Mas afinal o que é isto, Symi? É uma ilha na Grécia, integrada no grupo insular do Dodecaneso, a designação correcta para falar daquelas ilhas a Leste, bem pertinho da costa turca. E fica a apenas uns poucos quilómetros de Rhodes, a base natural para uma visita.

Para o turista comum o percurso é evidente: partida de Rhodes no barco manhã, paragem no mosteiro de Panormitis para uma vista de olhos relativamente rápida e chegada ao porto de Symi. Ora este porto é tão ou tão pouco pictoresco que costumava estar selecionado pelo The Rough Guide to the Greek Islands como uma das dez coisas a não perder. Em todas as Ilhas Gregas. Portanto convém chegar logo com os olhos bem abertos, porque a vista que se tem a partir de um ferry que se prepara para atracar é das melhores que poderá conseguir.

O cartão de visita está mesmo ali e são as casinhas de janelas muito coloridas construidas nas escarpas ingremes que rodeiam o porto, ladeado por uma rua repleta de cafés e restaurantes. Para muitos isto será tudo o que verão da ilha. Outros, mais curiosos, entrarão pelas ruazinhas estreitas e começarão a subir, explorando cada recanto. Muitos desses serão premiados com perspectivas diferentes, obtidas a partir de velhas igrejas nas alturas, de rochedos sobranceiros.

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Felizmente a maioria dos estrangeiros fica-se pelo espaço ao nível da água. E vai sendo assim que Ano Symi resiste à devastação da globalização. É assim que temos o privilégio de descobrir um estilo de vida que não terá mudado muito no último século. Encontramos uma loja, à antiga, como aquelas que nas aldeias portuguesas abasteciam os locais de todos os bens que não eram produzidos ali mesmo. Um centro comercial de outros tempos, com as dimensões de um pequeno quarto.

Algumas das casas na encosta estão a ser recuperadas. Há traços do trabalho de pedreiros e outros obreiros. Mas existem também as que para ali estão, sabe-se lá porquê, abandonadas, à espera de melhores dias ou simplesmente de derrocarrem. Do seu interior crescem já árvores e frondosas bougainvilleas. Por elas suspiram jovens casais de estrangeiros, que sonham com um futuro que não será o seu. Os dias chuvosos de Dusseldorf ou de Manchester aguardam-nos. E Symi continuará, pacata, descontraída, bucólica, sabe-se lá até quando…

E há a cor, um festival visual que nos toca a cada momento. As paredes das casas, as flores que desabrocham, até as escadas das habitações. Tudo é adornado de cor, como que para combater o tom pardacento dos matos rasteiros que tentam cobrir o solo rochoso de Symi.

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Subindo-se até ao topo ganha-se o notável privilégio de ver aquilo tudo de cima. Lá em baixo, quase pequenino, um ferry prepara a chegada. Assim, à distância, parece na eminência de colidir com as casinhas coloridas, mas em breve um formigueiro envolve o barco, já acostado. Há um banco, de azul celeste pintado, que oferece descanso a quem provar ter a coragem de até ele chegar.

Symi é isto e não muito mais. No mapa da ilha, que tem cerca de 10 km de comprimento, surgem uma meia dúzia de nomes: Emporios, Xisos, Roukouniotis, Marathounta, Nimos. Mas estes locais não são mais que lugarejos perdidos no mar de rocha nua.

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É portanto na aldeia principal que tudo se passa. Um tudo que não é muito. A oferta hoteleira é reduzida, talvez de forma intencional, mantendo um ambiente de exclusividade que há muito se perdeu em ilhas que se foram popularizando nos circuitos turísticos. E isso explicará a estranha mutação no ambiente que se opera depois da partida do último barco para Rhodes. Antes, aquela rua marginal está relativamente cheia de gente, as esplanadas bem compostas, os restaurantes atarefados. Mas a partir do momento em que se sente a última chamada, Symi transfigura-se, ganha uma atmosfera intimista, os que ficam olham-se com cumplicidade, despachados que estão os turistas de visita rápida.

É a partir dessa altura que as mesas dos cafés junto à água ganham uma magia própria. Sente-se uma tranquilidade que antes não estava nada. É como se o tempo parasse, para só recomeçar a sua marcha inexorável pela manhã seguinte. Os velhotes da aldeia sentam-se a absorver os últimos raios de sol, tagarelam naquela língua melodiosa que é o grego, com gatos atrevidos que lhes passam pelos colos cansados. Alguns pescadores consertam as redes que o necessitam. Os lobos do mar que pernoitam nos seus veleiros descem a terra para beber uma cerveja numa qualquer esplanada.

Depois, o sol vai-se, e resta ao viajante exausto procurar uma taverna para um copo de vinho e umas quaisquer das iguarias que a gastronomia local tem para oferecer. Para uma degustação calma, que a noite não vai para lado algum.

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