre os sonhos de uma vida? Sobre amores e desamores? Ou apenas sobre nada, ouvindo o silêncio das águas ali defronte? Porque é bom, ter este luxo de se poder pensar que há todo o tempo do mundo, e que aquela amizade será para sempre. Como seria o seu dia seguinte, nas horas em que não estivessem sentados à beira do seu lago a fumar erva? Talvez a ver séries americanas de TV, a jogar Playstation 3 ou a fazer sexo. Talvez sentados toda a tarde num qualquer café, a esvaziar latas de cerveja até à embriaguez esperada. E pronto, é esta a história desta fotografia, mais pensada do que vivida, mais sentida do que experimentada. Porque também estas são histórias que poderão valer a pena serem contadas.

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