Esta história tem uma história por detrás. Estava em Tatvan, no Curdistão turco, e a ideia era seguir de comboio, numa viagem de 16 horas, até Ankara. Só porque gosto de comboios. Sucede que quando fui à estação na véspera, o senhor da bilheteira disse que o sistema informático estava em baixo e não podia emitir o bilhete. Só havia uma solução: apresentar-me lá no dia seguinte, duas horas antes do comboio. Ou seja, às cinco da manhã. Tudo bem, acordar às 4 e caminhar os 3 km até à estação.

A coisa fez-se, mas ao lá chegar, estava tudo fechado. Obrigadinho, senhor. Andei um pouco para trás e para a frente, sentei-me lá na escadaria do átrio a pensar na vida. E nisto vejo um segurança a dirigir-se para mim. Lá pensei que ia ter chatices, mas afinal, por gestos, explicou-me que estava a convidar para ir para a sala de segurança para não estar ali ao frio.

Fui. Sentei-me na camita enquanto ele se sentava à secretária. Ia operando as câmaras de vigilância, com expressão profissional. Era um acto de show-off mas reconheço que o sistema me impressionou. Aquilo cobria todos os ângulos, no interior, no exterior e nas proximidades da estação. O zoom era impressionante. Qualquer pessoa que se movimentasse ali por perto poderia ser observada.

Terminada a sessão com as câmaras, abriu um cacifo onde se alinhavam umas dez G-3, ou seja, espingardas automáticas, e mais uma série de material de guerra: carregadores, caixas de munições, coletes anti-bala, equipamento de comunicações. E pôs-se a verificar aquilo, desta vez por obrigação – quem andou nestas vidas sabe como é. O turno estava a acaba e era preciso fazer o relatório para passar o serviço.

O mais fenomenal é que nos entretantos íamos conversando. Mas como? Se eu não falo turco e o tipo era só o que falava? Com o Google Translate que tinha no tablet! Foi mesmo. Conversámos sobre o trabalho dele e sobre as armas, ficou agradado de saber que eu já tinha “trabalhado” com aquele modelo e com o meu passado militar. E sobre os comboios e tudo isso. Por fim, lá nas suas câmaras, deve ter visto o homem da bilheteira chegar e disse-me que já podia ir, que a bilheteira já estava  aberta. Que raio de experiência inesperada!

Post Script: acabei por ficar apeado. O sistema informático continuava em baixo, os gajos do comboio não me deixaram embarcar sem bilhete mesmo depois de uma acalorada discussão com o chefe da estação. Aquele na imagem de topo. Goodbye comboiozinho.

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