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Depois da borrasca gelada da véspera, pareceu-me que o clima tinha finalmente feito as pazes comigo, porque neste dia em que planeava visitar o Open Air Museum o céu estava azul e mesmo sem um aumento significativo da temperatura as coisas ficaram logo mais sorridentes.

Para chegar ao meu objectivo do dia tinha que apanhar um trolley. Lá fui, para a paragem, esperei um pouco, entrei, paguei à condutora e segui… tudo dentro da normalidade. Passei junto a um hipódramo e vi mais casas daquelas de que tanto gosto, de madeira, com um aspecto muito próprio, que só nos países Bálticos se encontra. Tomei nota mental para ali regressar se surgisse uma oportunidade, o que não veio a acontecer.

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O trolley deixou o centro da cidade para trás, acelarando por uma ampla avenida, que se estende por uma série de quilómetros. E pronto, a paragem Zoo. É aqui. Existem autocarros que vão mesmo até ao museu que quero visitar, mas são mais raros e não é fácil encontrar a paragem, de forma que fui aconselhado a seguir este plano e assim fiz. Da paragem Zoo até ao Open Air Museum será algo entre 1 a 2 km. E faz-se bem, em parte junto à água.

Lá larguei os 6 Eur, a uma senhora anormalmente simpática para os padrões estónios, e entrei. Repsirei fundo, senti o ar frio da manhã, carregado de aromas dos bosques em redor. Ah! Para os que não saibam, deixem-me explicar o que é um Open Air Museum e porque é que estou a usar a designação em inglês. Começando pelo fim, porque não conheço uma tradução adequada. Talvez “Museu Etnográfico ao Ar Livre”, mas mesmo assim receio que não seja bem claro e de qualquer modo é uma frase demasiado grande. Em inglês “Open Air Museum” designa precisamente isto: é um espaço enorme, no campo, uma espécie de parque, onde existem casas tradicionais, por vezes réplicas, por vezes originais deslocadas de outras partes do país, quase sempre com adereços e muitas delas abertas e com actividades interactivas. E é um tipo de museu que aprecio bastante, tentando não perder um.

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O de Tallinn, contudo, terá sido o menos bem conseguido dos que visitei. O primeiro problema prende-se com a gestão de espaço. O terreno em que está instalado é verdadeiramente enorme, e a direcção optou por dispersar as casas de forma acentuada. Consigo imaginar que a intenção seria criar separações invisiveis de forma a transportar o visitante de região para região, de forma simbólica. Mas não se compreende que depois, em algumas áreas, as casas estejam até bastante próximas. O resultado disto é que o visitante tem que andar bastante para percorrer toda a exibição e em boa parte dos percursos não tem nada para ver, sem desprimor para o bonito bosque.

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O segundo problema é a escassez do espólio. É um museu com uma grande área mas sem muita coisa para mostrar. O que tem é interessante, verdade. E está muito bem legendado. Mas quando comparado com outros museus do tipo, o de Tallinn é bastante pobre. O terceiro problema é que apesar de ter pago um bilhete integral, muitas das casas estavam fechadas, o que também não é admissível em termos comparativos. Fora isso, gostei de passear aquele bocado. Achei especialmente interessante o quartel de bombeiros e uma casa, já relativamente moderna, decorada muito bem, com uma recreação perfeita de ambiente. A escola e a loja, que são locais sempre pictorescos em museus deste tipo estão muito fraquitas.

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Regressei ao centro da cidade da mesma forma como tinha vindo, com um episódio a apimentar a viagem. Esta malta não brinca em serviço no que toca a fiscalização de bilhetes nos transportes públicos. Uma equipa de inspectores com uma carrinha verde de vidros foscos manda parar o trolley, que é invadido pelos funcionários, que, na realidade, são polícias municipais. E não têm cara de quem está para brincadeiras, sem falar do arcabouço, todos eles a mandar para os cento e imensos quilos. Passam aquilo a pente fino e,  na ocasião, levam uma miúda para dentro da carrinha… tratar da papelada. O interessante é que os residentes em Tallinn têm direito a usar os transportes públicos gratuitamente.

De seguida abordei o segundo objectivo para o dia, o parque Kadriorg. Comecei pelo que se poderá designar de entrada principal, onde cheguei depois de uma muito agradável caminhada a partir do centro. Ali encontra-se um pavilhão de informação turística que se encontrava encerrado. Por si só é uma atracção, tem um legenda explicativa cuja leitura recomendo. Ali defronte há um lago com um pavilhão central, isolado pela água. Por ali está desde os anos 30, apesar de sucessivas alterações no design.

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Explorei o parque, que é extenso e se desenvolve em retorno do palácio de Kadriorg, outrora residência de reis e nobres e hoje museu de arte. Cheguei à costa, atravessando uma larga avenida, e encontrei o monumento a Rusalka, um navio de guerra russo que naufragou quando navegava em direcção à Finlândia. O monumento é belo, sendo composto por um anjo empunhando a cruz ortodoxa, que aponta em direcão à localização do naufrágio, cujo ponto exacto foi descoberto apenas em 2003, quase cem anos após o sinistro. Ali tornou-se costume os casais russos depositarem flores no dia do seu casamento.

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Junto ao monumento estende-se uma praia de areia branca, ligeiramente acinzentada (onde, já agora, é proibido nadar – bem de acordo com a obsessão estónia pelas proibições e pela vigilância). Um homem encontrava-se sentado, figura solitária no area, pensativo, olhando o mar por detrás do qual se adivinha a costa finlandesa. Mais à frente avistei uma estranha estrutura, que vim a descobrir ser a sala de espectáculos que alberga o festival da canção da Estónia. Pode parecer estranho existir um edíficio, sobretudo com esta imponência, para um “mero” festival da canção, mas a verdade é que na cultura estónia a canção ocupa um lugar de destaque. Este festival tem lugar desde 1869, e reúne literalmente dezenas de milhares de participantes, porque as canções são interpretadas por coros compostos por numerosas vozes. A coisa é de tal forma que os eventos que conduziram à independência da Estónia, entre 1987 e 1991, são designados como a Revolução Cantante (Singing Revolution).

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Voltei ao parque Kadriorg, que atravessei em direcção ao centro e a casa, não sem antes descobrir por mero acaso uns “jardins japoneses” de designação muito liberal, porque claramente lhe falham o ambiente e mesmo algusn elementos considerados essenciais para a caracterização “japonesa”. Por fim, e correndo o risco de ser repetitivo, ainda tive oportunidade de ver mais umas quantas casas de madeira. Com um dia de céu azul foi a última oportunidade de me despedir destas minhas “amigas” de Tallinn.

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