Depois da correria das duas primeiras jornadas, chegámos ao terceiro e último dia cheios de vontade de acalmar. O Jeff, não sei se por achar melhor deixar-nos um pouco a sós ou por ele próprio querer o seu próprio espaço, anunciou logo que ficaria em casa “a tratar de umas coisas”. Entretanto, na véspera, já a chegar a noite, senti-a chegar: uma gripe, que veio em crescendo, felizmente esperando pela chegada a Portugal para se estabelecer em força, mas mesmo assim já causando algum mal-estar nestas últimas horas em Malta.

 

 

Decidimos reservar esta derradeira parte da segunda expedição a Malta para revisitar locais. Palmihar com calma aquelas ruas de Rabat e chegar até à paragem de autocarros foi o primeiro regresso ao passado. Decididamente esta pequena cidade seria o meu local de eleição se um dia viesse a viver em Malta. As ruas, tão características, tão cheias de pequenos detalhes.  A vida humana, tão fervilhante, tão cheia de adivinhadas interacções sociais. E, por fim, chegar aos autocarros, que merecem hoje uma especial homenagem: foi provavelmente a última vez que os vi. Ao fim de décadas de serviço fiel todos eles serão recolhidos em Julho, substituidos por modernas unidades. Os malteses dividem-se. Uns estão demasiado afeiçoados a estas maquinetas “infernais”, enquanto outros aspiram pela modernidade que desejam para o seu país, e, mais pragmáticos, querem levar menos tempo nos percursos e fazê-lo de forma mais confortável. Claro que para nós e para todos os visitante que ao longo de anos e anos se deslocaram à ilha será um rude golpe. Os velhos autocarros tornaram-se um símbolo de um local muito especial, do qual uma das principais magias era a sua capacidade de ter parado no tempo sem contudo ter deixado de evoluir.

 



 

Foi assim com um sentimento especial que entrámos no “amarelinho” que nos levaria a La Valletta para daí fazermos escala para Melliha onde iniciariamos o passeio até Fort Campbell. Antes porém, uma paragem no complexo turístico abandonado, e que sei agora que nos seus tempos se chamou “White Rocks”. Com a gripe a começar a apertar, foi com alegria que descobri que a paragem de autocarro é mesmo em frente ao acesso a este mundo fantasma, criado para alojar famílias de militares britânicos logo após a 2ª Guerra Mundial, e mais tarde convertido numa espécie de colónia de férias. Hoje está completamente ao abandono, ficando as histórias do antigamente entregues à imaginação do visitante. Mas existe um projecto para requalificar toda aquela área, que em breve se tornará num moderno centro de estágios desportivo, com valências em diversas modalidades.

 

 

O passeio pelo forte Campbell tem uma vantagem enorme: a diversidade. Primeiro, a paisagem, que se vai avistando desde que deixamos para trás a paragem de autocarro, logo após a rotunda à entrada de Melliha; depois, o palácio de Selmun; sensivelmente a meio do passeio, encontramos o Forte; de seguida, a descida até ao mar, onde se pode apreciar com toda a calma as águas do Mediterrâneo; por fim a parte final, com a baía de Mistra do nosso lado direito. Sobre o palácio e sobre o forte já falei aquando da primeira visita. Aliás, toda a passeata é uma duplicação do que foi feito em Setembro de 2009. A novidade é a cor da água. Naquele dia, há dois anos, o mar estava revolto, fruto de uma tempestade que durante a noite tinha assolado estas paragens. Mas hoje era outra coisa, com o toque cristalino que deixa ver o fundo, apesar dos vários metros de profundidade. E como toque final no quadro paradisiaco, um veleiro que paira sobre as águas, placidamente. Uma das imagens mais marcantes das viagens a Malta.

 


 

Regressámos a casa, até porque hoje era dia de preparmos o jantar, que seria um guisado de favas. Nada de sobremesas que o nosso amigo está de dieta. Encontrámos, com indicações do Jeff, o primeiro supermercado “decente” em Malta, surpreendentemente recheado de produtos com rótulo Carrefour. Gostei do espaço. É uma pena ser afastado das minhas zonas habituais e quase certamente da área onde viverei se um dia decidir mudar-me para Malta. Mas tomei nota. Até porque tem uma paragem de autocarro mesmo à porta.

O jantar correu bem, e implicou conversa até bem tarde, com aquela atmosfera que se forma no último dia de uma visita, com as personagens a sentirem a pressão de utilizar até ao fim o momento, de adiantar conversa que só será posta em dia sabe-se lá quando.

 

 

O dia seguinte, com um vôo a sair depois da hora do almoço, pouco mais serviu do que para as despedidas finais e para uma viagem para o aeroporto, com a costumeira escala em La Valletta. Já com algum stress ainda consegui tempo para descer até ao porto, que ainda não tinha visitado. Não dei o tempo por mal empregue. A zona tem o seu charme. Mas o pior foi o suor, a correria, com a dona gripe já bem consolidada e a retirar-me energia, pelas rampas até à cidade antiga, para chegar à rotunda dos autocarros mesmo a tempo para uma última corrida que permitiu entrar no que já começava a rolar.

 

1 COMENTÁRIO

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui