cuba-geral

 

Este artigo é  um guia básico para quem deseje preparar uma viagem a Cuba. Informações essenciais, práticas, daqueles que são perguntadas todos os dias. Está cheio de dicas para visitar Cuba. Quanto custa, onde comer, onde ficar, que transportes apanhar e como o fazer. Isto e mais serão as matérias nesta nova rubrica do Cruzamundos.

 

Alojamento

Basicamente existem três formas de alojamento para quem visita Cuba: a primeira é ficar num resort, tipicamente em Varadero ou numa das ilhas a que chama Cayos, e neste caso a pessoa deverá estar enquadrada por um regime “tudo incluido” e não terá muito com que se preocupar; a segunda, pouco usada, é ficar num hotel oficial, propriedade do Estado; a terceira é procurar as chamadas “casas particulares”, um sistema em que um cidadão cubano é autorizado a alugar um quarto a um estrangeiro para fins turísticos.

Sinal de Casa Particular
Sinal de Casa Particular

Das duas primeiras opções nada sei e não as poderei abordar. As casas particulares são uma benção. Num país onde o Couchsurfing é ilegal, tornam-se a única forma do viajante obter alojamento de relativo baixo custo (a média para um quarto duplo é de uns 23 EUR) e de contactar com pessoas locais. Estas casas são reconhecíveis pelo dístico azul junto à porta. Se vir um sinal idêntico mas em vermelho, significa que são apenas para cubanos (e teoricamente os cubanos não podem ficar nas de sinal azul). Existem três formas de encontrar uma “casa particular”:

  1. Através de websites de reservas específicos para esta rede de alojamento. Aqui estão alguns exemplos: BB in Viñales; Casa in Cuba; Casa Havana Particular; Cuba Particular; Casa Particular.
  2. Simplesmente chegando a uma cidade, dando uma volta, batendo à porta de alguma que nos pareça bem e perguntando as condições. Creio que dificilmente se ficará na rua. Há mesmo muitas destas casas.
  3. Perguntando às pessoas onde ficamos se conhecem alguém no nosso próprio destino. Geralmente funciona bem, mas é sempre um tiro no escuro. Se confiamos nas pessoas a quem perguntamos não deveremos ter problemas de honestidade no próximo local mas pode não ser talhado para nós.
Um dos três quartos na Casa Blanca
Um dos três quartos na Casa Blanca

Há duas destas casas que recomendo vivamente. Uma em Havana e outra em Trinidad. Em Havana, a Casa Blanca encheu-me as medidas. Escrevi até um artigo de coração a ela dedicado, que poderá ler, aqui, no Próxima Viagem. Se gostou do que leu, poderá ver o perfil da propriedade nos seguintes links: Trip Advisor, Casa Havana Particular, Casa Particular, Casa in Cuba. Se preferir contactar directamente o proprietário, pode escrever-lhe ao Yosvani para [email protected]. Em Trinidad aconselho a Casa Arcangel, onde o pequeno-almoço é uma coisa de sonho. Veja-a aqui, no Trip Advisor e contacte o Miguel Angel neste e-mail: [email protected].

Transportes

Para as viagens entre cidades, existem várias hipóteses. Uma, será usar táxi partilhado. Não é difícil, assim que se aproximar de uma estação de autocarros terá gente a oferecer-lhe este serviço. Não me agrada. São viagens longas, de várias horas, e estes carros vão completamente cheios. Sem espaço, desconfortável e sem qualquer ideia da capacidade do condutor. Ainda por cima o preço nem é muito mais baixo do que usando o autocarro.

Há duas empresas de autocarros em Cuba, uma, é basicamente para locais, e o número de cadeiras disponíveis para estrangeiros é limitada (e muito) e de qualquer modo não têm nenhuma vantagem para além de garantir que se vai manter afastado de turistas. A outra, tem como público-alvo os cubanos no topo da escala social e económica e os turistas e chama-se Via Azul. Os autocarros são relativamente modernos e cómodos e ligam todas as principais cidades e pontos de interesse turístico. Os preços são mais ou menos os de Portugal. No website poderá ver as rotas, horários e preços, que são geralmente respeitados. Convém adquirir os bilhetes com alguma antecedência, no mínimo na véspera. Pode comprar bilhetes para qualquer percurso da empresa em qualquer ponto de venda.

Autocarro da Via Azul em Trinidad
Autocarro da Via Azul em Trinidad

Por fim existem comboios, mas usá-los é sempre uma aventura, tão imprevisível que nem vou dizer nada. Se tiver tempo, uma excelente experiência, só para ter um cheirinho, é apanhar o comboio Hershey de Havana – Casablanca para Matanzas. Se estiver a funcionar na altura. Ah! E a leitura de Slow Train to Guantanamo é “obrigatória”, não só para quem tem interesse por comboios mas para quem vai a Cuba.

