31 de Março – Lugano, Milão

O fim dos dias da Suiça. O plano é apanhar um comboio ao final da manhã. É Sábado. A Chiara não trabalha, mas vais ter visitas, por isso tem que nos ver pelas costas relativamente cedo. Mas não há pressas, podemos acordar nas calmas, juntar os tarecos, tomar o pequeno-almoço, conversar. A caminho da estação há ainda tempo para um pequeno desvio. Ela quer-nos mostrar um local que oferece das melhores vistas de Lugano, que é afinal onde vivia antes de se mudar para a casa à beira do lago. Foi uma excelente ideia e a melhor forma de nos despedirmos daquelas paragens. O panorama é encantador e penso que naqueles apartamentos ali ao lado não se vive nada mal.

O “timing” foi perfeito. Chegámos à estação uns quarenta minutos antes da partida. Tempo para comprar os bilhetes descontraidamente e esperar um pouco. A bordo do comboio vai um grupo de jovens americanos, com aquele tom de voz irritante que os caracteriza, que ecoa por todo o lado, como se fosse imperativo que todos os passageiros sejam colocados a par do que quer que seja que estejam a debater.

Pronto, chegámos a Milão. Só me apetece passar o resto do dia numa esplanada, a ler, sem fazer nada. É sem dúvida um daqueles dias de descompressão, que se sucedem a um lote cheio de caminhadas. Por falar nisso…. há ainda que perfazer os quilómetros até casa. Onde andará o Andreas? Ooops… responde-nos ao SMS. Vai ter com uns amigos no centro e só estará em casa por volta das sete. Pressinto uma seca. É verdade que não há pressa, que não precisamos de ir a lado algum, mas gostava de largar a mochila em casa e relaxar um pouco antes de sair para onde que que fosse. Não vai acontecer. A tarde exala uma atmosfera especial. É fim-de-semana, há menos trânsito, as pessoas passeiam despreocupadamente. A maioria dos estabelecimentos comerciais, mesmo os cafés, estão encerrados. Vamos caminhando muito devagar, aproveitando para matar desde logo algum tempo. Levo na mente uma ideia fixa: GELADO! Quero comer um gelado. Muito. Mas uma dúvida atroz subsiste: será que a gelataria estará aberta?

Sim, está! Alivio. A frustração de a ver encerrada seria enorme. Vou finalmente saborear o famoso gelado italiano. Não é muito caro: por 3,5 Eur tenho um copo com quatro sabores. Escolho pistachio, maçã verde, yogurte e flor de nata. Que delícia. Divinal. Maravilhoso. Inacreditável. É o melhor gelado que já experimentei na vida, destronando o do café Louvre, em Praga. Vamo-nos deitar na relva do parque em frente, saboreando aquele manjar dos deuses. Mas o local não é o melhor. Por toda a cidade o cheiro de fezes caninas é omnipresente, e aquele pedaço parece ser especialmente apreciado pelos amigos de quatro patas. Acabamos os gelados, e mudamo-nos para um outro parque, muito maior, que existe ali nas imediações.

Ainda faltam uma série de horas para podermos regressar a casa. Ficamos a ler e a observar a vida que palpita por ali: no relvado outras pessoas disfrutam do Sábado. O tempo não está brilhante, com algum vento e algumas nuvens que mantêm o sol encoberto tempo de mais, mas isso não é impedimento para os milaneses. Um homem experimenta um helicóptero telecomandado com um bando de putos que o perseguem em animada algazarra, retornando-o ao adulto a cada queda. Outros jogam à bola. Apresto-me para tirar uma soneca quando chega uma mensagem: surgiu uma emergência e o Andreas tem de ir à sua terra natal. Pede-nos para irmos para casa o mais rapidamente possível.

Chegamos antes dele. O seu companheiro de apartamento tinha acabado de acordar e abre-nos a porta. Pouco depois aparece o Andreas, que faz a malinha num ápice e despede-se de nós. O resto do dia não traz novidades. Ficamos em casa, na conversa possível com o Leo, cujo inglês não é brilhante. Ao serão ele sai, e ficamos por nossa conta.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui