Há já algum tempo que tinha debaixo de olho uma visita à Bielorrússia. Esteve para acontecer em 2012, mas depois, considerando o custo e a trabalheira para obter um visto, acabei por contornar o país atravessando a Polónia. Mas este ano a história foi diferente: aproveitando a situação excepcional de dispensa de visto por ocasião do Mundial de Ice Hockey passei uns dias por aquelas paragens, começando precisamente por Minsk.

Desembarquei do comboio proveniente de Vilnius com uma enorme expectativa. Estes dois olhos não eram suficientes para cobrir todos os pormenores, para capturar o ambiente daquele local tão inacessível, pelo menos à escala europeia. Andei pelas imediações da estação ferroviária como um insecto tonto, para trás e para a frente, admirando os imponentes edifícios encimados com duas torres no topo das quais podia distinguir  enormes símbolos de uma era extinta: as foices e martelos. A presença policial era avassaladora. Homens de camuflado e polícias com aquele grande chapéu, inconfundivelmente soviético, faziam-me sentir uma espécie de 007 do século XXI, um homem com uma missão neste país onde o KGB ainda é senhor e rei.

Por fim, fiz-me à vida, caminhando até ao hostel reservado para aquela primeira noite na última ditadura do Velho Mundo. Foi um percurso feito de boca aberta, cabeça rodando para um lado e para o outro, como um provinciano descobrindo a sua primeira cidade. As avenidas de Minsk são algo de extraordinário, pela sua vida fervilhante, pela amplitude megalómana das suas faixas de rodagem. O troço clássico inicia-se na Praça da Independência e estende-se durante uns 3 km até ao Monumento da Victória. De tal forma que esteve à beira de ser nomeado Património Mundial da Humanidade pela UNESCO, gorando-se a possibilidade pela construção de uns edifícios que aquele organismo da ONU não apreciou.

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As inscrições e neóns em cirílico sublinham o exotismo dos Lenines espalhados pela cidade, dos ícones de um mundo passado, preservado em Minsk por bastante mais do que os monumentais edifícios de traça socialista, testemunho incontornável de uma União Soviética que aqui ainda vive, quase tão real como nos anos em que a Guerra Fria esteve no seu auge.

Mas Minsk não é apenas um museu do comunismo em tamanho colossal. É também a capital de um povo agradável, despido dos tiques de arrogância e narcisismo dos primos russos. É um deleite ver uma festa de rua, com um grupo folclórico no palco e a multidão, feita de pessoas comuns, a dançar como se não houvesse amanhã. A tensão e o autoritarismo não são para consumo do visitante estrangeiro. Para esse, apenas o que de bom a Bielorússia tem para oferecer. Sorrisos e simplicidade por todo o lado.

Abraçando aquele veio de avenidas que cruza a cidade, uma rede de jardins públicos, dominados pelo parque Gorki, na orla do qual viveu o suposto assassino de John F. Kennedy, o famigerado Lee Harvey Oswald, que algum tempo antes do atentado residiu aqui, num bloco de apartamentos insuspeito. Praticamente do outro lado da rua avista-se uma bucólica casa de madeira, rodeada por uma vedação metálica onde o símbolo comunista se repete dezenas de vezes. É um pequeno museu, que surge naquela selva de betão como uma visão dos bosques, especialmente ao lusco fusco, com a luz amarelada das lâmpadas que vai saindo pelas suas janelas.

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Minsk deverá ser a única cidade que visitei que dispõe de um edíficio clássico para albergar exibições diárias de circo. E isso diz muito sobre a sua essência… não se pode deixar de gostar de uma metrópole que tem um circo em permanência!

Não muito longe dali, no meio dos verdes parques, todos eles pontilhados por uma estatuária formidável, encontramos a Academia Nacional de Ballet e Ópera, o Bolchoi da Bielorrússia. Vale pelo edifício e pelos magníficos jardins que o envolvem, de onde se destacam uma série de esculturas de figuras de arte, verdadeiramente mágicas aos primeiros raios de sol de uma manhã fria de Primavera.

Uma das coisas que recordarei de Minsk é a sua capacidade renovada a cada minuto de surpreender o visitante. Ao dobrar de cada esquina há sempre um novo pormenor, uma nova experiência que aguarda o andarilho. Pode ser um conjunto de painéis de louvor ao comunismo sobre a entrada de uma estação ou um grupo de casas que sobreviveram aos horrores da Segunda Guerra Mundial. Ou um pequeno centro comercial de outros tempos decorado por uma monumental escultura feita de operários e soldados. Pode-se sair do metro e dar-se de caras com o moderno edifício da Biblioteca Nacional no topo do qual se pode tomar um café com vistas privilegiadas. Ou descobrir-se o velho cemitério militar, cujas tombas hospedam os restos mortais de combatentes de inúmeras guerras.

Experimentar os produtos locais à venda nos supermercados é uma fonte inesgotável de experiências gustativas. Há uns pequenos gelados que se desembrulham e se comem como uma barra de chocolate e que custam uma tuta e meia (uns 20 cêntimos), umas bombas calóricas feitas de leite, natas e açucar. E aquele bebida que tem o aspecto de cerveja preta, mas é na verdade um cruzamento entre Coca-Cola e cerveja, tendo pão como ingrediente de base.

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Poderá achar interessante dar uma vista de olhos pelo diário de viagem escrito pelas terras da Bielorússia: Os dias da Bielorússia. No website Comtourist encontrará um interessante artigo sobre os vestígios soviéticos em Minsk.

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