A cena passa-se no sul da Islândia. O avião é um elemento lendário. Não posso dizer que o local não vem referido em nenhum guia, porque apesar de ter consultado uma boa mão cheia deles, não os vi a todos. Mas a verdade é que “o avião” é uma entidade omnipresente nas conversas de viajantes que cruzam a Islândia. Nunca tendo sido considerado um motivo de atracção pelos organismos locais, não vem assinalado em mapas nem tem direito a uma das sempre presentes placas indicativas na estrada principal. Mas não é complicado descobrir a sua localização.

Um pouco de história: 24 de Novembro de 1973. Um  DC-3 da Marinha dos EUA aproxima-se da Islândia mas surge um problema. Aparentemente o piloto esvaziou os depósitos de combustível pr engano.  Felizmente a terra não está longe. Imagine-se a angústia dos tripulantes, imaginando já uma queda naquele mar gelado e revolto. Mas não, chegam à ilha, e mesmo no fim das suas possibilidades… um par de centenas de metros depois o aparelho aterra de barriga no deserto vulcânico. Nenhum dos membros da tripulação sofreu ferimentos. Os norte-americanos não se deram ao trabalho de recolher a estrutura e há rumores de que um agricultor local acabou por vender as partes que faltam no mercado negro.

E agora os restos do avião estão ali. Da estrada principal até lá são 3 km. Há um claro sinal: apenas acessível com veículos 4×4. Os mais cumpridores farão os 3 km para cada lado a pé, os outros arriscarão e deverão ser bem sucedidos. É uma linha recta, porque é um deserto. Caminha-se sem obstáculos.

Na véspera já tinha sido tentado a vir a este local. Os dias da Islândia aproximavam-se do fim e desesperava: com o mau tempo anunciado não estava a ver uma aberta para aqui chegar. Mas na última manhã a coisa aguentou-se e lá se foi, por aquele deserto negro. Um belo passeio, com avião ou sem ele.

Ao chegar um casal abandonava os destroços. Melhor. Foram quinze minutos com muitas fotografias. O leitor imaginará. Um modelo destes não se deixe em paz depois de meia dúzia de retratos. Há ângulos a explorar, distâncias, detalhes.

Mas tudo tem um fim e a visita conclui-se. No caminho de volta vi uma autêntica hora de ponta. 3 km terão levado 30 minutos a percorrer, mas naquele período de tempo passaram para lá uns 6 carros, incluindo uma carrinha cheia de turistas. Em boa hora deixei o local para trás. No saco trouxe uma catrefada de fotografias, e a que aqui hoje apresento é apenas uma delas. Uma das mais bem conseguidas, creio.

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