Não posso dizer que a cama fosse particularmente confortável, mas depois do débito acumulado em matéria de sono, dormi a bom dormir e eram umas 10 quando finalmente despertei. A partida para Santorini seria apenas às 17:00 mas foi-nos pedido para comparecer no local de embarque uma hora antes. Como haveria que contar com o transporte das mochilas, era evidente que o dia estava destinado a render pouco.

Acabámos por nos despachar de forma a apanhar o autocarro das 11:50, mesmo à porta de casa. O trajecto até Rhodes foi tão confuso como o da véspera. Caminhámos junto à água, na direcção oposta à da véspera. Passámos junto ao enorme bar do serão anterior e continuámos até ao início da praia. O vento soprava forte, como de resto tinha sido previsto pela metereologia, o que me deixava apreensivo quanto à viagem por barco e ao balanço que iria sofrer. Ali, junto a nós, uma horda de turistas parecia indiferente à ventania. Não eram muitos os que se banhavam, mas a praia estava quase cheia. Enquanto andávamos, viamos os guarda-sol de cores diferentes, alternadas, indiciando concessões distintas, e conferindo um toque pictoresco ao local. Mesmo à beira da praia os “carneirinhos” marcavam de branco as águas do Mediterrâneo, onde se viam dois tons contrastantes de azul: um, muito denso, mais afastado da costa; outro, de um azul muito claro, que não se vê em parte alguma da costa portuguesa.

O tempo foi passando, e estava na hora de começar a preparar para a partida: deveríamos almoçar, pois claro, no restaurante da véspera, e depois comprar mantimentos para a viagem de mais de oito horas, sem falar na marcha relativamente longa até ao porto de “ferries”.

Com a ajuda do GPS encontrou-se facilmente o Pittpapou, onde pedi uma pitta igualzinha à que me deliciara no serão anterior, mas desta vez reforçada com uma espetada de galinha, que me tinha ficado na retina antes do Josh devorar a sua. Se a pitta era barata, a espetada ainda mais: 1,90 Eur!

Já de barriguinha muito cheia, fomos andando em direcção ao porto, passando por uma série de pequenos supermercados e bancas de rua onde comprámos uns bolos, sandes, chocolates, frutos secos… tudo bastante caro, muito acima dos preços do nosso mercado.

Chegámos finalmente ao ferry e que surpresa! Desde o primeiro momento que a impressão foi muito positiva. Membros da tripulação, imaculadamente uniformizados, encaminhavam os passageiros para as áreas devidas. Depois, os interiores, quase luxuosos, mais próprios de um paquete transatlântico do que de um ferry mediterrânico. As áreas, todas bem pensadas, decoradas com gosto e equipadas com funcionalidade, criavam um problema: que local escolher? Em alguns recantos, painéis decorativos. Muitas portas que davam acesso ao exterior, mas que as pessoas não procuravam. Eu, do decorrer da viagem, fui várias vezes ao convés de fora, e deliciei-me. Descobri uma plataforma elevada, com acesso por escada, com uma candeira branca de plástico, que me propiciou um pouso bastante conveniente. Mas como procurava a variedade de perspectivas, aprendi a mudar rapidamente de bombordo para estibordo, não sem antes ter descoberto acidentalmente os corredores das cabines privadas. Em suma, passei uns momentos divertidos a explorar o navio.




O barco de Rhodes para Santorini

No interior, vários cafés e restaurantes, e muitas mesas junto a vastas janelas envidraçadas. Tudo foi pensado e desenhado tendo em conta o conforto dos passageiros. Em muitos locais existiam fichas eléctricas. É possível utilizar-se Internet Wi-Fi que, sem ser gratuita, tinha mesmo assim um preço perfeitamente razoável: 3 Eur por cada bloco de duas horas. Diversas televisões, espalhadas estrategicamente pelas câmaras, exibiam programação variada. Se as primeiras impressões tinham sido muito positivas, havia ainda o receio de enjôo, até porque o mar estava encapelado. Tinha tomado o comprimido para prevenir esse mal-estar, mas em vão: o navio sulcava as águas agitadas do Mediterrâneo sem nenhuma oscilação!

Contudo, já na parte final do trajecto, muito depois da paragem na ilha de Kos, as coisas modificaram-se um pouco, com um mar de menos feição, a criar enormes paredes de água à medida que a proa do navio enfrentava as vagas. Apesar de terminada a calmaria a coisa não se extremou e acho que cheguei mesmo a dormitar, embalado pela ondulação.

Em suma, uma viagem em grande, que recomendo a todos. A companhia Blue Star Ferries providencia um serviço de qualidade claramente acima do preço pedido. Para chegar a Santorini paguei cerca de 32 Euros. Uma viagem de pouco mais de 8 horas, significando uns 220 km de distância. Apenas um pouco mais do que me foi pedido para passar de Lanzarote para Fuerteventura, num barco ranhoso e oscilante, que levou cerca de 45 min a percorrer a distância rídicula que separa essas duas ilhas. Se receava o enjôo e o tédio, cedo percebi que as coisas seriam bem diferentes, pela positiva. Com todas estas condições pude ler, escrever, processar imagens… explorar o navio, apreciar as vistas. Nota muito positiva!

À chegada ao porto de Santorini, procurámos o nosso condutor, que nos levaria ao hotel. John era o seu nome, e nos dias que se seguiram descobrimos que longe de ser um rústico, tinha uma vida plena e muitos pontos em comum: originário de Tessalónica, tinha vivido uns anos nos EUA, depois, no Reino Unido… regressou à Grécia há cerca de seis anos, para descobrir que a sua Pátria tinha mudado para pior. Conteve o seu descontentamente e perante a necessidade imperiosa de mudar de ares, fê-lo sem mudar de novo de país, e fixou-se em Santorini. O seu trabalho no hotel é um complemente ao seu desempenho freelancer na área do webdesign. Faz hiking e é (aliás, foi) Couchsurfer. Um mundo pequeno.

O hotel Popi é uma pequena maravilha: os aposentos são modestos, claro. É que estamos a pagar 24 Eur por noite por um quarto duplo. Inclui Internet Wi-Fi na área comum e pequeno-almoço, assim como recolha e entrega no porto, especialmente precioso considerando as horas tardias de chegada e partida. O quarto tem acesso directo para o exterior, para um terraço que corre em redor do pequeno edíficio do hotel. Lá fora, uma pequena mesa e duas cadeiras. Muito sossego, muita privacidade. Pode-se estar de porta aberta, a apreciar o ar fresco que vem do mar, que se avista ali mesmo, a cerca de 2 km.


Escala em Kos

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