Não há grande tempo para despedidas. Para o Amir é o regresso a uma vida profissional avassaladora. Diz-me que em média deve receber umas cem chamadas por dia. O fim-de-semana de preguiça foi bom mas acabou. Agora tomamos um pequeno almoço apressado, feito de rolinhos de pão que ela nos prepara enquanto pegamos nas coisas para sair. Pouco mas delicioso… dá-me um com tahini docinho, depois um com queijo e de novo o doce. “Sinto-me como a vossa mãezinha”, diz ela ternamente.

A ideia era seguir com ele até ao escritório, porque queria trocar dinheiro e junto ao escritório há uma boa casa de câmbios. Mas como o que queria fazer de manhã, antes de apanhar o autocarro para Kashan era visitar o museu militar e a ponte da Liberdade (acho que é este o nome) e como estávamos a passar ali mesmo perto, adaptámos o plano, e fiquei logo por ali.

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A ponte é…. uma ponte. A classificação dada pelos utilizadores do Trip Advisor que a consideram uma das coisas mais interessantes para fazer em Teerão, diz muito sobre os atractivos gerais desta cidade. Como disse, é apenas uma ponte, com um design um pouco diferente, mas cujo interesse sinceramente me escapa. Atravessei-a em busca do Museu da Santa Guerra, dedicado ao conflito de oito anos com o Iraque que teve lugar entre 1980 e 1988.

Encontro-o facilmente depois de atravessar um parque. É um complexo monumental, tão novo que na realidade ainda está em conclusão. Cá fora uma colecção de material de guerra poderá entreter quem não desejar pagar os cerca de 5 Eur que custa o bilhete.

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O dia está quente, e vou suando contra a mochila enquanto vejo aqueles T-72 e Chieftains, aqueles aviões e peças de artilharia. Do outro lado de um vale ajardinado e com um imenso lago que ainda está em conclusão, há uma cúpula que conterá um “Panorama” dedicado a uma das batalhas mais sangrentas desta guerra. No topo, perto de uma das possíveis saídas, uma mesquita.

Hesito um pouco sobre visitar o interior do museu mas acabo por entrar e pagar o bilhete. O pessoal do museu é super simpático – à data que escrevo estas linhas, os únicos iranianos verdadeiramente agradáveis, fora os meus anfitriões – e deixo-me submergir pela informação e pelos efeitos especiais do museu.

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O edíficio é megalómano, os espaços são de uma vastidão que impressiona. O balanço é positivo. É um museu moderno, claro, mas sinto que abusaram dos efeitos especiais e foram comedidos na inclusão de verdadeiro sumo. Numa cidade tão desprovida de pontos de interesse é uma visita obrigatória para quem quer que tenha interesse nesta temática.

A primeira sala (na realidade, uma série de enormes espaços a que eles chamam de “hall”) é dedicada aos mártires, ou seja, aos que tombaram no cumprimento do dever. Depois há o resto do museu, que não vou descrever exaustivamente, mas que, como disse, assenta em multimedia e efeitos especiais.

A visita levou-me mais tempo do que tinha antecipado e estou um pouco atrasado em relação ao plano. Sem problemas, o metro é mesmo ali ao lado e usar o metro em Teerão é simples. Todas as indicações encontram-se também em inglês e as máquinas de venda de bilhetes oferecem este idioma de forma opcional. Não sei porquê decidi comprar directamente na bilheteira e ver o que acontecia… não sucedeu nada de especial… pedi um bilhete, ela perguntou-me se era “one way” e pronto… nem sei quando paguei mas foi muito pouco. Tipo, 0,20 Eur.

O resto foi igualmente simples, na entrada de cada plataforma há um painel indicando sem margem de dúvidas que estações se encontram naquela direcção. Confirmo a minha, “South Terminal” e sigo. Considerando a população de Teerão e a simplicidade da rede de metro receava de alguma forma encontrar vagões apinhados, mas quando desmboquei na plataforma estava um metro prestes a fechar as portas e ia basicamente vazio; quer dizer, os lugares sentados estavam quase todos tomados mas o espaço de pé era todo para mim.

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Uns 40 minutos depois – natural porque era basicamente na outra ponta da linha – cheguei ao destino. Agora encontrar a estação de autocarros. Príncipio básico nestas situações: seguir quem transportar malas grandes. O primeiro alvo escolhido desiludiu-me. Uma primeira hesitação demonstrou-me que sabia tanto para onde ir como eu. Acabei por dar sozinho com a entrada para o enorme terminal. É uma estrutura circular, e em redor encontram-se os escritórios das empresas que providenciam serviços. O Amir disse-me “escritório 17”. Só tem um problema: não existe. O último é precisamente o 16 e depois é o 1.

No meio de um caos enorme, um homem apregoa “Kashan”. Salto para o autocarro que começa a movimentar-se. E pronto, quase a caminho. A saída de Teerão é uma operação com alguma complexidade. Apanham-se passageiros em diversos pontos e há rearranjos de lugares por causa das senhoras. Fora de questão sentarem-se ao lado de um homem desconhecido. O bilhete foi 3,35 Eur e a viagem dura duas horas e meia.

A Fateme manda o marido, Mustafa, esperar por mim. Ele liga-me, diz para passar o telefone ao pessoal do autocarro para lhe explicar onde me devem injectar. E pronto, em menos de nada estou com o meu anfitrião.

No resto do dia fico em casa, até porque se localiza nos subúrbios, a uns 6 km do centro. É o dia de anos dela, aparece um sobrinho que traz um bolo. Oferecem-me um jantar composto por pratos característicos da região e ligação à Internet. São horas de relaxe, cada um na sua vidinha, silêncios entrecortados por breves conversas.

Eles trabalham em turismo, são guias por conta própria, portanto temos bastante em comum, e, por outro lado, são uma fonte de informação de qualidade. Passam-me um mapa da cidade, indicam-me as suas recomendações pessoais.

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