Este local calmo e misterioso pode ser encontrado a norte de Copenhaga, facilmente alcançável através de transportes públicos. É um enorme parque, com a vegetação maioritariamente em estado bruto, mantida durante séculos fiel à sua natureza. São onze quilómetros quadrados, transformados involuntariamente num museu natural: ali verá o visitante como eram as terras da Dinamarca antes de centenas de anos de desflorestação e agricultura intensiva terem transformado as paisagens para sempre.

Para o Jægersborg Dyrehave (o nome em dinamarquês) tudo começou no ano de 1669. Foi nessa altura que o rei Frederik III escolheu o bosque de Boveskov para vedar aqui uma área e manter uma manada de veados no seu interior. No ano seguinte Christian V subiu ao trono e logo mandou ampliar a área deste recém-criado parque real. Stokkerup, a aldeia que existia nos novos terrenos da coutada, foi arrasada e os seus habitantes movidos para outras partes. E vá, que não se queixassem, pois pelo incómodo beneficiaram de uma isenção fiscal durante três anos. O povoado estava localizado na área que hoje se chama de Eremitagesletten. O lago que antes se encontrava no centro da aldeia encontra-se ainda hoje no local, identificado com o nome Stokkerup Kær. O interesse do novo monarca pelo projecto pode ser justificado pelos tempos da sua juventude: criado na corte francesa de Louis XIV, ganhou o gosto pela caçada em grande, com a utilização de cães. E foi para poder manter os seus hábitos de adolescente que ajustou a propriedade dos veados.

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O Parque foi aberto parcialmente ao público em 1756 e desde então tornou-se um refúgio de calmaria para a população da capital dinamarquesa. Como seria de esperar existem diversas entradas, mas os detalhes práticos ficarão para o fim.

Era um dia cinzento de Abril. Se não fosse a minha anfitriã, que nutria uma paixão especial pelo Jægersborg Dyrehave, seria provável que nunca aqui tivesse vindo. E é também por isto que escrevo este artigo, para partilhar com o futuro visitante de Copenhaga uma possibilidade que poderá passar despercebida. A Aase revelou-se uma guia competente. O seu conhecimento sobre o parque e sobre os animais que ali habitam era elevadissimo, e ao longo dos quilómetros que ali palmilhámos nunca faltou conversa.

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No Jægersborg Dyrehave vivem cerca de dois mil veados de três espécies (para mais detalhes ver a página Jaegerborg Deer Park) e fui ouvindo estórias sobre estes animais. Das melhores épocas do ano para os observar, dos riscos que os machos velhos representam para os visitantes, dos ataques ocorridos quando um destes animais, frustrado pela sua decadência, investe sobre desprevenidos humanos. Mas sem razões para preocupações, esclarece logo a Aase. Aconteceu uma meia dúzia de vezes até onde a memória alcança, e com as naturais precauções o risco é nulo.

O parque é bonito. A vegetação fascina, especialmente a nós, europeus do sul, habituados a outras paisagens. No centro vamos encontrar o palacete, ricamente adornado. Passam duas esbeltas cavaleiras, iluminadas por um raio de sol isolado que as destaca de toda a envolvência. Vamos progredindo pelos caminhos existentes, absorvendo a calmaria, escutando o silêncio apenas ameaçado pelos sons da natureza… as copas das altas árvores que se bamboleiam discretamente ao sabor da suave aragem, a passarada que vai pressentindo a Primavera.

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Mas tudo isto, percebemos depois, é apenas o complemento do momento alto, o avistamento dos veados! A Aase explica que neste momento estamos a ver a manada das fémeas que se afastou dos machos para criar os novos elementos que são esperados em breve. A visão é um pouco menos espectacular do que esperava, desvalorizada pela ausência dos animais com as longas hastes, residentes no meu imaginário desde as visualizações consecutivas do filme de animação Bambi (1942). Mas mesmo assim há algo de inexplicável no que se sente quando se avistam animais selvagens no seu habitat natural.

Mais tarde avistámos alguns jovens machos. De novo a nossa guia de ocasião intervém: estes são animais que procuram o seu espaço na comunidade, vivem afastados dos futuros rivais e das “meninas” que nesta altura estão focadas nas crias e não admitem machos por perto. Vão treinando os movimentos de luta que nos anos que se seguirão definirão quem tem direito a garantir a continuidade dos seus genes, hastes reduzidas, ainda em formação.

Foi uma tarde bem-passada. Quando à distância de anos olho para trás, penso numa qualquer viagem que fiz, numa cidade onde estive, há sempre aqueles locais que se se materializam na imaginação com uma nitidez superior. O Parque dos Veados encontra-se neste restricto grupo quando me tento recordar do que foi a minha passagem por Copenhaga.

Se precisar de encontrar alojamento na capital dinamarquesa poderá usar a Rumbo.pt para procurar as opções mais económicas. E para chegar a Copenhaga, se não vier pela Alemanha, por terra, é bem provável que use o aeroporto internacional da capital dinamarquesa, servido por algumas rotas low cost bastante interessantes.  A partir de lá existem ligações fáceis para o centro da cidade.

Quanto à melhor altura do ano, considerando a posição setentrional do país, o melhor mesmo será esperar pelo fim da Primavera ou mesmo pelo Verão.

Para chegar ao Parque dos Veados deverá apanhar o comboio sub-urbano com destino à estação de Klampenborg. Existem também autocarros mas encontrar as carreiras certas será mais complicado. Saido da estação, deverá andar cerca de 400 metros para a sua esquerda (assumindo que veio do centro de Copenhaga) e logo encontrará um dos portões para o parque, que deverá estar aberto 24 horas por dia.

 

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