Dia de trânsito. Sair de casa do Danny, caminhar até ao metro, sair em Monument, caminhar até à estação de autocarros. Até aqui, uma hora gasta. O autocarro que me levará até Manchester já se encontra no local. Lidar com um condutor mal humorado e sentar-me à espera. A viagem dura quatro horas e meia, um exagero para um percurso que em linha recta é de 180 km. E como não se pode dizer que a Inglaterra seja um país montanhoso e de obstáculos naturais de complicada transposição, a razão de tão prolongada viagem tinham que se encontradas de outra forma: as voltas e voltinhas, passando por cidades que de uma forma mais linear teriam sido deixadas de lado, e as paragens algo prolongadas em cada uma das estações.

Uma vez em Manchester tive umas horas para explorar a cidade, mais agradável do que esperado. Entretanto a fome começava a apertar, mas tinha as libras contadas, e prolonguei o sofrimento até ao último momento: foi já com o bilhete de comboio para o aeroporto (3,50 Libras) que entrei numa loja à beira da estação de Piccadilly e me surpreendi agradavelmente com os preços. Com o dinheiro que ainda tinha, comprei duas sandes e um pacote de yogurte, e ainda guardei umas quantas moedas para posterior ocasião.

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Cheguei a Amesterdão. É uma viagem que se faz num sopro, parece uma Faro-Lisboa. Mal tive tempo de ler um bocado e já estava com ordem de aprontar para aterragem. É pouco mais de uma hora. O aeroporto de Schipol é um mundo, de tal forma que consta em alguns guias de viagem como uma atracção por si. Considerando a complexidade das instalações foi com espantosa facilidade que rapidamente sai para o ar livre, mesmo em frente das paragens dos autocarros, e que avistei o número que o Marco me tinha indicado. Foi questão de dar uma corridinha e num instante tinha pago os 4 Euros do bilhete e estava em movimento. Aquilo ia cheio, e à frente, poltrão, um polícia ocupava dois assentos, de perna aberta, ao melhor estilo de pintas lusitano. Foi algo que me caiu mesmo mal. Um rapaz novo, envergando uma farda que devia honrar com atitude distinta, a dar logo ali uma lição de como os holandeses podem ser nada cívicos. Felizmente passadas duas paragens o autocarro deteve-se e saiu meio mundo, inclusive o polícia sem princípios.

Quando cheguei ao centro, à última paragem, era eu, duas miúdas americanas (e porque não inglesas, já que falam a mesma língua? Simples, porque apenas as miúdas americanas falam como se quisessem partilhar o último telefonema do gajo a quem se andam a afiambrar com o resto do mundo) e um casal de velhotes. As miúdas quase que ficaram logo ali, que, de forma muito esperta, o autocarro pára junto a uma pista de bicicletas e motociclos, e assim que puseram um pé lá fora as americanas iam sendo passadas a ferro por uma scooter desembestada. Mais um sinal de “civismo”, para que os leitores portugueses reflictam, uma vez mais, se o que se passa no seu país é assim tão mau.

Fui andando em direcção a casa do Marco, bem ciente de que estava quase uma hora adiantado. Passei em frente a um dos famosos “cofee shops” (para os poucos que não saibam, estas lojas tem muito pouco a ver com a venda de café; tratam-se de locais onde se comercializam e consomem drogas leves, tudo dentro da legalidade) e vendo que estava ali mesmo uma boa TV a passar futebol, nem pensei duas vezes. Entrei. Ia ficando pedrado só com a atmosfera, mas aguentei-me e pedi uma cerveja. Cerveja não vendem. Ok, então um sumo de laranja. De laranja não há. E eu já a afinar, pergunto então o que é que há de sumos, e lá me sentei com uma garrafinha de néctar de ananás. Ainda mal tinha posto as nalgas nas almofadas do sofá e saltaram-me os olhos da cara: os lampiões do Benfica estavam a sovar o PSV Eindhoven por 3-0. Ironia. Parece que de cada vez que viajo, se há um embate entre equipas portuguesas com as desse país, as coisas não correm bem para os estrangeiros. Lembro-me de chegar a Sofia no dia a seguir ao FC Porto ter goleado uma equipa búlgara e o Sporting ter ganho de forma mais modesta a outro clube do mesmo país. E agora isto. No fim, ganhou-se por 4-1 e sai de lá com um grande sorriso, quem sabe acentuado pelos vapores de haxixe que andavam pelo ar.

Depois, foi percorrer a curta distância que ainda me separava de casa do  Marco, que já me esperava, e instalar-me. Um pouco de vinho, muita conversa, um duche e caminha, com os gatos, que gostam de receber visitas.

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