Livros: Do Travel Writers Go To Hell ?

Capa do livro
Capa do livro

Durante algum tempo Thomas Kohnstamm teve um dos trabalhos mais desejados por viajantes de todo o mundo: escreveu para a Lonely Planet. E este livro é a história da sua primeira tarefa, a revisão do Lonely Planet Guide to Brazil.

Mas deixem-me ir já directo ao assunto: Thomas Kohnstamm é um fanfarrão odioso desprovido de qualquer resquício de ética. Contudo, não hesito em lhe reconhecer alguns méritos. Escreve bem e a leitura da sua prosa é aliciante. E depois, teve a boa ideia de publicar este livro, oferecendo-me uma inestimável arma de arremesso contra um dos meus mais antigos ódios de estimação no universo temático das viagens: os guias de viagem Lonely Planet. Não pretendo abordar aqui os desméritos dessa série, mas quem quem leia este Do Travel Writers Go to Hell? não precisa de chegar ao fim do primeiro capítulo para se ver a braços com uma questão incontornável: que raio de departamento de recursos humanos terá a companhia para oferecer trabalho a um crápula deste calibre?

Talvez seja algo intencional, relacionado com o mercado-alvo da editora (seja como for, no fim, pagaram-no bem caro). É que Thomas Kohnstamm tem o perfil certo para entrar na frequência de onda daquele público jovem, norte-americano, com pretensões a ser muito “cool” por ter saído do país, provavelmente numa rota batida da América Latina, ao longo da qual se embriagou todos os dias  e se meteu na cama com um número escandaloso de membros do sexo oposto. Adicionem-se drogas a contento e algum gamanço sem relevância pelos hosteis das pernoitas. E temos o “backpacker” estereotipado que os EUA exportam para todo o mundo, e que quase todos os outros viajantes se esforçam por evitar. E, contudo, é uma massa de consumidores com uma importância vital no marketing da Lonely Planet.

Permitam-me que descreva agora, sumariamente, o conteúdo do livro. A história inicia-se nos EUA, onde Thomas toma conhecimento da sua contratação. Recebemos umas pinceladas sobre o estilo de vida que leva… deixa ver… alcóol, drogas, pancadaria e “gajas”… e depressa somos transportados até ao Brazil, para onde o autor viaja, dispondo de um tempo e de um orçamento limitado para rever a última edição do guia. As peripécias sucedem-se, girando característicamente em redor de… deixa ver… alcóol, drogas, pancadaria e “gajas”. Trabalho, pouco. Já para a parte final do livro, quando se torna evidente que todos os desvios surripiaram dinheiro e semanas preciosas para a conclusão do trabalho de que ia incumbido, as coisas começam a tornar-se deveras interessantes. É por esta altura que Thomas nos esclarece sobre os métodos tornados padrão pelos autores dos guias. As trafulhices, a informação manipulada, criada ou comprada. Os esquemas e os podres, os arranjos viciados. Está tudo lá. São páginas muito interessantes, que minam completamente o crédito que estas publicações poderiam ainda ter. Quem ler Do Travel Writers Go to Hell? certamente não voltará a olhar com os mesmos olhos para um guia Lonely Planet. Assim como certamente Thomas Kohnstamm não voltará a escrever um.

“The waitress suggests that I come back after she closes down the restaurant, around midnight. We end up having sex in a chair and then on one of the tables in the back corner.

That performance earned a guidebook entry describing the restaurant as “a pleasant surprise” where “the table service is friendly.”