Localmente existem imensos meios de transporte. O táxi, claro. Para já vou falar apenas de Havana, a cidade mais complexa e com mais opções. De resto aplica-se quase tudo a cidades menores, onde poderão ser encontrados meios locais, como os carretons, pequenas carroças puxadas por um ou dois pequenos cavalos, e que funcionam como táxi e autocarro em locais como Santa Clara ou Cienfuegos.

Os autocarros em Havana podem ser confusos e irem muito cheios. Mas são virtualmente gratuitos (0,03 Eur ou algo assim) e divertidos para sentir o pulsar local. Mais uma vez é perguntar. Qualquer pessoa o ajudará. As guacuas são camiões adaptados para o transporte de pessoas, como os camiões militares. Parecem atrofiantes mas são uma excelente forma de viajar para locais relativamente próximos, digamos, cerca de 50 km. E são baratos. Há um condutor e um ajudante, que cobra os bilhetes à entrada.

cuba-dia15-08
De dentro de um táxi partilhado

Imagine que está em Havana e precisa de bilhetes de autocarro para a viagem que vai fazer no dia seguinte. Teoricamente, e como lhe dirão os cubanos mais convencionais, precisaria de gastar 10 Eur em táxi de cada vez que fosse à estação da Via Azul. Ou seja, em menos de 24 horas, 30 Eur. No way Jose! Alternativa? Lá conseguimos puxar por eles e é assim… apanha-se um táxi partilhado, a que chamam americanos, e que são sempre carros clássicos, daqueles que temos no imaginário de Cuba, bastante decrépitos. Em vez dos 10 Eur, 0,30 Eur e uma caminhada razoável. Vale a pena e é uma experiência inesquecível. Um tipo vai ali sentado, um cubano muito negrão ao volante, um casal afro nos bancos da frente, um ambiente muito Dirty Dancing… espectáculo. E foi assim que conheci o Yoel, o condutor de táxi mais honesto e gentil do mundo. Se forem a Cuba contactem-no por e-mail para ele estar à vossa espera à chegada do aeroporto. Poupam logo aí uns 10 Eur e entram de imediato na atmosfera. Aqui está o e-mail dele: [email protected]. Garantiu-me que vê o e-mail todos os dias, e de facto respondeu-me na hora quando lhe mandei saudações.

Como regra, o melhor é aconselhar-se com os locais, por exemplo, as pessoas da sua “casa particular”, antes de usar estes transportes. Para saber os preços justos e não ser enganado, e, de resto, as melhores ligações, horários, etc.

Comunicação

É muito fácil falar com os cubanos, até porque adoram comunicar com estrangeiros, mesmo sem qualquer intenção de lucro. Alguns, especialmente em Havana e se forem mais novos, falarão inglês. Mas entre português adaptado a castelhano e castelhano puro e duro, nunca tive problemas para conversar com ninguém. E não falo apenas daquelas interacções mais básicas, do tipo, “quanto custa” ou “onde ficar a estação de autocarros”. Não, conversa mesmo. Conheci mesmo alguns homens que combateram em Angola ao lado do MPLA e que falavam português, desde muito básico até totalmente fluente. Foi o caso do Gregório e do Carlos Rafael.

Segurança

A segurança é uma coisa sempre relativa. Aliás, acredito que não se pode dizer que um sítio é seguro (ou inseguro), apenas se podem medir os riscos comparativos. E assim, só posso dizer que Cuba, mesmo Havana, é infinitamente mais segura do que qualquer cidade portuguesa. O crime violento contra estrangeiros é residual, basicamente inexistente. Claro que há mãos leves, mas isso é algo que pode incomodar mas não mete medo.

Dinheiro

Isto é que é um pouco confuso. Existem duas moedas em circulação em Cuba. Os CUC ou Divisa, usado pelos turistas e aos quais apenas alguns cubanos conseguem ter acesso, e os CUP ou moñeda nacional, de uso corrente pelo cidadão comum. Pode levar algum tempo a dominar o uso destas duas moedas. Ambas podem ser trocadas nas casas de câmbio (ao contrário do que sucedia até há pouco tempo atrás) que em Cuba são conhecidas como CADECA’s e que são uma instituição única gerida pelo Estado. Lá, pode trocar Euros or CUC’s, e depois, esses CUC’s por CUP’s.

