Este 4 de Novembro foi um dia de mudança. De Esfahan para Shiraz. Dormi mal de novo, sono perturbado pela congestão nasal, acordei cedo, muito antes do despertador tocar. Para esta última noite os pais do Ahmad ligaram o aquecimento central, e apesar de passar mal a noite, pelo menos ronronei como um gatinho enroscado em redor da unidade colocada na parede, mesmo ao lado da cama.

Deixei-me estar no bem-bom durante um bocado. Levantei-me. Logo a Sanasz apareceu anunciando solenemente que o pequeno-almoço estava pronto. Comi com gosto uma pilhaça de uma delícia que descreverei como ovos mexidos mal passados com um molho de tomate feito na hora. A meio da refeição levantei-me para me despedir com um aperto de mão sentido do pai do Ahmad. Não faltou o sumo de ananás, o yogurte salgado e, para fechar a conta, o chá bem quente.

A senhora já tomava conta do neto, não a incomodei, retirei-me silenciosamente para o quarto. Sentei-me à secretária, ocioso, esperando a passagem do tempo. Passado um pouco, bateram à porta… a mãe que traz uma talhada gigante de melancia, que agradeço, sem saber bem como vou enfiar tanta fruta no meu corpo. Ainda estou a massajar o estômago, quando bate à porta novamente, desta vez com uma travessa com chá. Último dia, estou a ser tratado com todos os mimos. Passado um pouco, regressa com um saquinho… para a viagem… é rebuçado adoçante que eles usam para colocar no chá. Antes de sair ainda me oferece a toalha, que tinha pedido à chegada por ter perdido a minha.

shiraz-01-02

Entretanto chega a hora de sair. Como combinado, dou um toque para o telemóvel da Sanasz, que está no “quarto de trabalho” com “cliente”. Não sei o que faz, mas quando a vejo surgir de luvas de plástico e máscara imagino que seja esteticista. Telefona para o táxi, a meu pedido solicita que paremos numa farmácia para comprar gotas para o nariz.

Logo depois, ainda me despeço, ouço apitar. Desco as escadas a correr, abro a porta e lá está o meu transporte para a central de autocarros. O condutor, um jovem de expressão simpática e aspecto moderno, pára em frente a uma farmácia, faz-me sinal para me deixar estar e corre a comprar-me o medicamento. Revela-se inútil, não faz nenhum efeito, mas custou 0,25 Eur e foi uma situação simpática.

Atravessamos a cidade toda (como verei mas tarde, em vão, porque de facto o autocarro parou na estação bem mais perto de casa, quase uma hora depois de ter partido), pago o serviço, deixo algum dinheiro a mais.

Ia com muita margem de tempo, entro no terminal, logo o funcionário das informações pergunta, à distância, por detrás do seu balcão, o que pode fazer por mim… mostro-lhe o bilhete, indica-me o sector onde me devo dirigir. Lá me sentei aguardando serenamente cerca de uma hora. Assim de repente este é o melhor terminal de autocarros que conheço… indicações claras, todas as estruturas… fraldário, lojas de todos os géneros, barbeiros, sala de oração, casas de banho (imensas).

A viagem de autocarro não tem grande história. Cerca de seis horas em trânsito, por uma auto-estrada que cruza o deserto, basicamente sem nada entre Isfahan e Shiraz. De lá vi o sol decair e as cores tornarem-se douradas antes de chegar a escuridão. Pela janela passaram os caravensaray abandonados, paredes decadentes, tornados obsoletos pelos modernos transportes. Vi as montanhas no horizonte, omnipresentes, e os velhos camiões Mercedes que se cruzavam na direcção oposta. Algumas aldeolas e uma cidadezinha onde aliás parámos durante cerca de meia-hora para descanso e abastecimentos.

shiraz-01-03

Em Shiraz, como prometido, alguém enviado pelo hostel aguardava, o meu nome escrito num papel exposto, de pernas para o ar, aos passageiros que saiam pela porta da frente…quando lhe bati no ombro, vindo da porta de trás, surpreendeu-se, antes da conversa circunstancial e da caminhada até ao carro.

Gostei logo do hostel. No dorm conheci uma belga que me disse que uma das camas estava ocupada por outro português. Afinal era o Pedro Castro, com quem tinha trocado diversas mensagens no Facebook por causa de questões relacionadas com o Irão. Mundo pequeno.

A turma do dorm foi jantar ao restaurante do hostel. Naquele serão éramos seis. Eu, o Pedro, o Tobias – alemão, um tipo holandês que partiu logo depois da refeição, a belga e o Luis, um argentino com que liguei bastante bem. A comida era excelente, um guisado de encher pança que custou menos de 4 Eur.
O serão passou-se à conversa, entre as camas-mesa do páteo do hostel e o dorm.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui