Livros: The Most Beautiful Walk in the World

themostbeautifulwalkJohn Baxter é um australiano que vive em Paris há décadas. Lá se casou, lá teve e criou uma filha e lá se tornou escritor. A sua bibliografia é extensa. Escreveu umas quantas biografias de estrelas de Hollywood, livros sobre Paris, sobre “cuisine” francesa. E depois… depois há este The Most Beautiful Walk in the World, que se apresenta com um impreciso “A Pedestrian in Paris” como subtítulo.

O problema deste pequeno livro é na realidade o título (e subtítulo). Induzem em erro. O leitor espera encontrar um roteiro personalizado de Paris com toques literários e afinal encontra algo completamente diferente. Este desencontro, com incontáveis variantes, é encontrado às mãos cheias entre os comentários de críticos de ocasião por essa Internet fora. E têm toda a razão. Aqui o Cruzamundos caiu no mesmo engodo.

Mas o tempo não foi dado por mal-gasto. Uma vez realinhadas agulhas e já convencido que não iria encontrar descrições e conselhos sobre belas passeatas em Paris pude aceitar este volume como que numa redenção, na qual ele se apresentava na sua verdadeira identidade, como uma colecção de artigos onde o autor nos vai contando uma série de episódios da sua vida de parisiense estrangeiro.

Como tal, desaconselho esta leitura ao viajante casual que pretenda preparar uma viagem à capital francesa. Digamos que não é um “Paris para principiantes”. Será um livro mais vocacionado para os entendidos, para os verdadeiros apaixonados da cidade. Mais do que distribuir dicas e conselhos, Baxter dá de mão beijada alguns dos seus segredos, daqueles que explicam a inesperada solidez da relação entre um deslocado e o seu lar adoptivo.  The Most Beautiful Walk in the World é uma colectânea não assumida de textos que resumem a relação de amor entre John Baxter e a cidade de Paris. Uns lêem-se melhor que outros. Alguns divertem, outros informam e ainda há os que fazem pensar. Acima de tudo, são todos bem escritos.

Será conveniente deixar claro que John Baxter provém do meio literário, e isso, claro, nota-se. Os olhos com que vê Paris são os de um apaixonado dos livros, e, como bom anglo-saxónico que é, são olhos focados nos autores que escreveram na sua língua materna.