cuba-dinheiro

Quando é que vai precisar de uma e de outra? Alojamento é sempre pago em CUC’s e o mesmo se aplica aos bilhetes da Via Azul e aos táxis e comboios. Transportes locais pagam-se em CUP. Nos museus, os locais pagam em CUP e nós pagamos em CUC, o que quer dizer os nossos bilhetes custam 22 vezes mais. Há lojas em CUC’s, outras em CUP’s e, para confundir mais as coisas, algumas aceitam qualquer uma das moedas. Os restaurantes tendem a ser em CUC, mesmo quando deveriam ser em CUP (há sempre um menu com os preços em CUC para cobrar mais ao estrangeiro). Lojinhas locais, mercados, comida de rua e quase tudo o mais é pago em CUC e pago a preços muito baixos. Na verdade vivi duas semanas em Cuba com CUC’s e gastei o equivalente a 35 Eur nesse período de tempo. Outro caso de confusão? A famosa gelataria Coppelia. os porteiros, vendo estrangeiros, vão logo convidá-los para os seguirem. Destino? A sala VIP, o que corresponde a pagamento em CUC e a um gelado diversas vezes mais caro do o que, igualzinho, é servido nas salas normais. É dizer logo que se vai pagar em moñeda nacional e sacodem-nos logo, dizendo “ah então sentem-se por ai onde quiserem”. E a seguir vem um prato cheio de gelado por 0,15 Eur, ou equivalente em CUP’s.

Poderá ser complicado trocar de volta CUP’s à partida por isso não se deixe ficar com demasiado deste dinheiro.

Comer

Para quem vai para um resort, não é preciso dizer mais nada. Quem viajar de forma independente encontrará facilmente restaurantes onde quer que vá. Não experimentei nenhum, mas têm fama de serem fraquitos. Os preços são geralmente aceitáveis, mesmo fazendo-se pagar em CUC’s. Em média uma refeição rondará os 6 ou 7 Eur. A comida de rua é muitíssimo barata mas ao fim de alguns dias torna-se repetitiva. É possível tomar uma refeição completa por cerca de 0,40 Eur:  para prato principal uma pizza pequena (geralmente muito gostosas) ou um prato de esparguete com queijo e molho de tomate… ou uns pequenos pãezinhos com queijo ou omelete; vendem-se churros a preços muito locais que podem servir de sobremesa; para beber há sempre sumos naturais vendidos a preços ridículos.

cuba-dia10-11
Metade dessas bananas acabaram aqui na barriguinha e eram deliciosas

Há poucos supermercados, vários mercados de oferta reduzida. Vai-se comendo. Um cacho de bananas aqui, algo mais acolá… é uma aventura dentro da aventura. Em Havana, na rua Obispo (muito central) existem uma enorme loja em moñeda nacional onde se compra quase tudo por quase nada… sandes, bolos, cerveja, etc.

Vistos, Internet e Outras Coisas

Tirar um visto para Cuba é muito simples e relativamente económico. Basta ir à embaixada de Cuba em Lisboa e levar 22 Eur. Na altura fica-se logo despachado. Na realidade não se trata de um visto colocado no passaporte, mas recebemos um cartão de turista, que devemos apresentar à chegada e depois à saída.

Ter acesso à Internet é ainda um luxo em Cuba. Será surpreendente se o conseguir fazer em alguma casa particular. Alguns hotéis disponibilizam este serviço, mas de forma tão rara que em Trinidad, um dos locais mais turísticos de Cuba, só um hotel oferece wi-fi aos clientes. Quem precisar mesmo terá que ir a uma delegação da empresa estatal de telecomunicações, onde poderá aceder por um preço relativamente elevado (creio que paguei 6 Eur por uma hora) mas com boas condições (computadores modernos, ar condicionado, etc). Vá preparado para prescindir do uso diário de Internet.

As informações incluídas neste artigo partem de uma experiência pessoal e como o mundo em que vivemos evolui constantemente deverá ter isso em conta. Estava actualizadissimo em Dezembro de 2014, e a partir daí as coisas podem ter mudado, especialmente no caso de Cuba.

2 COMENTÁRIOS

  1. Bom dia.. Adorei, li e reli atentamente o artigo sobre Cuba. Já estive lá há cerca de dez anos e o bichinho de querer voltar regressou. Fiquei curioso sobre o taxista que poderá ir ao aeroporto. Será que ainda existe? Poderei tentar contactá-lo? Um abraço e obrigado.. P.s.. Vou dia 20 de Maio

    • Oi Hélder, obrigado pelas motivadoras palavras! Quanto ao meu amigo taxista, tenho recebido feedback de pessoal que contactou com ele, foi e correu tudo bem… é uma questão de lhe escrever. Tente escrever em portuñol ou passar o texto pelo Google Translate 🙂

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui