Acordar naquele apartamento adorável em Saumur, naquele quartinho repousante, com vista para o castelo, ali mesmo ao lado, enquadrado na janela, como uma pintura numa moldura. O dia prometia ser cheio e sem dúvida que o primeiro ponto na agenda era a visita ao Museu dos Blindados de Saumur.

O pequeno-almoço foi tomado na cozinha, luminosa, impecavelmente limpa, frigorífico bem recheado, ao nosso dispor, porque a refeição da manhã está incluída no preço a apagar, uns muito razoáveis 30 Euros pelo quarto.

O museu é perto da casa. Um par de quilómetros, mais coisa menos coisa, e rapidamente encontrado com a ajuda do Google Maps. Abria às 10:00, chegámos às 9:45. Simples, apenas esperar uns minutos. Uma nota explicativa: Saumur é tida como a capital da cavalaria francesa, repleta de tradição. Aqui existe também o Museu de Cavalaria e o equivalente francês à Escola Portuguesa de Arte Equestre, existindo por vezes espectáculos, um pouco caros para o meu bolso. Ali perto existe uma base militar onde o exército francês mantém uma das suas unidades de tanques.

O museu é bom. Uma excelente colecção distribuída por um número considerável de salas e uma fabulosa loja onde me senti no paraíso. Não me vou alongar porque sei que não são muitos os leitores que têm uma paixão por estas coisas da história militar como eu, mas vale a pena visitar este museu, mesmo para um leigo. Há contudo espaço para melhorias na organização da exposição que tem toques bastante amadores, problemas mínimos comparados com o gozo que a visita me deu.

Despachado o museu, era tempo de visitar alguns castelos do Vale do Loire, um conjunto que é Património Mundial da Humanidade da UNESCO. Ora ao planear esta viagem, pensei que com sorte teria possibilidade de visitar um destes castelos. Mas o dia rendeu tanto que na realidade pude ver uma meia dúzia, um deles por dentro! Foi um sucesso de arromba!

E o primeiro foi o Chateau de Montsoreau, bem próximo de Saumur, onde se chega conduzindo por uma tranquila estrada, sempre correndo ao lago das águas do rio. A aldeia que envolve o castelo, muito pacata, reforça o gosto sentido durante a visita. Não pagámos para entrar, até porque tinha lido críticas menos boas, e como o dia seria longo, andar por ali, junto ao castelo, e observar as castiças casas da localidade foi suficiente.

 

Paragem seguinte: Chinon. Uma pequena cidade com um vasto centro histórico, sobre a qual se ergue um castelo impressionante, que mais uma vez não visitámos por dentro por uma questão de gestão de tempo. À aproximação à cidade, uma paragem para abastecimentos diversos num supermercado, boa experiência como foram todas deste género em França.

Carro estacionado no amplo parque em frente do castelo. Andámos um pouco em redor do amplo perímetro das muralhas. Ainda considerámos ir lá abaixo, ao centro histórico. Havia um elevado e tudo, mas o calor estava a apertar e o relógio avançava. Foi uma visita talvez demasiado breve mas o tempo foi sempre uma condicionante. Teria que ser, quando se tem um carro, centenas de quilómetros para fazer diariamente e se está num país onde a cada curva se encontra algo de interessante.

A seguir o prato principal do dia, o Castelo de Villandry, considerado o mais interessante de todos os do Vale do Loire e também o mais longe que hoje iremos, já nas imediações da cidade de Tours. À chegada um choque: parece que todos os turistas da região se concentraram ali. Do outro lado da estrada, um imenso parque de estacionamento, do tamanho de vários campos de futebol, e quase cheio. Que coisa horrível. Durante um bocado debatemos as possibilidades… visitar ou não visitar. E ficámos, descobrimos um lugarzinho com sombra, debaixo de uma árvore frondosa.

Pagos os 12 Euros de bilhete a primeira surpresa interessante: o panfleto de suporte é em português. Interessante. Após a bilheteira uma francesa linda de morrer orienta os visitantes, aconselha-os sobre as prioridades da visita, onde ir primeiro, onde se demorarem mais tempo.

