Há quem caia de quatro e se perca de amores à primeira vista. É assim o deserto, verdadeiramente especial, único, pela imensidão, pelo silêncio, pela diferença. Foi assim para mim, um sentimento enriquecido pela certeza de que, apesar de se tornar gradualmente mais difícil, ninguém é demasiado velho para continuar a encontrar experiências e emoções novas.

Wadi, é “vale”. E Rum advém provavelmente do aramaico, significando algo como “alto” ou “elevado”. Mas Wadi Rum, habitado por uma tribo beduína chamada Zalabia, é também conhecido como o Vale da Lua.

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Wadi Rum não é um pedaço do deserto como a maioria de nós o imagina. Não, as suas formações rochosas, o solo aqui e acolá pedregoso criam um distanciamento em relação aos mares de areia dourada, à infinidade feita de dunas que podemos encontrar no Oman ou nos Emiratos, enfim, nas verdadeiras Arábias. Mas Wadi Rum oferece uma variedade que não se encontra nas imensidões arenosas. Existe, antes de mais, uma profundidade histórica que, também ela, toca imaginários: pensar que exactamente nestes locais cavalgou Lawrence da Arábia, que aqui foram emboscadas colunas otomanas, nobres beduínos se confrontaram… tudo isso tem um impacto muito próprio. E depois, há os vestígios de um passado ainda mais distante, inscritos na pedra, essa pedra que marca uma região geologicamente fascinante. Aquilo são “canyons”, desfiladeiros, arcos e areias vermelhas. E envolvendo tudo isto, sempre, o silêncio.

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O guia vai destacando os locais de relevância histórica. Aqui, verdade ou mito, terá pernoitado Lawrence… acolá, podem ver-se inscrições registadas na rocha há tempos imemoriais… a seguir….  e como se tudo isto não fosse só por si fascinante, como que numa segunda camada, foi também por estas paragens que em 1962 David Lean terá dirigido as filmagens do seu filme Lawrence da Arabia, produzido numa época em que a realidade não tinha sido ainda substituída pelos efeitos de computador. Aos locais por onde o verdadeiro Lawrence andou, juntam-se os pontos de interesse relacionados com a rodagem da fita. “Aqui, estava o acampamento, onde os actores e a equipa técnica dormia e tomava as refeições…”.

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A Jordânia tem em Petra a menina de olhos do seu turismo, mas Wadi Rum vem logo a seguir. É contudo eternecedor ver a sábia abordagem que os jordanos fizeram a esta bendita chegada de viajantes. Podiam ter abastardado a natureza do local, mas encontraram soluções que permitem salvaguardar a natureza e a cultura local, enquanto é dado acesso aos turistas a este mundo misterioso.

Ao contrário do que sucede em Petra, o visitante paga um valor simbólico para aceder às maravilhas de Wadi Rum; e, também ao contrário de Petra, as verbas geradas pela bilheteira revertem quase por inteiro para as famílias locais. Mas não há muito que o viajante possa fazer sem a ajuda de um guia e dos meios que apenas os locais podem disponibilizar. Assim, desenvolvem-se saudáveis negócios de família, que se mantém nas mãos de uma mão cheia de clãs. E a vida continua, na aldeia de Wadi Rum.

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As opções são imensas. Das mais suaves, que passam por um dia em grande a ver o deserto de dentro de um confortável 4×4 com ar condicionado e a melhor suspensão que a tecnologia pode oferecer, até uma semana a pé com pausas para escaladas ousadas e acampamentos com o que se conseguir trazer. Pelo meio fica tudo o resto: as combinações, entre camelos e meios motorizados, as noites passadas nos confortáveis acampamentos de deserto, enquanto um mar de estrelas, lá em cima, zelam pelo visitante. Há escolhas de estilo para o gosto e bolsa de todos e sobre a minha experiência – que não poderia ter sido mais positiva – seguir-se-á, em breve, um artigo específico.

Em determinados pontos existem tendas onde o viajante pode descansar um pouco, comprar uma pequena recordação às gentes locais que ali vendem saquinhos de chá e outros produtos que vão produzindo, e beber algo fresco. Até neste ponto particular os habitantes compreenderam como respeitar o ambiente, e assim quem por ali passa não tem nunca aquele mau sabor de boca de cair de pára-quedas numa loja de souvenirs baratos. As tendas são genuínas, a pressão comercial é reduzida, os vendedores são locais que não fazem nada mais nem nada menos para serem algo diferente.

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Para se chegar a Wadi Rum convém ter-se um carro às ordens. É possível arranjar-se uma solução de improviso. É sempre possível. Mas torna as coisas mais complicadas. Apesar de no mapa a deslocação a partir de Amman parecer ser um belo esticão, a viagem faz-se bem, e pode-se madrugar de forma a estar em Wadi Rum à hora em que os passeios se iniciam. A estrada é excelente e, a espaços, extremamente cénica.

Algumas páginas com informação adicional sobre Wadi Rum:

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2 COMENTÁRIOS

  1. Ola,

    Tive conhecimento do teu blog pelo forum geo.
    Eu sou uma pessoa que adorava poder viajar mas tenho vários entraves, um deles dinheiro, outro é como irei eu contactar com as pessoas, irei perder-me quando la chegar? e quase um medo do desconhecido.
    Ja li o teu post que fala sobre o nao saber falar com as pessoas!
    Como conseguiste dar o primeiro passo para andares pelo mundo?
    Fazes em viagem com aviao, estadia, etc ou de mochila às costas?
    Desculpa tanta pergunta, mas o meu sonho é poder viajar e conhecer o mundo e sinceramente ainda nao descobri como o fazer 🙂

    • Olá Andreia,

      Eu sai do país pela primeira vez aos 39 anos. Nunca é tarde para se começar. Antes disso, não só não me sentia impelido a viajar como achava que existiam formas mais interessantes de gastar o meu dinheiro. Também é verdade que há 15 ou 20 anos era muito mais complicado viajar de forma realmente económica. O meu primeiro passo foi simples porque fui com a minha namorada na altura, que era viajada e portanto não precisei de me preocupar com nada… foi só ir.

      Como deves imaginar pelos meus artigos, não faço turismo convencional. É, como dizes, de “mochila às costas”. Não sou dos viajantes mais improvisados e aventureiros, mas certamente não sou convencional. Ao contrário de outros companheiros destas andanças, eu gosto de planear e estudar a viagem, mas não me preocupo com as boas e más surpresas que vierem. Podes ler também o meu blog Papaleguas, que é mais pessoal, é mais um diário de viagem, onde escrevo sobretudo para mim próprio, para que não me esqueca do que vivi: http://papaleguas.wordpress.com

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