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Segunda manhã em que acordo em casa do Niko. Também hoje ele me acompanha no trajecto até à cidade. Tem uma longa lista de afazeres, que passam por tratar de papelada e doar sangue. Quanto a mim, apenas uma missão: visitar a famosa ilha de Suomenlinna, que é aliás classificada como Unesco Heritage Site. Mas e o que tem o local de especial? Bom, na realidade, nada mesmo assim de especial, e no fim do dia conclui que se trata de mais uma classificação generosa por parte da Unesco, apesar de me ter divertido imenso. Trata-se de uma ilha fortaleza, com uma longa tradição militar que, de uma certa forma se mantém até aos dias de hoje. A Academia Naval finlandesa encontra-se estabelecida num ilhéu adjacente e existe uma pequena base da marinha. Mas já lá vamos…

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Portanto, apanhámos o comboio para a estação principal e logo ali nos separámos. O local da doação de sangue era mesmo defronte e antes de nos despedirmos o Niko indicou sumariamente o caminho para o terminal de ferry para a ilha. Não seria necessário, claro, que o fiel GPS me mostraria a direcção, mas lá fui andando, devagar, apreciando o dia bonito que estava. E com aquelas cores não queria ir direito a Suomenlinna. Andeu um pouco a explorar, pelo centro da cidade, um centro mais antigo do que o que tinha conhecido na véspera.

A cor do céu estava espectacular, oferecendo um pano de fundo notável a todas as fotografias que tirei. E oh se tirei. Comecei pela estação de caminhos-de-ferro e logo a seguir por uma das praças adjacentes, recheada de exemplares arquitectónicos dignos de observação. Em direção à agua fui caminhando, e vi parques, estatuária, fontes. Vi fachadas coloridas e esplanadas de rua repletas de gente feliz. E acabei por ir ter ao que acredito ser o núcleo histórico da cidade, onde se encontra uma alva catedral no topo de uma escadaria. Em redor, casinhas bem coloridas, que não eram de madeira mas bem o podia ser, com um intenso sabor a Escandinávia.

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Por esta altura era como se os meus pezinhos tivessem ganho vida própria. A ilha era para um lado mas por alguma razão caminhava noutra direcção. Era atraido por um barco-farol agora convertido em café-restaurante, e logo à frente pelo porto onde se avistam veleiros e barcos tradicionais com muitas estórias para contar. E dali, consegui controlar-me e fazer meia-volta. Para a frente parecia que as coisas belas se diluiam, via modernidade e nada que me atraisse. Entao voltei e dirigi-me para o ferry.

Graças ao meu bilhete maravilha, o tal dos 14 Eur válido para 72 horas, foi só entrar e atravessar a extensão de água até à ilha. Talvez uns dez minutos. E então o carácter esquizofrénico do clima de Helsinquia deu um primeiro “olá”. O dia lindo que estava transformou-se e não foi para melhor. Quando cheguei à ilha o céu estava cinzento, e depois de dar uma volta pelos ilhéus para a direita do pontão do barco – que funcionam como uma espécie de aperitivo, albergando a única comunidade civil daquelas ilhas e a tal Academia Naval – a água começou a cair. De tal forma que procurei abrigo no túnel de entrada para a fortaleza, enquanto via turistas correrem a bom correr para apanhar o ferry de regresso à cidade.

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Por fim a chuva abrandou. Resolvi começar a minha exploração pela fortaleza, e logo na primeira paragem, a enorme igreja que servia a guarnição, uma surpresa: dou de caras com a moça sul-coreana que hoje tinha saido mais cedo que nós. Falámos um bocadinho mas era bem claro que tinhamos esta coisa em comum: o gosto de andar sozinhos. E assim ela foi para ali e eu para acolá.

A partir daqui torna-se complicado descrever o rumo da visita. Não vou explicar tudo o que vi na fortaleza (e tudo mesmo terei visto); para isso, para além do artigo da Wikipedia atrás fornecido (e aqui de novo, para facilitar o click) existe o website oficial de Suomenlinna. Foi um dia bem passado, lidando com a inconstância do tempo que por três vezes mudou completamente, de céu limpo e sol brilhante, para um telhado de núvens que eventualmente largavam a sua carga cirurgicamente sobre mim.

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Gostei de tudo. Vou-me recordar dos baluartes com peças de artilharia do início do século XX (isto sou eu a falar, estimativa pessoal), do tanque de água da guarnição, do antigo estaleiro naval que ainda hoje o é apesar de civil, dos mil recantos, da majestosa porta do rei, das casitas de madeira tão coloridas de entre as quais uma é dos cafés mais pictorescos que alguma vez vi, do submarino de fabrico alemão da II Guerra Mundial que agora é um museu, da inesperada praiazinha, da imensidão de tudo aquilo, de tal forma que está sempre prometido um novo cantinho, uma surpresa que nos aguarda. Um local que não dá tréguas às câmaras fotográficas, e, claro, um ponto incontornável de qualquer visita a Helsínquia. Apesar de ter que lidar com a sua bipolaridade o tempo acabou por ser amigo, fornecendo-me uma luz e uns céus espectaculares para a fotografia.

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Quando por fim cheguei à conslusão que tinha visto tudo, estava cansado e lá em cima uma nova saraivada de chuva preparava-se para o ataque. Foi com alívio – e já bastante molhado – que cheguei ao ferry. Quando desembarquei, já o céu se preparava para inverter o ciclo, mostrando-se azul aqui e acolá e bastante carregado noutros pontos. Frio, estava frio, e o meu corpo estava vulnerável depois das horas de exposição ao vento gelado vindo do mar, pelos penhascos de Suomenlinna. Atravessei o centro da cidade com relativa pressa mas ainda deu para apreciar um par de artistas de rua, um tocando música com uma série de garrafas penduradas, enquanto o outro manipulava uma agitada marioneta.

E porquê tanta pressa? Porque neste dia ia mudar de anfitriões. Do simpático solteirão Niko ia passar para a familia de Oskari e Riita  e respectiva filha. Portanto tinha que ir aos subúrbios norte, de comboio, pescar a minha mochila e voltar ao centro para apanhar o metro para os subúrbios leste. Sem novidade, um pouco triste porque o Niko tinha reservado a sauna do condominio para nós e não poderia aceitar esta gentileza.

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O perscurso fez-se sem incidentes. De novo sem pagar nada devido ao meu investimento no tal bilhete-maravilha. Precisei de uma certa ajuda para encontrar o apartamento certo (duas vezes em duas em Helsinquia… há algo com as moradas finlandesas) mas com um par de SMS’s a coisa resolveu-se. Recepção magnífica por parte destes brilhantes anfitriões. Cinco estrelas. Tomei um duche e para além de conversa de circunstância não se passou muito mais. Perguntaram-me o que planeava fazer no dia seguinte… ora eu não tinha planos… tinha pensado em fazer uma viagem de um dia a Porvoo, uma cidadezinha pictoresca a umas dezenas de quilómetros de Helsinquia; com as devidas distâncias, uma espécie de Sintra finlandesa. Mas o custo (11 Eur para cada lado) fizeram-me descartar a ideia. E falámos sobre isto ao serão, ficando combinado que ao pequeno-almoço decidiamos ao que fazer. Era fim-de-semana e a família não tinha obrigações laborais e deixei entender que gostaria de ter a sua companhia. E fez-se hora de dormir.

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