Marrakesh, 23 de Janeiro de 2015

Este foi aquele dia, que os costuma haver em viagem, em que se acorda para a realidade. Está a acabar, queimam-se os últimos cartuchos, o regresso está à vista. Há uma desacelaração, o tempo ganha outra dimensão, deixa de ser para se preencher com tudo e mais alguma coisa, torna-se relaxado, simplesmente está ali para passar.

Acordámos um pouco mais cedo para o pequeno-almoço à Georges. A mesa estava cheia. Acho que estavam lá os hóspedes quase todos, os ingleses já conhecidos, um casal jovem de nacionalidade incerta e os dois casais que ou eram polacos ou eram checos e pareciam múmias mudas. Comemos, não estava mau mas não pareceu tão como na véspera,  talvez pela inexistência de um factor surpresa. E depois fomos dar uma volta, aproveitar os últimos instantes por aqui. O autocarro era às 11:40, queriamos lá chegar às 11:15 ou algo assim.

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Não havia tempo para grandes passeios. Fomos às muralhas e ao porto de pesca, tendo que passar nas ruas principais da medina. Foi uma espécie de adeus. As muralhas estavam quase desertas e a maré baixa não dava espaço ao mar para grandes demonstrações de força. Os primeiros artistas a chegar tomavam posições, preparando as exposições e preparando-se para mais um dia de trabalho.

Depois foi a vez do porto, ali perto. Foi uma boa opção. Tivemos direito a alguns pormenores interessantes do trabalho daquelas gentes. Havia actividade. Reparações de redes, andanças. Alguma venda de peixe. Um grupo de turistas ouvia as explicações de um dotado guia que explicava de forma apelativa as técnicas de pesca locais.

Para regressar ao hotel onde recolheriamos as mochilas passámos à boca da ruela onde tinhamos descoberto a igreja portuguesa e o consulado. Desta vez, sem o artesão, tirei uma boa fotografia. Ver abaixo, com o que resta da fachada da igreja ao fundo:

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Seguiram-se as despedidas, a compra de uns bolitos para a viagem, a pequena caminhada para a estação da SupraTours. Tudo sem novidade. Assim como foi o percurso para Marrakesh. A paisagem não tinha cativado à vinda, e à volta não me foquei tanto no exterior. Apenas uma ou outra vez, como quando passámos junto a uma imensão prisão, e pensei na miséria que devia estar encerrada por detrás daquelas paredes. Certamente um local onde não quereria estar, uma aproximação ao inferno na Terra.

Chegámos a Marrakesh. Estava um bonito dia, com um céu azul forte e apenas algumas núvens. Deu para apreciar pela última vez a estação de comboios e o Teatro Royal, e, de improviso, ainda procurámos o Bairro Espanhol, que tinha lido ser o único local da cidade com isenção da obrigatoriedade cromática. Mas não encontrámos, apesar de termos estado no local indicado no mapa. Apenas vimos um velho cinema, que aparecia referenciado no guia como sendo parte deste bairro.

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Mas desde há algum tempo que a minha ideia estava mesmo fixa era nos batidos de banana e tâmara. Caminhámos os 4 km até ao centro e fomos direitos à banca do costume… ia dizendo na brincadeira que agora chegariamos lá e estava fechado. Pronto, já se vê, foi isso mesmo que sucedeu. Ainda pensámos que poderia ser uma pausa para a oração, fomos dar uma pequena volta, mas passados quinze minutos os taipais metálicos continuavam corridos.

Tinhamos topado um outro vendedor e fomos até lá. O desespero. E não foi mau. Um tudo nada mais caro, igualmente bons. Bebi um e outro, e mais tarde outro. Agora sim, a caminho do riade para esta última noite. Com os elementos marcados no GPS chegámos lá sem problemas, mas foi uma decepção. O quarto era frio, o ar condicionado mal aquecia, cheirava um pouco a esgoto, a tomada estava pendurada da parede… e mais uma série de pequenos detalhes negativos. Que se dane. Era apenas uma noite.

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Descansámos. Não seria possível visitar o museu que queria durante esta estadia. A viagem alongou-se, já era tarde e no dia seguinte também seria basicamente acordar e arrancar para o aeroporto, com apenas uma incursão a um último batido (e sim, no dia seguinte estavam abertos e foi possível fechar com essa chave de ouro). Portanto ficámos simplesmente a relaxar.  Estivemos um pouco no terraço mas nem isso correu bem: a boa vista para o Atlas estava encoberta com núvens que tapavam totalmente a visão das montanhas. Conhecemos duas viajantes coreanas com que conversámos um bom bocado, conseguimos um cobertor extra do vigilante de serviço. E fomos dar a última volta pela grande praça. Foi uma questão de lá chegar, girar um pouco, beber um chá de cardamomo, e regressar. Para todos os efeitos estava encerrada esta semana em Marrocos.

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1 COMENTÁRIO

  1. Boas, descobri este teu site através do fórum Dvdmania e que bela surpresa foi =)
    Acabei de ler todos os teus relatos pelos 7 dias que passaste por Marrocos, literalmente viajamos contigo, ultimamente despertou-me um grande interesse por Marrocos, sem dúvida um dos locais que anseio muito visitar.
    Continuação de boas viagens e de um excelente trabalho aqui pelo teu blog 😉
    Cumprimentos da Ilha da Madeira
    Abraço

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