Livros: Expedições Urbanas – Havana

ExpediçoesUrbanas-HavanaEste livro li-o nos últimos dias em Portugal, mesmo antes de partir para uma curta viagem de duas semanas por Cuba. Foi portanto parte do habitual plano de preparação, com esta novidade de ser de facto escrito em português, apesar do sabor tropical – aliás, desta vez muito em consonância – da variante do Brasil.

Pelo que apanhei aqui e acolá, Airton Ortiz já não é um rapaz novo. Vai para os 60 anos de idade, mas não se nota nada. Em viagem é implacável. Meninas do ataque, cambalacheiros, porteiros viciosos. Tudo é boa gente para uma amizade circunstancial, e Airton não se faz de díficil. A prosa é fascinante, nada aborrecida, e o ritmo é estonteante. O livro está dividido em capítulos à laia de guia de viagem. Há títulos como Malecón, Museo de La Cidad, Monumento a Las Victimas do Maine. Quem não saiba pensa que está perante um guia convencional: vais ali, vês isto, toma lá a história do local. Mas não. Ou melhor, não só.

Quando Airton passeia no Prado aborda os factos do local e por momentos assume o papel de guia. Mas logo diverge, fala dos sons de sexo quente que se escapam por detrás de um taipal onde uma turista é penetrada por um cubano negro como a noite que os envolve. É assim Airton. Sempre pronto a temperar a sua narrativa com um toque de erotismo, com um pouco da Cuba proibida, imprópria para familias respeitáveis.

A leitura do indíce do livro fez-me logo arrebitar as orelhas. É que a tal lista aparentemente seca de locais coincidia quase ponto por ponto com as anotações que tinha preparado com o que queria ver em Havana. Querem ver… tenho aqui uma alma gémea de viajante. E ao ler essa afinidade consolidou-se. Não são só os locais que ambos prezamos. É a forma como os abordamos. Com um pouco de loucura, saindo até ao mesmo ponto da nossa área natural de conforto. Tal com eu Airton faz questão de sair dos círculos frequentados por turistas, gosta da conversa de ocasião com as mais inusitadas personalidades. E como se isso não bastasse escreve bem. Diverte. Não se perde uma linha. O leitor – se for como eu – ou está a rir ou está a aprender.

Foi portanto um dos livros de viagem mais engraçados e bem conseguidos que já li. Uma coisa é certa: se um dia escrever um volume sobre uma ou mais das minhas viagens é assim que quero que seja, meio guia, meio repositório de aventuras e impressões de viajante, divertido de ler, página após página, escoando-se num repente que deixa o leitor frustrado. E então!? Já acabou!? Está mal!