As imagens deste dia perderam-se. Não sei como. Por isso fica apenas uma fotografia do grupo de amigos de Shiraz no pequeno-almoço.

Tinhamos feitos imensos planos para este dia. O Tobias ia sair mais cedo para visitar a mesquita dos vitrais, e depois a ideia era encontrarmo-nos nuns jardins que dizem ser os mais formosos da cidade (e também os mais dispendiosos, geridos pela universidade local, que aplica aos estrangeiros valores draconianos), ir ao café do terraço do topo de um famoso hotel, e, no que me dizia respeito, investigar o metro local e os autocarros que teoricamente partem para a estação de comboios, não muito longe daqueles locais.

Mas as coisas nem sempre correm como pensamos. Depois de um despertar feliz, durante o pequeno-almoço tomado com o Pedro o céu começou a encobrir. E decididamente não estou a pensar em gastar bom dinheiro num bilhete para uns jardins ensombrados por um tecto de núvens cinzentas.

Telefonamos ao Tobias para lhe dizer que estamos fora do plano. Não pareceu importar-se. Está num picnic com umas miúdas iranianas que hão-de o manter entretido até bem tarde nesse dia. Só o vimos à hora da deita.

Eu e o Pedro decidimos ir à grande mesquita de Sexta-feira – denominação dada à mesquita em que em cada cidade a comunidade se reúne para a comemoração religiosa mais importante da semana, equivalente, de certa forma, à missa de Domingo. Apenas se dá numa das mesquitas da cidade, a de Sexta-feira. Uma espécie de Igreja Matriz.

O Pedro ficou fascinado com as orações e ouvi falar tanto do mausoléu que lá se encontra que também quero ir. Afinal, por mais que aqui no Irão goste de ronha, não vou ficar a descansar o dia todo.

À entrada, segurança máxima. Os cidadãos comuns são revistados sumariamente, todos eles, assim como num aeroporto quando o detector de metais apita. Mas nós, porque somos estrangeiros, temos uma conversa mais prolongada com um simpático segurança que chama um guia internacional. Se os estrangeiros tiverem uma câmara fotográfica a sério fica fora de questão andarem a deambular sozinhos. Se não a tiverem… talvez.

Passados os minutos chegou o nosso guia. O Pedro desmarcou-se logo. Que não tinha câmara absolutamente nenhuma e só queria assistir em paz à oração. E assim foi. Ficou logo ali, sentado no tapete, e eu segui para a visita guiada – gratuita – com o simpático rapaz atribuído para esta missão.

Na sua presença pude fotografar quase tudo. Só mesmo a sala do mausoléu é sagrada, apesar do pessoal da segurança fazer vista grossa se forem recolhidas imagens com telemóveis e pequenas compactas.

Todo o complexo da mesquita é impressionante, sendo um “must” de Shiraz, até pela originalidade de ser dos poucos locais que se podem visitar sem pagar… dos poucos ou o único. Fez-me lembrar a grande mesquita de Damasco, mas neste dia o ambiente era mais impressionante ainda pela acorrência de fiéis. Disseram-me que estavam presentes 20.000 pessoas, um número que sinceramente achei exagerado.

Depois da visita fui convidado pelo guia para a sala do departamento de relações internacionais. Lá me sentei, foi-me oferecida uma agradável bebida refrescante à base de menta, um caramelo… e fiquei ali sem saber o que fazer, porque parecia que se não me mexesse seria deixado na minha cadeira até à eternidade. Lá disse… “Well… tá na altura de ir, se calhar”. O guia lembrou-se que eu existia e foi como se retomasse algo que nunca tinha suspendido… disse-me que se eu prometesse manter a câmara na mochila, me deixava sair do gabinete e divagar livremente pelo complexo. Concerteza! Combinado!

E assim andei por ali, muito devagar, a absorver o ambiente simultaneamente majestoso e festivo. Dirigi-me para a zona da reza com a esperança vaga de encontrar o Pedro. Mas deixei-me simplesmente estar a observar. Logo acabou. Milhares de homens começaram a deixar o local e a verdade é que passado um bocado vi o Pedro a acenar lá no meio deles.

Voltámos juntos para o hostel, basicamente para mais uma sessão monumental de preguiça. O tempo não melhorava, pelo contrário, o céu cada vez estava mais cinzento.

Chegou a uma altura em que me fartei de não fazer nada. Já a tarde ia avançada. Desafiei o Pedro para irmos procurar um café de que tinha lido boas referências. Não era longe, antes de chegar ao rio, nos quarteirões opostos ao castelo.

Fomos andando e apesar de cinzenta a tarde estava agradável. Era Sexta-feira, como o nosso Domingo, e as ruas estava muito mais tranquilas. Foi bom refazer parcialmente o percurso que na véspera me tinha levado à agência de viagens, agora com um clima mais fresco e propício a caminhadas.

Vi de novo os murais, desta feita sem carros a ocultarem alguns dos seus segmentos, e chegámos ao local onde deveria estar o café. Havia algo que talvez pudesse ser mas os taipais metálicos estavam meio puxados para baixo e parecia estar fechado. Atravessei a rua para perguntar num hotel. Sim, era o café, mas sim, estava fechado. Pronto OK, o passeio estava a ser bom, já não se perdia tudo.

Regressámos reparando na existência de diversos hotéis e cafés para ocidentais naquela área. Depois começámos a subir uma das avenidas usualmente movimentadas de Shiraz para que naquele dia estava mesmo no ponto, com menos trânsito, menos confusão, mas mesmo assim um número agradável de pessoas na rua e de lojas abertas.

Um par de soldados convida-me para os fotografar. Reparamos que há por ali muitos cinemas. Bebemos um batido de banana. Mas chega a um ponto em que decidimos voltar para trás. Que raiva! Reparei no dia seguinte que mais à frente se encontravam os melhores murais que vi no Irão, mas por essa altura ia dentro do autocarro para partir e neste dia falhei-os por uma questão de metros.

O Pedro não conhecia a área do castelo. Levei-o até lá, sentámo-nos um pouco a apreciar o ambiente. Muitos habitantes locais usufruem daquele espaço, que tem um carácter social. Andámos um pouco mais, hesitámos em entrar para os banhos, que são actualmente um museu. Voltámos para trás. Agora só faltava comprar qualquer coisa para comer mais tarde, antes de dormir. Uns biscoitos, por exemplo. Mas estava tudo fechado.

Já ao cair do pano avistei o que procurava. Entrámos na loja e o velhote que nos atendeu era tão simpático e honesto que o Pedro, que nem estava a pensar em comprar nada, não resistiu a ajudar o negócio do cidadão. Por estranho que pareça o senhor falava até algum inglês!

Serão no hostel. Jantei de novo por lá. Pudera… com jantares a menos de 4 Eur não há como resistir, escuso de passar fome e vou para a caminha com o estômago aconchegado. Adormeci muito cedo, nem dei pelo regresso do Tobias.

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