No nosso caso, como a tarde já ia a meio, sugeriu que se começasse a visita pelo próprio palácio, que encerra um pouco mais cedo, deixando os jardins para depois. E assim foi.

Nesse momento as coisas começaram a definir-se como um dos melhores momentos desta viagem. Não sei, sinceramente não sei, onde estavam toda as pessoas das centenas de carros que se encontravam parqueados lá fora. À entrada do palácio, um pequeno grupo ouvia a explicação de um guia. Seguiram, foram à frente. E  que aconteceu a seguir foi quase um milagre: basicamente não vi mais ninguém. Sala após sala, espaços mágicos, cheios de histórias para contar, um vislumbre de outros tempos. A luz, maravilhosa, entra pelas janelas, realçando detalhes, convidando ao click. Dou comigo a tirar fotografias que já tinha tirado, um sinal da excelência do que vejo.

Sala de jantar, cozinha, quartos, escritórios. Por todo o lado bouquets de flores, reais, que emanam um aroma delicioso que enche os espaços. Tudo deserto, para mim, como se fosse o Senhor de Villandry. Um dos pontos altos, até de forma literal, é a subida ao torreão maior, já no fim da visita ao interior do palácio. Dali tem-se uma vista louca sobre os imensos jardins da propriedade. O sol lá está, quente, amigo. Um momento memorável.

Depois um breve passeio pelos tais jardins, de novo abreviado pelo tempo que não pára mas também pelo calor que é excessivo e não convida a grandes caminhadas. Mas sim, Villandry é um daqueles lugares que dá significado à viagem.

Na saída a maioria dos carros já tinha partido, sem que alguma vez possa compreender onde andava toda aquela gente. E também nós nos fizemos à estrada. A caminho de Saumur, mas ainda com mais um par de surpresas para descobrir.

Langeais, não muito longe, mas já no retorno a casa, foi verdadeiramente uma agradável surpresa. No seu centro ergue-se um imenso castelo (foto no topo deste artigo), já encerrado aquela hora. A localidade é pictoresca e parece estar adormecida. Vêem-se poucos carros e ainda menos pessoas. Mas o seu charme é enorme. Desde a igreja até ao tal castelo, passando pelas antigas casas, algumas medievais, outras simplesmente muito francesas, daquelas que se encontram no nosso imaginário do que deve ser uma aldeia francesa.

Também aqui o carro foi deixado sem problemas num generoso parque de estacionamento próximo do centro histórico. E assim, aos poucos, o dia ia chegando ao fim, mas ainda com espaço para lhe acrescentar mais memórias.

Agora era mesmo voltar a casa. Mas não resisti à indicação, na estrada, para mais um chateau. Este viria a revelar-se uma decepção, mas por outro lado o caminho até lá foi delicioso. Muito rural, quilómetros e quilómetros sem ver outra viatura, muita calma, um descanso, uma condução relaxante, enfim, uma maravilha.

Bendito Junho e as suas tardes sem fins. A França já tinha parado para o descanso que se segue a um dia de trabalho, mas a luz era excepcional e o ambiente inesquecível. O castelo d’Ussé encontra-se separado da estrada por um muro alto e ao contrário dos outros que fui vendo nestes dias, este não era visível a não ser do portão gradeado, bem lá ao fundo.

E pronto, assim se passou o dia. Saumur já não estava longe, desta vez do lado oposto do rio. Estava cansado, já não dava para muito mais, mas era o último serão ali passado e tinha que arranjar energias para me despedir condignamente. Sempre se conseguiu repetir o passeio da véspera. Desta vez, sendo Segunda-feira, as coisas estavam mais calmas. Na praça cheia de vida existiam mesmo assim muitas pessoas, nas esplanadas. Passeámos pelas ruas de Saumur, nas calmas, muito descontraidamente, passando junto à Ópera e à Câmara Municipal, frente à qual se encontrava a feira dos ciclistas revivalistas.

Mais um final de tarde de Verão, agradável, tépida, para descontrair. O jantar era para ter sido no kebab do dia anterior, mas havia abastecimentos com fartura e acabámos por comer em casa. A ver o jogo Portugal – Irão. Com vista.

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