Naquele dia, que era o meu segundo na capital da Bósnia, passei por um mercado. Mas não era um mercado qualquer. Tal como esta fotografia, tinha a sua própria história, e não era brilhante: foi aqui que ocorreram dois dos episódios mais sangrentos do cerco de Sarajevo, entre 1994 e 1995. Por duas ocasiões o mercado, cheio de pessoas, foi alvo de fogo de artilharia. Houve dezenas de vítimas e do segundo destes ataques resultou a decisão da NATO de intervir militarmente no conflicto, uma decisão que em última instância conduziu ao fim da guerra (para mais detalhes sobre os incidentes, Artigo Wikipedia – Markale Massacres).

Naquele dia estava tudo pacífico. Os feirantes tratavam dos seus negócios e os clientes cirandavam por entre as barraquinhas. Reparo num par de homens, um bastante jovem, outro já a entrar na meia-idade, numa brincadeira descomunal. Aquilo sim, era trabalhar com prazer.

Quando levanto a câmara para tirar uma fotografia reparam em mim. Aproximaram-se, fizeram uma pose. Notei que o mais novo vestia um casaco de fato de treino da Selecção do Brasil, e, na brincadeira, digo-lhes que não posso tirar a fotografia com um casaco daqueles… teria que ser um de Portugal. O mais velho responde que não há problema, que tapa já aquilo e fica o assunto resolvido. Disparo no preciso momento em que ele demonstra como pode remover da imagem o sinal identificativo da peça de roupa.

O episódio passou-se poucos dias antes do confronto entre a equipa da Bósnia-Herzegovina e a de Portugal, um jogo determimante para apurar qual das duas se qualificaria para o Europeu disputado em 2012 na Ucrânia e na Polónia. Na ocasião ganhámos por uma margem confortável.

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