07Mai-01

Finalmente vou sair da Estónia. Não ficam muitas saudades. Tirando um ou outro ponto alto, a memória difuso que perdurará é de um país absurdo, com preços estupidamente altos, um povo hostil, arrogante, cheio de si próprio, e uma cidade artificial, sem personalidade, como uma estrela decadente de face carregada de operações plásticas. Creio que os estónios, enquanto povo, padecem de um problema equivalente ao dos eslovenos: o síndroma de melhor aluno da turma. Mas esquecendo-se que existe um mundo para além da sua pequena turma. É irrelevante que a Estónia seja o mais eficiente e desenvolvido dos três países bálticos.Ao contrário do que gostam de acreditar, isso não faz deles umas super-estrelas. Não, são ainda apenas um pobre país do Leste, uma ex-República Soviética, com uma economia cheia de bons números “para inglês ver” que mais não é que uma bolha artificial da realidade profunda do país. Era bom que compreendessem isso e que nem em sonhos se podem comparar com os finlandeses – o seu eterno sonho, uma espécie de modelo de irmão mais velho. Um pouco de humildade far-lhes-ia bastante bem. Uma nota lateral: acho que a Estónia deve ser o país do mundo com maais câmaras de vigilância. Um sinal daquilo que são os seus habitantes, potenciais fascistas, com as suas atitudes racistas e discriminadoras. Ainda bem que são apenas um pequeno país pobre. Deu para perceber que não gostei lá muito dos estónios como um todo? Óptimo.

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Caminho até à estação de autocarros, ainda são uns 3 km, talvez mais. Chego lá com tanto tempo de avanço sobre a hora de partida do meu transporte para Riga que ainda vou a tempo de visitar o tal cemitério que me tinha fica atravessado há dois dias atrás. Ou pelo menos assim penso, porque, como a oportunidade surgiu de surpresa, não tinha nada preparado e apenas uma vaga noção da direcção do cemitério. Cruzo-me com um jovem estónio de aspecto simpático (também os há) e peço-lhe indicações. Depois de uma hesitação de desconfiança (afinal de contas, não deixa de ser um estónio) que dura uma fração de segundo, recebo informação detalhadas, incluindo mapas servidos pelo smartphone dele. Garante-me que os 50 minutos que tenho disponiveis são mais do que suficientes para visitar o cemitério e regressar a tempo de apanhar o autocarro.

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Acabei por me perder ligeiramente e entrar no cemitério através de uma aberta feita no seu muro de pedra. Foi uma decepção, o cemitério não era especialmente interessante, mal consegui tirar uma foto, não me senti inspirado. Agora que ali estava queria ver o famoso monumento ao soldado soviético, causa de tantos desaguisados entre as comunidades estónia e russa. Depois de tantos confrontos, provocados pelas honrarias e homenagens prestados pelos russos residentes em Tallinn, e que os locais viam como uma afronta, as autoridades decidiram remover a estátua e colocá-la no cemitério militar, aqui, numa posição remota. Fim do problema.

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E agora sim, pronto para partir. O autocarro lá estava, impecável, com internet a bordo e tudo. A viagem para Riga foi pacífica, apenas abalada pelos três alemães com demasiada energia que me rodeavam. Em Riga tinha uma série de horas até ter a ligação para Vilnius. Inicialmente tinha ponderado passar aqui uma noite, mas depois, por uma questão de gestão de tempo, e considerando que já conhecia a cidade (embora apenas por um dia de intensa exploração, quando em Maio de 2010 aqui fiz escala a caminho da Geórgia), decidi simplesmente passear durante as 2 ou 3 horas entre autocarros. Se a experiência de 2010 tinha sido óptima, hoje, em virtude do mau tempo, foi um pequeno martírio. Como boa memória ficam os excelentes bolos que comprei por tuta e meia e que me fizeram excelente companhia na viagem para a Lituânia… até serem comidos.

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O autocarro agora é uma velha lata. Do tipo de autocarro que imagino a ligar uma cidade portuguesa com um subúrbio. E nele vou fazer 300 ou 400 km, cinco horas a bordo. Pelo menos vou desafogado, com espaço, sem má companhia. E pronto, chego mesmo a Vilnius. O tempo está um pouco melhor. Não chove. Em breve estou com o meu velho amigo Martynas, companheiro inseparável dos tempos de Praga, e que vou vendo de tempo a tempo em diversas partes do mundo. Vamos logo beber uns canecos a um tradicional pub de Vilnius, onde nos encontramos com a sua companheira Viktorija. Excelente. Vou passar dois dias em “casa”. Ou seja, onde me sinto em casa, com bons amigos e numa terra que conheço bem. Irei aproveitar para descansar um pouco, não desdenhando de um ou outro passeio pela cidade. O Martynas está (relativamente) desolado porque hoje é o seu primeiro dia de trabalho e ao contrário do que tinha planeado não me poderá acompanhar em explorações e aventuras durante o dia.

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