Não dormi muito e acordei relativamente cedo. Nestes dias que correm ando a necessitar de dormir pouco. Há vários dias que são seis horas por dia, sem problemas e com o corpo a despertar por sua alta recriação. O Marco saiu comigo. Andámos horas a fio, devemos ter percorrido uns 15 km, considerando que estivemos fora umas sete horas, apesar de algumas paragens intercalares.

O passeio iniciou-se por entre canais, os famosos canais de Amesterdão, cidade construida sobre terrenos conquistados ao mar, que o Marco tão bem conhece: é que ele é piloto das embarcações que conduzem os turistas por esta rede de cursos de água, e sabe tudo sobre a sua história e funcionamento. Como se poderia imaginar os cenários são pitorescos, apesar de tudo se tornar algo repetitivo ao fim de algum tempo. As casas que se erguem junto à água são antigas, remontando muitas vezes ao século XVII. Algumas foram-se, substituidas por edíficios modernos, vítimas de tudo e mais alguma coisa, como por exemplo pelo apodrecimento das precárias estruturas de madeira que as sustentavam. Por isso, têm-se gradualmente substituido essas bases por modernas fundações de betão e aço, que se vão implantando através de complexas técnicas de engenharia, que passam pelo esvaziamento do piso térreo e pela sustentação do restante edíficio enquanto se escava o necessário para se dotar o prédio com um suporte mais sólido.




Já me tinham avisado e é bem verdade: em Amesterdão é preciso ter muito cuidado com as bicicletas, que aparecem a qualquer momento, vindas de qualquer direcção. E a velocidade incrível. Eu que já andava baralhado de em Inglaterra andar a controlar o trânsito vindo da direcção que consideramos errada, cheguei a Amesterdão e temi ganhar rapidamente um torcicólo. Mas há que reconhecer que aquelas bicicletas são um mimo. Há-as de todos os tipos e côres, adornadas até aos limites da imaginação e equipadas com os mais rebuscados acessórios. E são tantas! Milhares, milhões! Em trânsito e estacionadas.

Deliciei-me com os reflexos das casas e das árvores nas águas dos canais. A Primavera está a chegar, apesar de oficialmente se ter iniciado há mais de duas semanas. A nudez dos ramos é já substituída por uma folhagem muito viçosa e colorida, e o dia foi pleno de sol. Para o resto da semana espera-se mais do mesmo, e até um aumento de temperatura. Mais um milagre a juntar aos outros que já experimentei no decorrer desta jornada.

Parámos num supermercado para comprar abastecimentos. Gastei 5 Eur e trouxe meio pão, um pacote de queijo fatiado, um pacote pequeno de leite, um yogurte líquido e um pacote de waffles holandeses. Nada mau. Fiquei com comida para dia e meio. E assim que saimos fomo-nos instalar numa laje exposta ao sol, à beira de um dos canais. Deliciei-me com uma sandocas de queijo, bem entalado entre duas fatias de saboroso pão escuro e com o leite para empurrar.




Passei os olhos por um número indeterminado de atracções de Amesterdão, mas nem sei bem quais. Algumas, o Marco citou, e posso afirmar que passámos pela Estação Central e pelo Red Light District, que é como quem diz, pela zona das “putas”. Subimos até ao espectacular terraço do Museu de Tecnologia, chamado de Nemu. Passámos pelas ruas mais atarefadas da cidade, já a aprontarem-se para o fim-de-semana de loucura como são todos aqui, e especialmente agora, com a chegada do bom tempo e os vôos de Inglaterra ao preço da uva mijona.

Vi o edíficio que normalmente hospeda o Museu Marítimo, que será provavelmente o segundo melhor do mundo na sua categoria, a seguir ao de Greenwhich. E digo “normalmente” porque há já alguns anos que este museu se encontra encerrado, para renovação. Deverá reabrir este ano. É pena. Não costumo visitar museus mas tinha grande interesse neste, até porque em tempos, quando estive no Departamento de Investigação do Museu de Marinha, travei amizade com uma colega do Scheepvaartmuseum.

Depois de uma passagem breve pelo “Red Light District” parámos numa das cinco cervejarias de Amesterdão que produz a sua própria cerveja. Não é barata. Paguei 2,25 Eur por um copo de 0,33l. Mas a experiência valeu a pena. O ambiente é claramente revivalista, com uma decoração a remontar aos anos setenta e as paredes forradas com capas de discos dessa década. E não é por acaso que os nomes das 7 ou 8 variedades de cerveja ali produzidas são de artistas holandeses da época:  Johnny, Willi, Jordan, Nelis, André.

Foi com curiosidade que avistei os primeiros barcos-casa, que mais tarde, quando sai para a volta do serão, tornei a ver, já com iluminação no interior e sinais mais claros de ocupação humana.

Pelo meio das andanças comfirmei o carácter cosmopolita da cidade, que já na véspera tinha pressentido. Por todos os lados se podem ver cafés, bem simpáticos, alguns com esplanadas bem arranjadas que se estendem pela rua. E todos eles bem ataviados de gente. Depois do jantar o Marco foi encontrar um amigo e eu sai com ele, para um passeiozinho nocturno. Passei em frente a uma zona de grande animação, com muita juventude por ali, de volta de uns copos. Quando regressei, duas horas depois, o ambiente tinha evoluido para uma histeria alcóolica generalizada, que me fez passar pelo meio daquilo tudo com uma pressa súbita.

E o serão foi passado a pôr a escrita em dia, a escolher e processar fotografias, a arrumar bagagens. O Marco chegou, apenas para sair logo depois, para um encontro combinado em cima da altura com outra amiga.

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