14Mai-01

Portanto, tinhamos um autocarro, ou pelo menos assim pensava, para apanhar às 8:30. Afinal o tal “autocarro” era na realidade uma carrinha, uma solução de transporte muito em voga nos territórios da ex-URSS (e em outros países, como a Turquia).  Lá vamos, a caminho, na carrinha atafulhada, com um condutor com vocação para guarda prisional. A paisagem não me deslumbra, vejo algumas aldeias passar, ao longe, prudentemente afastadas da auto-estrada. Uma boa parte da viagem decorre nesta via rápida, mas quando isso não acontece, a velocidade é a mesma, pouca diferença faz.

14Mai-02

Há uma pausa numa pequena cidade. Dez minutos. Dá para esticar as pernas, que bem precisam, depois de duas horas ali encafuadas. E ainda há mais pela frente. E pronto, chegamos. O meu amigo tem uma série de tarefas a fazer e depois estará livre para me mostrar a cidade durante o resto do dia. OK… mas eu agora preciso de estar sozinho um bocado. Arranjo uma forma de me desvincular dele por cerca de 45 minutos, combimamos encontrar-mo-nos mais tarde. Primeiras impressões de Hrodno: é uma cidadezinha comum. Hrodno, ao contrário do que sucedeu com Minsk, foi basicamente poupada à devastação da Segunda Guerra Mundial. Há edíficios com alguma história mas de uma forma geral não sinto no ar aquela personalidade transmitida pelas muitas estórias que os prédios possam ter para contar.

14Mai-03

Também há igrejas. E um tanque num “poleiro”, como sucede tantas vezes em cidades desta parte do mundo, supostamente o primeiro tanque soviético a entrar numa Hrodno ocupada pelos alemães. Curiosamente, antes da guerra, Hrodno era parte da Polónia. Aliás, por um par de dias foi a capital da Polónia, quando o Governo se escapou de Varsóvia e procurou aqui abrigo, por pouco tempo. De resto, é uma cidade de peregrinação para bielorussos e polacos. Não sou muito dado a coisas do passado distante, por isso aqui fica o link Wikipedia para esse tipo de informações.

14Mai-04

Mas estou a começar a divagar… de volta ao meu dia em Hrodno, encontrei um centro cultural de aspecto decadente e traços arquitectónicos socialistas, e, logo depois, cheguei ao rio. Muito agradável. Há estudantes que se sentam por ali em bancos, a fazer aquilo que todos os estudantes em volta do mundo fazem nos seus tempos livres. Na margem dispersam-se pescadores. O cenário é estranhamente bucólico, considerando a intromissão de uma moderna e volumosa ponte rodoviária e de inúmeros vestígios de presença humana.

É hora de ir reencontrar o meu amigo. Chego ligeiramente atrasado – não mais do que cinco minutos – e recebo logo um SMS. O Uladzimir tem energia a mais para esperar. E para mal dos meus pecados a cena da véspera repete-se. Lá vamos nós numa cavalgada, que há muito para ver. Aqui e acolá tenho que me impôr um pouco, senão o dia resumir-se-á a ser puxado como um cordeiro. Não me interpretem mal: foi óptimo ter a companhia dele. O seu saber é vasto, a conversa é boa. Mas de facto preferiria que ele tivesse pilhas menos potentes.

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Mostra-me os locais chaves de Hrodno. E só não me mostra mais porque lhe digo para deixar algo para que eu possa descobrir no dia seguinte. Assim, vamos ao “castelo”, onde nos ficamos um pouco. Ele, à conversa com três jovens polacas, eu, a apreciar as vistas. Ali junto há o “castelo” novo, um local de triste memória pela assinatura de um tratado que será ruinoso para a Bielorússia, há uns séculos atrás. Depois vamos à igreja de madeira, a mais antiga do país, que foi semi-destruida por uma derrocada e reconstruida com um novo estilo… agora, é metade de madeira, metade de alvenaria. Visitamos a sinagoga, que actualmente é um museu.

Está quase na hora da despedida. Peço-lhe que me auxilie na compra do bilhete de comboio para Brest. Excelente ideia. Já tenho esse problema resolvido, tudo explicadinho, tudo bem definido. Partirei Quinta-feira ao fim da tarde, devendo chegar a Brest no dia seguinte de manhã. São mais de 12 horas de viagem, para percorrer uma distância que em linha recta será de uns 100 km. Mas por 8 Eur com um compartimento de primeira, não me posso queixar. Aproveitarei para relaxar de bom gosto.

14Mai-09

Sentamo-nos no café da estação que merece ser descrito: tem duas mesas de madeira, redondas, com cadeiras em redor, tampos cobertos por toalhas que lhe dão um aspecto de século passado. Depois há um longo balcão em L, com vitrinas, complementadas por armários montados nas paredes. Ali vende-se tudo o que um viajante poderá precisar. É na realidade um cruzamento entre café, charcutaria, supermercado. É ali que o amigo do Uladzimir nos vai encontrar. Depois de um primeiro momento de timidez, a língua solta-se-lhe e a conversa flui. Estou convencido que se não tivesse asssegurado a minha estadia teria sido convidado lá para casa.

Despedimo-nos com muitos abraços e promessas de nos vermos mais logo para um copo, quando eles me levam à paragem do autocarro que tenho que apanhar para casa dos meus novos anfitriões. Vivem num subúrbio do lado oposto da cidade. Chego lá sem problemas, mas depois não consigo identificar a entrada do prédio certo. Um SMS e logo uma cabeça assoma-se a uma janela e chama em bom som. É ali.

14Mai-11

Eles têm que sair mas deixam-me ficar em casa com o filho mais novo. O “puto”, de uns 9 anos, sem falar uma palavra de inglês, enche-me de mimos. Pergunta-me se quero chá (o pouco checo que sei dá para extrapolar para um pouco de russo), serve-me uma fatia de bolo deliciosa que, segundo sou informado mais tarde, foi ele que fez, sem ajuda. E ainda me bombardeia com chocolates e caramelos. Pelo meio, descanso e ando pela Internet.

Os pais chegam, jantamos juntos e entretanto chega um casal de russos que vêm participar num festival de canção de autor que é organizado precisamente pelos anfitriões.

14Mai-10

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